segunda-feira, 30 de setembro de 2019


“O visto é carvão de fogo
 pode aquecê-lo como uma pimenta
 é a prova que pode te levar
 onde a vida destila mel. O visto é porta aberta
 Quando a noite quer matar sua esperança”

O trecho acima pertence ao poema do haitiano Carlile Max Cerilia

O OUTRO



Já não serei eu mesmo, serei outro
quando me virem segurando as horas
e desenhando pássaros barrocos
nas pétalas das conchas e das rosas.
Se, deslumbrado pela luz da aurora,
eu caminhar sem rumo, como um louco,
sabei que levo estrelas na memória
e me contemplo velho, sendo moço.
Diante dos homens gritarei comícios
e arrastarei por onde for o bando
que me seguir os passos indecisos.
E quando a noite vier rolando o medo,
eu dormirei nas pedras como um santo
e sonharei nas ruas como um bêbado.


De Gilberto Mendonça Teles

MALDIÇÃO



Namoro estrelas. Sou poeta.
E daí? E daí que às vezes fico horas brincando com palavras.
Brincando é o modo de dizer. Trabalho duro,
teimo, limo, sofro, suo.
Mas me indaga um homem respeitável:
-- E que importância tem isso?
Tá bom, tá bom... eu sei que poesia não tem importância
alguma,
que somos escravos cardíacos das estrelas,
que os liquidificadores são mais necessários e melhores indicados
que os poemas
e os dentistas mais úteis (além de mais simpáticos, é claro)
que os poetas...
Eu sei, eu sei. É por isso que eu ando emburrado
e acho todo mundo idiota. Mas acontece
que eu sou poeta (aliás, altíssimo)
e fico triste ao entardecer.

Otto Leopoldo Winck

sexta-feira, 27 de setembro de 2019


Estamos todos sós.
Mas dentro de nós
ressoa uma multidão de vozes
adormecidas.
Estamos todos sós.
Mas dentro de nós
ainda rebrilha um sol
anoitecido.
Estamos todos sós.
Mas a noite e o silêncio em nós
estão prenhes
de sóis
e vozes.
Estamos todos sós
mas grávidos
de luz e música.

Otto Leopoldo Winck


O PODER DA CANÇÃO




De tanto cantar
que o seu jardim da vida
ressecou e morreu,
aconteceu.

ijs

DEUS AMOR




o que sentes é teu, de mais ninguém,
por estar dentro, nada interfere
somente o pensamento que se insere
renova o sentimento e vai além

a lágrima que cai é tua também
vem de algum argumento que fere
mas podes trazer luz e a um só ampere
todos os anjos dizerem amém

é por amor que existem tantos deuses
que ciciam bendições e berceuses
em teus ouvidos surdos aos apelos

da razão e do mundo material
é que o amor só quer ser imortal
pelas peles e poros, pelos pelos

*
Do livro Poemas de Amor Ainda, de antonio thadeu wojciechowski
Editora Bernúncia, 2019, pág. 197


COE O ECO




eis aqui uma página em branco
eis também o poeta diante dela
preciso de ar e abro a janela
sinto frio e cubro-me de espanto

uma palavra pega no tranco
bendiz o dia e abençoa a vela
de cada amor uma aquarela
dilui a cor em seu próprio pranto

se não dá pé, o verso é manco
tem a cadência missão mais bela
a rima eu levo ao que me revela
não faço eco ao oco do pau santo

antonio thadeu wojciechowski

...

ORAÇÃO DO CORPO PRESENTE




Sobre esse governo desinformado
e desinformante,
que faz alarde, insulta,
instiga o ódio
falando em espantalhos,
enquanto a floresta arde
e o genocídio covarde
de negros e índios
é apagado ou minimizado
por trás do aliciamento
de representantes-mascotes,
sobre essa perversão desinteligente
da política, de sorrisos sarcásticos
e gestos maldosos apontando
a destruição e a morte
dos adversários como solução:
que nação é essa?
Agora é inação.
Faz-se necessário
um desdicionário
e uma desgramática
para desdizer e desagravar
a fala desconcatenada,
delirante, um desplante
seguido de outro,
mais agravante,
resultante de quatro
cabeças de vento,
desorientadas por
imposturas desintelectuais,
disenterias em forma de livros...
Que Deus nenhum nos livre
de libertar nossas mentes
desses apedeutas
que no momento estrangulam
a educação superior pública,
protegem flagrantes criminosos,
posam de vítimas e atuam
como carrascos,
emaranhados
nas próprias maranhas.
Qualquer futuro será melhor
que esse presente de grego
que ora exerce a presidência
anticonstitucionalissimamente,
com a presença de coadjuvantes
um mais inepto que o outro,
saudosos de um passado hediondo,
horripilante, que há de ser repudiado
sempre, assim como é e será
sempre repudiável
todo esse lixo não reciclável
que momentaneamente conspurca
os poderes executivo, legislativo
e judiciário disso que um dia
sonhamos chamar de país.

Amém.

Ijs

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO NA PRÁTICA




Uma besta do apocalipse
disfarçada de alienígena
disfarçado de presidente.

Leia as seguintes proposições e julgue qual ou quais são corretas:

I. Trump é um alienígena, sim, mas não é uma besta do apocalipse.
II. Se o nome dele fosse mesmo Bozo, pelo menos seria menos triste.
III. A verdadeira besta não é metida a besta.
IV. Amanhã vai ser outro dia.

Agora assinale a alternativa verdadeira:

a) II não é uma proposição.
b) Não preciso de nota nesta disciplina.
c) Uma prova não avalia de verdade, e essa eu quero errar porque não faço mesmo ideia desse conteúdo.
d) Li até aqui, portanto mereço o ponto mesmo sem compreender a questão. E não me peçam para responder por escrito ou interpretar um texto maior que um parágrafo.

Gabarito nos comentários...
Ijs


sol com gosto de frio
o primeiro dia é só uma semente
a primavera chega devagar e sempre

antonio thadeu wojciechowski


um presidente jaguara
com ministros jaguaras
a serviço duma jaguarada
que está destruindo o planeta

o futuro dos nossos filhos e netos
sendo destruído
nossa diversidade cultural
sendo destruída
nossa diversidade humana
sendo genocidada
nossa biodiversidade em fauna e flora
sendo assassinada
nossas universidades federais
sendo estranguladas
nossa agricultura
sendo empesteada
nossa economia e indústria
indo pro buraco

tudo nas nossas fuças

e a fome e a miséria
voltando com força
e as instituições
reféns duma gangue

e ainda tem gente
aplaudindo e fazendo arminha
com as mãos

encharcadas de sangue

ijs


por muito tempo tentei ser branco
comia comida de branco
vestia roupas de branco
sonhava sonhos de brancos

rezava orações de branco
brincava com brinquedos de brancos
feitos para louvar os brancos

assistia programas de brancos
lia histórias de brancos
e pensava que eu era branco

e por mais que eu me fingisse branco
e me atuasse branco
tinha sempre aquele lugar
onde branco entrava
enquanto eu do lado de fora esperava

Sândrio Cândido

Reflexão




Os tons do alvorecer
Se entrelaçam no pomar
Enquanto a caixa d´água vigia

O saibro molda o percurso vigente
E as tesouras estão inquietas

No caminho de Petit
Conto cascalhos

Roupagem

Penduro a tristeza
neste cabide (in)terno
amanhã, coloco outra veste...

Paulo Prates Jr  28 de abril de 2011

cárcere íntimo VII



 trancado nas proximidades
do nexo
do quarto me sinto
mais preso a ele
do que ao temporal
meu labirinto.

nele não chove.
nele o sol não vinga
depois das três e meia.
a linguagem
me re(ceia).

a forma me deixa
a ponto de
rasgar a folha.
fico livre
da palavra impossível,
mas o sangue da ideia
esvai-se

de veia em veia
através de um
ritmo... de um corte!
feito vício ou
vínculo, o verso
me espreita,
por entre as grades
do cárcere,
me explicita...
vontade, voo,
desespero
ou
desdita?
Adriano Nunes

Regressivo




Lutas se apagam
sob o tecido
dos sonhos.

Sinais
sintomas
tranqüilizante
invade
(dita)dor.

Os olhos
não querem ver
mortos-vivos pelas ruas
procissão prosaica
em silêncio.

Retorno ao sonho
criança
ao colo da mãe.

Busco o travesseiro
regressivo.

A noite
está lá fora
o amanhã
apesar das cicatrizes
vai chegar.

Feroz.

Ricardo Mainieri

Morte do(r)larizada




Seiva & sangue
a árvore
t
o
m
b
a

na tarde.

Vai virar
celulose
em mãos ávidas.

A vida medida
em dólares.

Ricardo Mainieri

planícies




o vazio dele
o vazio dela
o vácuo do umbigo do tempo
a pele
a pílula
o efeito fatal do sono
o sonho o sonho o sonho...
até quando?
o vagão partindo
a simetria sincera do trilho
a ilusão me deglutindo
depois, nem isso.

o poço profundo
outro mundo
outro escuro
outro escudo
a mesma máscara mesclada
à vida que tarda
outra diáspora
o trauma
o nêutron
a névoa
a mágoa moldando a alma
depois, nada.


Adriano Nunes

Soneto em Branco & Preto




© Nathan de Castro

No espaço do passado, este quarteto
caminha pelos palcos de um enredo
que encena o teu sorriso e este meu medo:
morrer de amor. Dispenso o cianureto,

prefiro a morte lenta — em branco & preto —
para aprender as galhas do arvoredo
e um dia reencontrá-la ao sol, bem cedo,
nas nuvens que circundam o meu soneto.

E quando a luz soar os meus badalos,
para que eu viva a paz da eternidade,
permita-me, oh! Senhor, esta saudade.

Deixa que eu leve os sonhos, a poesia
e as emoções que o verso propicia
ao me lembrar dos lábios tão amados.


O JOGO QUE ME APRAZ


Sonetos faço assim - preste atenção:
deixo um verso qualquer que acaso invente
(com rima fácil como em "ão" ou "ente"
de molho na cabeça uma porção

de dias, sem tocá-lo (incubação),
até atinar - por vezes de repente! -
que sentido seguir (trágico? ardente?)
que dilema tecer ou que emoção

deva explorar jeitoso em contraponto.
O resto é fácil: monto com prazer
verso por verso - opero meio tonto -

até vê-lo (soneto) acontecer.
Eis outro aqui, alias, já quase pronto.
Se não gostou - perdão, foi sem querer.



Sonetos de Roberto Menna Barreto

Ed. Baraúna, 2008

POSSESSÃO




Poesia
toma posse de mim.

Temo o transe
vertigem
orgasmo.

Pasmo percebo
paz.

Serena
zen
fim.



Ricardo Mainieri              19 de maio de 2011 08:29

                

A PALAVRA OCULTA





A palavra oculta
tem a paciência farta
seja calma, seja bruta.
Tem a medida exata
seja longa, seja curta.
Tem a passagem nata
seja ponte, seja gruta.

A palavra oculta
a gente a afaga
ela se torna astuta.
A gente se doa
ela nos furta.
A gente a santifica
ela se mostra puta.

A palavra oculta
quanto mais a gente se defende
mais forte ela luta.
Quanto mais a gente a esquece
mais cínica ela cutuca.
Quanto mais a gente cala
mais ainda a gente a escuta.


Renan Sanves   22 de maio de 2011

Ásperos tempos




Na vertigem
da madura idade
desertei de mim mesmo.

Rebelde com causa
suor remunerado
tive a mente sitiada
pela civilização.

Nestes ásperos tempos
desaprendi sentimentos
lamentos espalhei.

Entrei e saí
sem ser notado :
anônimo cidadão.

Ricardo Mainieri


Ampulhetas




Por mais cinza que seja
O invólucro de textura áspera
A casca guarda o disfarce

A lágrima que escorre rocha calcária
Forma pontes no percurso

Enquanto isso, os relógios passam
A ponta do grafite desgasta
E a areia insiste em cair


Paulo Prates Jr

canto VIII




a palavra alheia ilha
liame qualquer
coisa
digo qualquer
acaso caso casulo
digo
qualquer canto
omito
a pólvora sêmen
se assemelha
à centelha-tempo
abrigo
abraço
adeus.


Adriano Nunes

Panorama visto do ônibus




O veículo
vagarosamente
vasculha a cidade.

Vai a busca de bares
extintos
ruas sem praças
sinais e buzinas
na contramão.

Na manhã
que insiste cinzenta
percorro velhos roteiros
labirintos dentro de mim.

Ricardo Mainieri

Muro



Estou de mãos dadas

Com o muro

As vezes eu até pulo

Tentando me encontrar...

Me auto-saboto só para

Continuar a me amar...
               

Luciana Larch

À deriva




Vida, indecifrável vida
em cada esquina uma surpresa
a cada passo uma incerteza.

Quando encontramos as respostas
as perguntas já são outras.

Vida, indecifrável vida
gosto de te viver assim,
à deriva...

Bom-dia.


A primavera virá,

como sempre,

em setembro.


A Primavera de 2010


Eu bem me lembro

da de dois mil e dez,

acontecida no Irajá.


Era trovoada,

fazia madrugada,

o futuro, porta fechada.


Mas, a prima vera

veio com a tia chuvosa,

que coisa mais horrorosa.


Nem um beijo,

nem um agarro,

nem umazinha no carro.


Espero, então,

a primavera de dois mil e nove,

para que o amor se renove.


- por Hans Gaus (heterônimo de JL Semeador) –

 José Luiz Santos

insensatez






da terra antiga onde hoje habitas
voltas
novo novo

iluminas o escuro
que me cobria os olhos

a noite escala-me o corpo
irreal

afasto lógica e sensatez
se tua mão desliza meus contornos
sob o lençol

liberando suavemente ardentemente
a poesia a percorrer meu corpo
refém

Jadiceli Dantas

©Jade Dantas

RETRATO DE UMA ALMA



Alceu Natali

Sempre tenho ideias, coisas para dizer, para escrever, fatos que incomodam-me enquanto não conversar com eles, sentimentos imprecisos que inquietam-me enquanto não tentar entende-los. Para lidar com essas impressões, concretas e abstratas, reais e imaginárias, preciso de ajuda, ajuda de algo que sensibilize a alma, que a alimente com lágrimas emotivas e incensuráveis. Quando procuro ajuda, impaciento-me para encontrá-la mas, quando menos espero, ela desponta, cantando para mim sem saber que veio socorrer-me, acreditando ter encontrado alguém que a ouça com os ouvidos da alma. Então digo o que tenho para dizer e o som numinoso alegra-se com nossa empatia, mas ainda pede-me uma imagem que registre para sempre este encontro mágico, entre o pensamento e a voz do princípio vital. A feição da alma muda a cada milionésimo de segundo e é impossível captar o exato e raro momento em que ela sincroniza o elemento psicóide da natureza com a transcendência da reflexão humana. Lembro-me de uma vez quando sonhei que eu era um pintor e me pediram para explicar o sorriso de Monalisa. Eu falei com desenvoltura por meia hora, esgotei todos os meus conhecimentos sobre técnicas de pintura e conclui que não sabia dizer de onde veio aquele sorriso da Gioconda. Os que indagaram-me, explicaram-me que o sorriso dela partiu do coração, antes que o cérebro recebesse qualquer estímulo. Por isso, deixo estas imagens surgirem ao acaso, e elas aparecem, supostamente indiferentes, mas já produzidas com propósitos definidos e perdidos, um dos quais sempre vem ao encontro de minhas necessidades antes mesmo que elas tenham nascidas. Há pouco tempo, tive uma sensação incomum. Apareceu diante de mim o retrato de uma alma pedindo-me para explicar-lhe que devaneios divinos e que cânticos angelicais registraram sua imagem. Minha querida, eu te chamo de querida porque a alma é feminina, enquanto o corpo é masculino, e a mente, que une os dois, é a sizígia, ou a própria anima que é a interlocutora entre a psique e seu centro regulador que chamamos de Deus. Minha querida, eu gostaria de ser puro, como o branco, mas não sou, e, se você acha que tenho alguma inclinação à alvura, não se engane, pois sou um ser ambivalente e o que você vê em mim é o positivo do retrato de minha alma, mas negativamente carregada de todas as misérias humanas resgatadas de volta a uma caixa de Pandora, e recomposta de todas as cores do espectro devolvidas à sua fonte original através do mesmo prisma que as separaram, transformando-me no enganoso vazio total e neutro da cor que não representa apenas a ausência de cores ou a soma de todas elas, mas também uma contraposição ao nada que é gelado, escuro e assustadora e desproporcionalmente maior do que o insignificante todo para o homem, essas pedrinhas luminosas e solitárias que salpicam o breu sem-fim. Se eu me desvio para o branco, não é porque eu sou puro, pois nem mesmo meus terapeutas tiveram acesso ao meu lado sombrio, e nem porque sou um pacifista por convicção, mas por conveniência, pois minha apologia a não violência é apenas um simulacro para camuflar meu medo, daí o fato de minha face, às vezes, parecer estar pálida de sobressaltos. Na verdade, eu sou um medroso e sempre amarelo, mas sem as rédeas curtas de minha fobia social e de meu acanhamento, posso transformar-me numa fera indomável, como a matiz áurea que rechaça todo tipo de atenuação e transborda da tela onde o pintor tenta enclausurá-la com outras nuanças. Mas você é sublime, mais alva que o branco supremo, por isso muda de cor, como o negro do ébano que parece azul de tão negro. E você é como o branco do marfim que parece rosáceo de tão branco. Quem te fotografou, imaginou a vida como ela deveria ser hoje, e sua imagem deve ter sido captada ao som do que os cientistas chamam de big bang, quando o universo foi gerado, e as predisposições para cria-lo não são dos mesmos que tiveram a ideia de inventar Deus, antecipando que ele seria uma explicação plausível para este momento singular de sua alma.

20 de abril de 2011 15:18




Entre a mira e o alvo
Nem sempre um tiro torto
recebe a ajuda do vento



Alvaro Posselt  

26 de abril de 2011

MANSIDÃO




Escureço junto à noite que nasce, fria.
Dissolvo as palavras no licor do silêncio
E as bebo, assim mesmo, sem acompanhamentos,
No dedilhar de gotas que se esquecem à mesa.
Eis que a Lua enfeitiçada me surge
Tentando ocultar-se entre o manto de estrelas.
Conto sem pressa alguma,
Admirando-as uma a uma.
Na janela, debruço-me - o frescor na face.
As horas avançam em silenciosa agonia.
Nas folhas, as lágrimas silentes do céu
Vestidas de orvalho como disfarce
À espera do despontar do dia.

Eritania Brunoro

                26 de abril de 2011 

HOMENS DE BEM




Tem Homem que varre rua
Tem homem que vive
Vida nua...
Despida de sentimentos.
Tem Homem que faz dos tormentos,
Sentimentos,
Homem que ainda triste, sabe sorrir...
Que nos faz sorrir.
Mas, tem aquele que sabe é nos fazer
Chorar...
Tem Homem que foge da dor
E sonha mesmo envolto
Numa mortalha...
E tem quem usa sua navalha
E corta o sonho do Outro.
Tem homem que se veste de luxo
Tem Homem que vive de lixo,
Das migalhas
Do homem que só isso sabe doar...

E o Homem alimenta seus filhos
Equilibra-se nos trilhos
Faz-se Homem de bem
Nas trilhas,
Dos espinhos que vida tem...
Tem Homem que irradia luz,
Carrega sua cruz...
Traz nos olhos a bondade
E aniquila a maldade
Que uma falsa verdade
Insiste em moldar.

Regina Celi Sales / Cel
1º de Janeiro de 2010.

VALE TUDO




Quando nada
mais nos resta
vale tudo

pois se tudo
mais vai sempre
dar em nada

nada mais nos
vale salvo
tentar tudo

mas tentando
tudo nesse
tudo ou nada

não por nada
nada é tudo
que nos resta

pois no vale
tudo nada
vale a pena.


De Nelson Ascher,

Aqui



Quem serve a canibais aceita o risco
de que garçons lhes sirvam de petisco.


de Nelson Ascher

SENSAÇÃO DE HELENA




Abre em leque as cartas
Estende aos da primeira fila
Quando retiro a carta do baralho
Sentas diante de mim, sorrindo
Carta do Rei David
Rei de Espadas
Rei de Espadas
Doce é tocar de novo tua face
Desejo renasce, impune
Por uns segundos o mundo escapa
Estamos os dois a sós
Fumaça e lume ecos de palavras
Teu rosto sorrindo para mim
Nesta carta - Reis de Espada
Agora, sou Atena embevecida
Teu par de fogo - Tua outra face
E antes que dissolva o rosto lindo
Ecoa a voz de Helena, forte e cristalina
"Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face"

Bárbara Lia
maio/2011


Dia
sem poesia
não é dia
é noite escura

Mas a poesia
é noite escura

* Adília Lopes


DIANTE DA JANELA, O ROSEIRAL




Testamento enterrado
à sombra do roseiral:
Deixo meu violão
para a balconista da padaria.
A erva benta
para a velha do sobrado.
A chaleira
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta.
O livro de poesia
de Augusto dos Anjos,
para o cobrador do expresso 022.

Assinado:
A menina dos olhos tristes.

Chico me chamava de Carolina,
mas era só um disfarce.
Sou eu a menina
que viu o tempo passar na janela,
sem ver.

BÁRBARA LIA

ENLEIOS



(Lena Ferreira)

Enquanto a noite descia
vagarosa
mente
escutava o passado rir faceiro
dos olhos lacrimosos
namorando espelho
trincado
quarto
frio

Estrelas salpicavam
a negritude
de um céu imenso, imenso
a exacerbar
todos os enleios
derramosos, quentes
de um ser que não
se
via
nem se
cria

Havia vento,
um vento caloroso
em abraço
acalentava a alma
entristecida, em cismas
divagava; possibilidades
tantas
futuro entremeios
se morria

Enquanto a noite tecia
a colcha de detalhes
com borda sonhos
escutava o passado
preguiçoso
a
cor
dar...

apenas


 Para Antonio Carlos Secchin

pensando o
poema: in

vencível
viagem.

bagunço a
bagagem,

palavra a
palavra. a

reformas,
reagem

fins e
finais

de tardes.
de tudo

apenas
a parte

raríssima à
razão

resiste...
rabisco a

linguagem,
liberto-me

do sonho
de ser

memória e...
me exponho:

catarse?
catástrofe?

a casca e
a carne.

Adriano Nunes

NA LUZ




Do mundo em que vim, estrelas roubei, do céu que encantava todo meu ser.
As estrelas espalhei pelo caminho, iluminando a terra na luz do infinito.
Reluzindo em prata cobriram o chão onde passos errantes levaram aos sonhos
Posso sentir, agora, a terra, pés descalços nas lutas encerram.

A luz espandia no tunel escuro, iluminando da terra ao céu,
Cobrindo de prata flores, mares e nesses caminhos cheguei.
Sublime ternura envolvente, dando paz a vida,
dando esperanças aos dias.

Nanci Laurino

LÁGRIMAS DA ALMA




Poesias lágrimas da alma
Marcando as folhas em branco
Com meus sentimentos tantos.
Lágrimas da alma rolam,
Desse meu triste coração.

Da vida reluzindo do mais alto céu,
Curando minhas feridas com doce mel.
Navego em sonhos nos Seus braços amorosos,
Que minha vida restaura dando novo alento e sonhos.

Cantos dos céus chegam fortes,
Salpicando com estrelas a noite escura.
Embalando minh'alma sofrida e cansada,
Em puro ato de amor... já não há mais nada.
Como gaivota vôo livre no ar,
Asas tocam o céu, transpassando o véu.
Agora sou como Fênix renascida
Para viver eternamente de amor e assim amar.

Nanci Laurino
                20 de abril de 2011 15:16

Pingo d'água



... .. ...
asas assanhadas
belas paisagens
um pingo d'água
cai dos olhos
.
olhos avistam céu
no mel da boca
um beijo estala
o tempo cala
.
vento forte
faz redemoinho
pássaro se entrega
aos traços do destino
pés procuram a terra
areia fofa na trilha
motivo eterno de guerra
o coração? uma ilha...
... .. ...
Juleni Andrade & Dhênova

INEXORABILIDADE



Alceu Natali

Eu já nasci assustado, recapitulando fragmentos de sonhos bizarros, com estigmas congênitos, sem a mínima noção de que um dia iria acabar dando errado. Não pretendia ser o que Deus não queria que eu não fosse, nem atinava para o que o simples fluir da vida escancara. E disse George que ela segue fluindo dentro de mim e sem mim. E disse Lilian que, ao passar por mim, ela fecundou-me com medo. Um elemento que quintessenciou meu espírito inseguro. Eu tenho medo da água agitada do mar, da terra alheia com frutos para roubar, do fogo da vela se apagar e do terror noturno que sufoca o ar. Por que abandonaram-me por um velório à noite e sem nenhuma luz para guiar-me na escuridão habitada por ventos uivantes? Num raro momento em que o temor descuidou-se de mim, eu ceifei a visão que não pertencia-me e carreguei uma culpa que só dissipou-se com outra. Por que no calor de uma festa de carnaval escolheram-me para ser assombrado com uma máscara tão horrenda? O salto que todos nós estamos condenados a dar da luz para o umbral, misteriosamente, levou embora de minhas lembranças uma parte de minha maternidade. Um enigmático portal entre este e o outro mundo levou-a daqui para sempre. Não espanta-me mais aquele prato de comida espatifado contra o chão da cozinha, mas intriga-me, ainda, aquele coelho branco enforcado na maçaneta da porta que frequentou minhas fantasias tantas vezes. Eu corro atrás da vida. Corro para salvar uma vida em minha vida. Mas é ela que leva-me e agarro-me ao primeiro tronco que flutua neste rio que eu sei que vai desembocar no mar. Saio pelos afluentes, dou cabeçadas nas suas margens e volto à correnteza mais forte sempre um pouco mais fraco. Olho-me no espelho e vejo a morte pela primeira vez. Ela é companheira do meu pavor e rouba-me tudo o que Deus desejava que eu fosse. O demônio oferece-me ajuda e os anjos que sempre pressenti observam à distância. Vou morrer sossegado, mergulhado na profusão de meus sonhos preciosos, mas com a marca do arrependimento, com a nítida impressão de que tudo o que fiz de errado não pode mais ser consertado. Pretendo ser tudo aquilo que satanás disse-me não ser proibido, dando mais atenção à imobilidade das trevas. E disse John que minha vida foi tudo aquilo que passou enquanto eu fazia planos para ela. E disse Lilian que, ao passar por ela, deixei de cultivar os campos. Um de Vênus e outro de Marte, sem deixar que florasse o que Deus plantou. Perdi o medo da natureza animada e inerte, dos homens a sete palmos e de dedos engatilhados, de morrer e de matar. Por que confundiram-me com uma convenção do cotidiano à revelia esperando que eu soubesse quais portas abrem-se para o equilíbrio dos normais? Na minha ingênua irresponsabilidade eu desperdicei todas as oportunidades que foram-me oferecidas e sobrecarreguei incautos com uma perda atrás da outra. Por que no embalo de minha ambição ofusquei a visão da simplicidade da vida com tantas máscaras perecíveis? Um tenebroso abismo separa-me das melhores lembranças abandonadas pela minha paternidade. Um inexorável ímpeto prende-me entre dois mundos. Mais vale para mim uma mentira deslavada que sai de minha boca desprevenida, mas não entendo porque esta vontade de viver perigosamente continua perseguindo-me por tanto tempo. A morte corre atrás de mim. Corre para arrebatar a última centelha de vida dentro de mim. É a morte que agora impulsiona-me e sou arrastado a cada lembrança de fracassos que frequentam meu sono nestas águas turbulentas que não sei onde vão dar. Afluem agonias para minha mente onírica, meu ser vígil sufoca-se com as sequelas de seus sofrimentos e sou empurrado cada vez mais para o fundo, cada vez mais distante da superfície. Olho através de meus olhos e vejo minha alma pela primeira vez. Ela ainda caminha ao lado do meu corpo, mas já desarmonizam-se os dois, contrariando os planos divinos. O demônio oferece-me um preço por ambos e os anjos acercam-se para fazerem seus lances.

D’UM AMOR DE ERAS



.
Mulher, o nosso tempo acabou.
E em meu coração apenas ficou
Toda a solidão, todo o vazio;
Porque por todas as coisas
Há apenas uma por qual teremos que pagar,
— O próprio sentimento.
Que isso me seja recompensado na alma,
E que essa dor me seja justa,
E quando entenderes o meu amor
Que volte, pois ele, jamais a deixará!
Ele só te fez bem, e não mal,
E lhe fará bem por todos os seus dias.
E ninguém mais o achará;
Porque o seu valor é mais do que o ouro
E destinado foi ao seu fulgor;
Porque tu és de mim todo o esplendor,
Toda a luz, por todo o tempo que se faz,
Sobre o mar, e sobre a terra.
E quando eu a tiver no infinito
As lágrimas em seus olhos não haverá;
Porque o meu amor te será mais!
.
(Poeta Dolandmay)


INSANIDADE!


A natureza é uma mãe
Que seus filhos não querem compreender,
Mesmo agonizando
Ela procura a todos proteger.
Com tantas queimadas no planeta,
A poluição destruindo a atmosfera
E o homem teimando em fazer o verde desaparecer,
É a insanidade da mente humana
Enlouquecendo pelo poder.
Filhos atrofiados pela fome,
Vidas que partem antes do tempo
Sem ter algumas gotas de água para beber,
Já estamos no último estagio
Muitos já não estão vendo um novo alvorecer.
O poeta nos seus versos
Procurar conscientizar
E tocar em cada coração,
Vamos começar a revitalizar
Para podermos semear o nosso chão.

(amaropereira)

16/09/2010

LIVRAI-ME (OU DAI-ME) A TENTAÇÃO?



(Victtoria Rossini)
.
Olhando a cidade la embaixo
E o tempo me engolindo aqui
Rogo aos céus por um tanto de lucidez:
Ohh lucidez!
Caia sobre mim!
Me faça separar o sonho e o desejo
E no uso pleno da minha razão
colocá-los no seu devido lugar
.
Que meu corpo não viva em fantasia
Que eu saiba separar a utopia
Antes que minha carne
Caia em tentação
.
Sinto o vento
Da tua boca se aproximando
Temo o arrepio
Espero pelo toque
Fujo dele...
Corro para...
E agora?
Só tua lembrança já é tocha
A incendiar meu desejo
.
Olho a cidade dormindo...
E peço paz - e um pouco de lucidez -
Para não me afogar nos meus pecados
Para não sucumbir aos teus caprichos
Para não fazer de você meu vício
E me deleitar na fogueira do teu corpo
Fazendo de ti...Minha perdição
..................
Espero tua visita e comentários nos meus blogs: http://victtoriarossinipoesia.blogspot.com

GENTE DE VERDADE



..............
Desde menina, mulher...
boneca, casinha, panelinha.
Recebeu a sina de rainha do lar...
da casa, da cria, da lida.
.
Desde os primórdios
da humana idade...
querem a mulher
de asas podadas,
de pés amarrados,
de boca fechada.
.
Poetas puseram-na
num altar...
irreal, inalcançável.
.
Mas,
a mulher
só pretende viver
em paridade...
Poder exercer
o direito de ser
gente de verdade.
.
JULENI ANDRADE


Senhora de mim



.
Você é linda demais
Traz no olhar a paz
Tua beleza me atrai
Um bem enorme me faz.
.
Teu jeito de ser mulher
De um fascínio sedutor
Consegue o que bem quer
Sou estático neste amor.
.
Você é linda demais
Senhora de meu coração
Em tudo te quero mais
Amo-te de amor e paixão.
.
É a musa inspiradora
Razão de minhas poesias
Uma atração encantadora
Sou os versos da tua melodia.
.
Ataíde Lemos.

AMOR ALHEIO



.
amor alheio a cor
amor alheio ao sexo
amando na entrega
que abismou a religião
fez remover defuntos
não calavam as línguas
mas calava a hora
calava o tempo
uma mulher
a amar o homem
na qualidade de macho
amando como se ele fêmea fosse
essa mulher o amou tanto
que ele como fêmea se dava
num delírio assustador
ele pertenceu se deu
ela mulher pouco era mulher
ele mulher daquela mulher ...
ela macho daquele homem
era amor
só mais uma maneira ...
um modo que acabou ...
(sulla fagundes)

Consolo



.
Calma, meu amor! Não se dilacere!
Com o passar do tempo, alguns dias,
Encontre uma resposta e se recupere.
Então, possa ir em busca de ideologias,
Encontrará um milagre que a opere.
.
Vencer! Precisa perder o medo, não tê-lo!
Andar sempre com o positivo na mente!
Deixar a cabeça leve, um balançar do cabelo
Ver o seu interior e ver-se diferente,
Cada sonho, é maior, vai conhecê-lo!
.
Calma, meu amor, sorria! Clame!
Clamamos como pedintes por uma causa.
Por ela, pedimos com um fervor enorme,
A vida, a união, nos cobra uma pausa
Pense em mim, no amor enquanto dorme.
.
Betânia Uchôa


DUETO - INGRATIDÃO



.
Deixaste a porta aberta
Com a intenção que eu fosse voltar
Saí da tua vida na hora certa
Depois que tu, só fizeste por me magoar...
.
Nunca voltarei à casa tua
Nem passarei pela tua rua...
Me liberto aos poucos dos desamores
Que tu transformaste somente em dores...
.
Deixaste o meu coração
Num imenso vazio, na solidão
Por a minha alma tanto machucar...
.
Agora que não mais sou o teu viver
Sairei por os caminhos a reconhecer
O grande amor que eu quero pra amar!
.
(Denise Flor© & Dolandmay)

ESPECTRO



(Victtoria Rossini)
.
Eu sou a mão que aponta
A ponte
Da passagem entre os mundos
.
Eu sou a voz que canta
No escuro da noite
Para guiar os sem bússola
.
Eu sou lanterna
Colocada estrategicamente
Na floresta fechada
A sibila pagã
Descalça e sem nome
Que conhece o caminho
Estende a mão
.
Não persiga meu olhar...
Siga os sinais e achará o caminho
..................
Espero tua visita e comentários nos meus blogs: http://victtoriarossinipoesia.blogspot.com/2010/09/espectro.html

VÊ SE COMPREENDE



Tento ser meu próprio sol .
Pretendo iluminar-me...
-
Tenho mil planetas
girando
ao redor
da luz
-
que desprende da minha paciência.
-
Também,
dou voltas em volta
das voltas e das idas.
São tantas vidas
atrás do futuro.
-
Não quero o escuro!
Aturo o piscar de olhos
do meteorito atormentado
que passa sempre ao meu lado.
-
Tento ser meu,
somente.
-
Entende?
----------------
(JULENI ANDRADE)

Quem sabe



.
Quem sabe meu templário
Se os corpos vão despir
Em compasso imaginário
Onde busco te seguir
Quem sabe meu guerreiro
Se esta vida nos unir
Serás meu pedaço inteiro
Eu já fui, me ensine a vir
Quem sabe criatura
Entre a vida e a morte
Serás sã doce loucura
Demonstrando que há sorte
Quem sabe entre esta gente
Escolhi você do nada
Tão estranho e diferente
Sou do escape a cilada
E quem sabe até exista
Algo inexistente ainda
Como um filho que insista
Vir do nosso amor a vida.
Quem sabe...

(Autora: Dindal Nunmitok) 08/09/10

quarta-feira, 25 de setembro de 2019



Poesia é uma pena
que deixa de voar
assim que se liberta do ninho

Alvaro Posselt  



A espuma na festa
Revela outras texturas
Liga o sujeito ao predicado
Transformando a palavra
Em interpretações lhanas

Paulo Prates Jr 

50 Anos (Freud explica)


  


O Princípio de Realidade
sem piedade
ameaça e castra
o princípio do prazer.


Ricardo Mainieri


Os corvos encima
dos muros
sempre veem
a geometria
da propria sombra,
não é a ti que eles
veem,
é a eles mesmos

não são maus,
são tolos e fracos

(....)

(parte do poema Os Corvos,
que está no meu livro).

Ana Franco        

lobo em pele de lua




pastor de estrelas
nos campos da lira

o poeta se espanta
e se inspira

desgarradas cadentes
são sempre bem vindas

poemas são mesmo
estrelas caídas

rodrigo mebs



Forrado de prata
o mato alinha o horizonte -
Primeira geada



Alvaro Posselt 

Choque


Silvia Ferreira Lima         


Mãe, cadê o ar? Rosto e braços molhados de suor. Treze anos, saída de uma grande metrópole, ingressava na mata espessa da Floresta Amazônica, cuja umidade consumia o oxigênio do ar. Que droga! Aterrissava em Belém às quatro da tarde. Ver o mundo em meio às nuvens tinha sido incrível, mas aquela opressão era insuportável. Pior foi viajar de monomotor até Tucuruí. Chacoalhava como um liquidificador. Que ânsia de vômito! Das janelas, em meio às nuvens espessas, via mato e mais mato, água e mais água. Sentia-se uma das bactérias da região. Oito assentos, contando piloto e copiloto. Seu irmão de oito anos, fascinado, olhava o controle do avião bem à frente. Pensava em ser piloto. O máximo! Mas o calor! A casa era imensa: três quartos, sala de amplos ambientes, quintal aberto para a floresta e varanda extensa. À noite, receberam uma visita: uma aranha do tamanho da mão de um adulto. Mãe!!!!!! Munida de uma vassoura começou as pauladas: uma, duas, três, quatro... parecia filme de horror. Várias pauladas depois, o bicho está morto. Estava? Incontáveis aranhas minúsculas se espalharam. Mais pauladas. Mais inseticida. Outras visitas apareceram: um escorpião embaixo da geladeira. Ratos que se acomodaram no forro do teto. O que mais a irritava eram os grilos. Apareciam em todos os lugares e cantavam todas as noites. Tiravam o sono. Virou caçadora de grilos. Entrava no quarto, acendia a luz e enquanto não matasse todos os grilos não sossegava. O ritual se repetia noite após noite. Bom era ir ao clube, nadar, brincar, andar de bicicleta, namorar.


FOLHAS AO VENTO




(Nanci Laurino)

Tão leve quanto folhas ao vento, voam meus pensamentos.
Que a brisa amenize minha dor,
No Sol que abraça aquecendo minh’alma,
Dissipando a saudade escondida em meu sorriso.
Procuro meu repouso, junto meus pedaços...
Sigo!


VIDAS


 (Eudoro Augusto)

Vivo perdido
entre a fatalidade de ganhar a vida
e a densidade de vivê-la.


REDENÇÃO



(Lena Ferreira)

Porque tua pausa parece infindável
e tua lira é ópera inteira; orquestra
tocando a partitura dos meus poros
em notas tão perfeitas e sonantes

Porque teu verso parece inverso
e tuas letras, crianças peraltas
aprontando fuzarca no meu sítio
trazendo ventura pros meus dias

Porque teu verbo parece silente
e teu silêncio, é grito mudo, eterno
suplica por peles cruas, pelos nus
causando espasmos na alma casta

Porque tua causa parece urgente
e tuas promessas perfeitas, cabíveis
imploram ao deus grego e pagão
pela redenção de um pecado imortal...

Porque teu porquê é tão insistente
não podes perdoar-te eternamente...


dia duro



 - Para Anna Muylaert

dia duro
dia-a-dia
dia dado

dia a dois
adiado
dia se foi

dia árduo
dia de fogo
diá-logo!


 Adriano Nunes 

Mudez



No seu grito
mora o silêncio
que engoliu minha voz

Paulo Henrique Frias    

Esperança



A neblina gélida do alvor
Sobrevoa na direção do lago

Logo
Tropeço no calor do recomeço
Mas sigo na trilha furtiva
Onde os pássaros ainda cantam



Paulo Prates Jr 

a poesia


 - Para Waly Salomão.

seja lá o que for...
tudo ou tudo ou
mágica,
o que se fincou
na alma,
poço sem mundo,
o que não ser-
ve para nada,
osso duro
de roer.


Adriano Nunes


poética



o globo gira
a mesma milha
a fila filtra
a gíria grila
o modo mira
o filme finda
a gente ginga
a moda migra
o foco fixo

a forma in forma

Adriano Nunes 

COLCHA DE ESTRELAS




(Poema inspirado ao ver o céu límpido, forrado de estrelas, na Fazenda em Lavras - Minas Gerais)


Hoje o céu derramou sobre nós uma colcha de estrelas.
Nos engolindo, refletindo o poder inegável da Terra.
Transpassando o entendimento,
Dando asas aos sentimentos,
Nesse colosso chamado Vida!

Nanci Laurino


TRADUZINDO-ME

Uma parte de mim se diferencia
outra parte é igual.

Uma parte de mim é selvagem
outra parte é sentimental.

Uma parte de mim é auto-suficiente
outra parte é totalmente influenciável.

Uma parte de mim é útil
outra parte é descartável.

Uma parte de mim é sábia
outra parte é idiota.

Uma parte de mim é reta
outra parte é torta.

Uma parte de mim falta
outra parte sobra.

Uma parte de mim presenteia
outra parte cobra.

Uma parte de mim é alegre
outra parte é triste.

Uma parte de mim continua
outra parte desiste.

Uma parte de mim imita
outra parte se limita.

Uma parte de mim revida
outra parte acata.

Uma parte de mim se suicida
outra parte mata

Renan Sanves

                23 de maio de 2011 19:39

DISCLAIMERS



aviso:
não estou
me sentindo
assim

perigo:
que dias
venham
neste passar
de horas
sem fim

sentido:
norte?
nenhum
apenas
olhos
que pairam
sem sorte
no horizonte
de dia
algum

(Cristina Desouza)

PROEMA



Não há verso,
tudo é prosa,
passos de luz
num espelho,
verso, ilusão
de ótica,
verde,
o sinal vermelho.

Coisa
feita de brisa,
de mágoa
e de calmaria,
dentro
de um tal poema,
qual poesia
pousaria?



Paulo Leminski:


Fio de emoção
j
o
r
r
a
por entre mentes compactas.

Sonha tornar-se rio.

(A) fluente
de humanidade.

Prosseguir
ligando
mares & utopias

Quem sabe um dia...


Ricardo Mainieri         


No céu da minha boca
tem um monte de estrelas
Eu não penso em outra coisa
a não ser comê-las


Alvaro Posselt  

CANTEI A POESIA




cantei a poesia
e ela ficou comigo
por um dia

agora que eu não vivo sem ela
me esnoba
só vem quando quer

ai, mulher difícil
se lhe dou bandeira
ela quer vinícius



(Ricardo Silvestrin)