sábado, 23 de agosto de 2014



Meu tio-avô (Antônio) era nômade (hoje diriam sem-terra). Vivia na rua, por opção (talvez, não sei). Apego? Só com os filhos e com as pedras. Gostava de geologia, mas nem sabia se tratar de uma disciplina acadêmica. Vivia com roupas vellhas e rasgadas. Bolsos sempre furados. Mas me parecia um senhor inglês, contando histórias muito bem elaboradas. Pernas cruzadas, elegantemente instalado ao lado do fogão de lenha de minha bisavó benzedeira. Aprendi com ele a ser rococó sem nunca ter pisado em um palácio. Gosto da nobreza interna e dos rituais rebuscados. É genética. Sem moedas, mas com muitas palavras cerimoniais. Meu tinteiro está atolado com o sangue azul petróleo de meus pais.

Andréia Carvalho Gavita

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