Meio tonto por causa do vinho, para diante da adaga plantada
no centro da sala. Brilha feroz presa ao suporte que ele mandou preparar
exclusivamente para o dia de hoje. Suporte e altar. A lâmina afiada, tesa,
esperando apenas que a mão se mova decidida. Parece, na verdade, clamar pelas
mãos do samurai que há séculos renunciou à luta. “Minamoto No Tametomo
apoiou-se no pilar de madeira e tocou a ponta da espada contra seu ventre, no
ponto sagrado, três dedos abaixo do umbigo — seu hara, lar sagrado da alma.”
Arrepia-se ao se lembrar dessa passagem que leu por acaso num almanaque.
Geraldo Lima
(Trecho do conto Adaga, do meu livro BAQUE)
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