A vida dá muitas voltas
E numa dessas se depara
Com a morte pela antiga estrada
Por onde ninguém mais passa.
Entre pedras, sombras, folhas soltas,
Lentamente o vulto se declara:
é a irmã mais nova do nada,
uma golem, um estado de graça.
"Lutos fazem minha escolta.
Nenhum corpo aqui me ampara.
O ódio é minha espada.
Sou de uma superior raça".
Sem argumentos nem rotas
A vida finge que chora e para:
E narra um conto de fadas
Enquanto a paisagem se embaça.
"Desde eras priscas e ignotas",
Sussurra a Morte, cara a cara,
"você sabia disso, camarada.
Por que não abandona sua farsa?"
"Você é uma canção sem notas",
Diz a vida. "O amor é coisa rara.
O sol em sua cara nunca arda.
Estou indo para Lhasa".
A morte a seu caminho volta,
Infeliz, pois nunca amara.
E a vida segue, não fala nada.
Sabe que mesmo a morte passa.
Rodrigo Garcia Lopes é poeta, compositor e tradutor. Este
poema está no livro Estúdio Realidade (2013). Em 2014 a Record lança seu
romance policial O Trovador. Vive em Londrina.
Fonte : Gazeta do Povo.G idéias.14/12/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário