quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

INDO PARA CASA (NUMA ESTRADA RUMO A LHASA)


A vida dá muitas voltas

E numa dessas se depara

Com a morte pela antiga estrada

Por onde ninguém mais passa.


Entre pedras, sombras, folhas soltas,

Lentamente o vulto se declara:

é a irmã mais nova do nada,

uma golem, um estado de graça.


"Lutos fazem minha escolta.

Nenhum corpo aqui me ampara.

O ódio é minha espada.

Sou de uma superior raça".


Sem argumentos nem rotas

A vida finge que chora e para:

E narra um conto de fadas

Enquanto a paisagem se embaça.


"Desde eras priscas e ignotas",

Sussurra a Morte, cara a cara,

"você sabia disso, camarada.

Por que não abandona sua farsa?"


"Você é uma canção sem notas",

Diz a vida. "O amor é coisa rara.

O sol em sua cara nunca arda.

Estou indo para Lhasa".


A morte a seu caminho volta,

Infeliz, pois nunca amara.

E a vida segue, não fala nada.

Sabe que mesmo a morte passa.


Rodrigo Garcia Lopes é poeta, compositor e tradutor. Este poema está no livro Estúdio Realidade (2013). Em 2014 a Record lança seu romance policial O Trovador. Vive em Londrina.

Fonte : Gazeta do Povo.G idéias.14/12/2013

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