de Mara Paulina Arruda
A mãe pegou a chaleira, a cuia de chimarrão e gritou: Oh
Bento vem buscar o teu presente! Bento todo cheio de limo veio que veio se
desdobrando em dois. Era o seu aniversário. Abriu o presente com a boca nas
orelhas. Comeu uma fatia de bolo, duas... alguns docinhos... até ficar saciado.
Vestiu o presente e contou que tava contrariada com um beltrano que lhe encheu
de lixo e então por causa disso fez uma coisa importante, (pelo menos pra ele)
que disse pra nós: Num dia eu roubei uma frase desse beltrano ai. Se ele viu
não disse nada, nem tium. Nem olhou; nada. E continuou nadando nas suas
palavras, tomado pela literatura, completamente nos braços de letras dela. A
frase seguiu na companhia de outras sendo minha sem ser; bem vinda às vezes e,
em outras, não. Toda vez que vejo esse beltrano fico rubro em pensar que dele
roubei três de sua lavra. Mas também bem feito pra ele que fica fazendo com a
lua os teretetes. A mãe que era exigente disse: Não acredito! Foi naquele dia
quando a lua ainda estava alta? Mas a gente só ouvia os passarinhos, o galo
cantando, os cachorros acuando... Eu não ensinei isso pra você! Juntou a
chaleira, a cuia de chimarrão, olhou para o Bento que ficara xururú, batendo no
peito, se contorcendo nos lados e disse: Bento junte a sujeira que você fez!
Ele respondeu: xá comigo! Levantou-se, pegou a vassoura, varreu tudo, calçou os
sapatos devagarzinho e saiu assobiando. Pegou carona com o primeiro carro que
passou por ali, dizendo pro motorista: na minha casa deu problema. O motorista
disse: fique frio! As famílias são assim. Eu também já roubei um complexo
léxico. Não é o fim do mundo. Isso acontece. Bento ficou então pensando com os
seus botões: nessa vida só se vê gatuno!
O motorista fechou o álbum. Guardou as fotografias de Bento
no limo da vida. Pensou um pouco e na boléia do seu caminhão seguiu.
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