quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Algo a respirar nas casas naufragadas

Algo a respirar nas casas naufragadas
Amar...

É respirar em casas naufragadas

É virar, subitamente, raro anfíbio

É ser peixe estrela do mar arraia

É uma canção de afundar navios


É romance brutal de Almodóvar

Filmado em cenário de T. Mallick

É ser uma libélula acima do lodo

Âmbar antigo cravado nos ossos


E o amor é este visitante indócil

A revirar alma, móveis interiores

Corte rascante _ que ao cicatrizar _

Deixa eternos traços de Pollock


Alegoria cicatrizada, pura loucura

A loucura, a loucura, a loucura...

Que persigo como um cão ferido

E já sei a curvatura do calcanhar


O amor é todo não/dor que atiras

Lava meu rosto em lágrimas de cal

Grão de angústia, ária de flechas

É sermos um único ser, qual o mito


Atados pela cervical _ eu quero ir

E tu queres ir e, atados, eu não te

Levo comigo e tu me paralisas _

Há que vir um deus antigo, saído


De _ O Banquete _ de Platão

Cortar o que ata minha coluna

_ que me sustenta ferreamente _

À coluna tua a desorientar passos


Depois de livres, continuar atados

Não mais de costas um ao outro

E ao amor... Mas, frente a frente,

Boca a boca, luz a luz, a caminhar


Entre destroços de um navio soul

Ouvindo canções em ritmo lerdo

Corpos colados em ritmo violento

Para recuperar o tempo, enganar


O tempo, apagar o tempo, amar

Enquanto é tempo, amar enquanto

Há tempo

Bárbara Lia se aventura pelo romance, contos e poesia. Nascida em Assaí, vive em Curitiba.


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