quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Meio tonto por causa do vinho, para diante da adaga plantada no centro da sala. Brilha feroz presa ao suporte que ele mandou preparar exclusivamente para o dia de hoje. Suporte e altar. A lâmina afiada, tesa, esperando apenas que a mão se mova decidida. Parece, na verdade, clamar pelas mãos do samurai que há séculos renunciou à luta. “Minamoto No Tametomo apoiou-se no pilar de madeira e tocou a ponta da espada contra seu ventre, no ponto sagrado, três dedos abaixo do umbigo — seu hara, lar sagrado da alma.” Arrepia-se ao se lembrar dessa passagem que leu por acaso num almanaque.

Geraldo Lima

(Trecho do conto Adaga, do meu livro BAQUE)

Nenhum comentário: