domingo, 24 de março de 2013

Botas de borracha





Jatos de água cristalizam pétalas e azulejos, escorraçam bicos de pássaro. Sol matinal sobre o amarelo de luvas, botas e escovas que sodomizam piscina e jardim. Podar cachos de glicínias com longas tesouras que ensejam brilhos homicidas. Recolher folhas e grave-tos, cólica e cólera com a pá de lixo. Limpar as frestas das janelas. Correr a água sanitária no vaso, polir torneiras, desentupir o ralo. Porque não existe nenhum caminho, nenhum. Nem mesmo revól-ver ou corda de enforcado. Nada. Apenas galochas, a chave inglesa na laje, rugas, o pelame do cão siberiano para escovar.

2002
Cláudio Daniel

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