quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Choque


Silvia Ferreira Lima         


Mãe, cadê o ar? Rosto e braços molhados de suor. Treze anos, saída de uma grande metrópole, ingressava na mata espessa da Floresta Amazônica, cuja umidade consumia o oxigênio do ar. Que droga! Aterrissava em Belém às quatro da tarde. Ver o mundo em meio às nuvens tinha sido incrível, mas aquela opressão era insuportável. Pior foi viajar de monomotor até Tucuruí. Chacoalhava como um liquidificador. Que ânsia de vômito! Das janelas, em meio às nuvens espessas, via mato e mais mato, água e mais água. Sentia-se uma das bactérias da região. Oito assentos, contando piloto e copiloto. Seu irmão de oito anos, fascinado, olhava o controle do avião bem à frente. Pensava em ser piloto. O máximo! Mas o calor! A casa era imensa: três quartos, sala de amplos ambientes, quintal aberto para a floresta e varanda extensa. À noite, receberam uma visita: uma aranha do tamanho da mão de um adulto. Mãe!!!!!! Munida de uma vassoura começou as pauladas: uma, duas, três, quatro... parecia filme de horror. Várias pauladas depois, o bicho está morto. Estava? Incontáveis aranhas minúsculas se espalharam. Mais pauladas. Mais inseticida. Outras visitas apareceram: um escorpião embaixo da geladeira. Ratos que se acomodaram no forro do teto. O que mais a irritava eram os grilos. Apareciam em todos os lugares e cantavam todas as noites. Tiravam o sono. Virou caçadora de grilos. Entrava no quarto, acendia a luz e enquanto não matasse todos os grilos não sossegava. O ritual se repetia noite após noite. Bom era ir ao clube, nadar, brincar, andar de bicicleta, namorar.


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