sábado, 23 de agosto de 2014

Grei dos ideológicos


Por Priscila Merizzio

barbecue na câmara bafo de bílis de sua bocarra
minha pele lixada na sua língua de boi
carne viva de poros de polvos, rastros de desentupidor de pia
marcada com o ferro quente das águas-vivas
acomodei-me no ventre de uma baleia-jubarte
com sua voz de sirene misteriosa, ela cantava-me hinos de alforria dos parques aquáticos
desenraizados salgueiros-chorão de suas mansões telúricas
afoguei-me em riachuelos de rãs cadavéricas e girinos
mãos bobas no magma do centro da Terra
e-mails enviados à lua cheia et à urbanoides alienígenas
Regina e Leandro flanam em minha janela: um quadro de Marc Chagall
gaudérios e suas odes às capelinhas destrinchados por meu cadafalso nazareno
há caudilhos na árvore materna
incinerando meus desejos nos fogões à lenha
espeto de alcatra cutuca com carvão Paris, Egito, interior da Itália
e alma gêmeos
estampidos de estrelas racham as paredes de meus vizinhos
água incandescente vazando dos canos
exuberâncias mágicas aterrorizando índoles materiais
meus amores nadam selvagens nos cabos ópticos
dentro de ônibus interestaduais: brunette-Tieta ousando o Nouveau monde


[Poema que integra originalmente o livro "As Herdeiras de Lilith", organizado por Marilena Wolf De Mello Braga e editado pelo Instituto Memória, coordenado por Anthony Leahy]

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