As palavras que não repousam,
textos esparsos que ressoam sem cessar
transbordados pra cá.
sozinho debaixo do guarda-chuva
atravessando a rua
o onibus chegava
eu escorreguei, eu lembro. Cai sentado no chão
e você me deu a mão
me deu um sorriso
perguntou se machucou
e sorri de leve, encabulado.
Eu pedi seu telefone para te levar pra sair
você não podia.
Fazia frio.
Um grupo de poetas jogava folhas mimeografadas pra cima
dentro do terminal
um deles recitava os versos de um poeta chileno.
você cedeu.
No outro dia
nos encontramos
e fiquei sabendo de sua tia e do primo distante
entre pedaços de pizza
do chefe
da sua vida.
Eu te beijei.
Esperei uma semana pra te ligar novamente,
os sete minutos mais longos que presenciei
ali no ônibus indo pra casa.
Dormi na viagem e sonhei com você
até dois pontos depois do meu.
As mariposas se entregam aos postes de luz.
O calor é umido no final da tarde.
Aluguei o filme que você queria, com aquela menina
que cuida de uma loja mágica de brinquedos.
Ela me lembra você.
Quando chove eu sinto seu cheiro
e meu joelho dói
não ligo
danço nas poças d’água.
- Ivo Nascimento, 'folhas amarelas'
[http://folhaamarela.tumblr.com/]
fonte : Revista Ellenismos
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