quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

FIM DO MUNDO

Claudio Daniel

À memória de Jakob van Hoddis

Loba ensandecida rumina vermes de escuro escárnio.
Alguém-ninguém atravessa a rua
e em todos os cantos
ouvem-se gritos
feito guinchos
de um porco amarelo.
Cai um aguaceiro
na cidade esquálida
e os bairros alagados atingem as estrelas.
Banqueiros obesos caem do telhado
e se despedaçam.
Numa placa de rua,
lemos: cuidado.
Quase todos têm secreções nasais;
os ônibus correm nas avenidas
a toda velocidade,
entram nos viadutos
e se chocam contra as paredes.

Todas as palavras não são mais que uma superfície de cacos de vidro
à entrada de uma cidade maldita.


2014

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