Há algo de intransferível no poeta.
Ao homem comum não custa muito mudar os hábitos, mudar de
mulher, mudar de casa, trocar de carro, de corte de cabelo, de loção.
O poeta não pode mudar seus hábitos.
Segue Universo sem fragmento.
Não pode cortar nada, amputar-se, diluir.
Os homens comuns levam uma vida assim:
Terno, família, futebol, financiamento, férias.
O poeta leva uma vida distinta, plena de diálogos
interiores:
- A flor amarela cresceu um pouco mais e segue agarrada ao
muro.
- Há dois dias não ouço aquele pássaro que lembra Gardel.
- Morro de pena dos anjos, pois sei que eles nunca dormem.
- Voltei a pensar em Chopin noite e dia e em sua dor de
tísico em Nohant... Na dor de perder a amada: aquela mulher-areia - Sand.
Aquela que lhe concedeu uma filha emprestada e paraísos de orvalho. Os homens
fogem do amor, e com razão... Quem decifra estes corações com asas? E apenas as
mulheres com asas nas artérias seguem inesquecíveis... Chopin que o diga.
Em dias de dor insuportável o poeta pensa: - Ah! Quem dera
uma vida morna, um terno lindo, reuniões plenas de gráficos e cafezinhos.
Mal seca as lagrimas, continua assim:
Casa de areia com vista para Aldebaran.
Bárbara Lia - janeiro/2014
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