De Otavio Linhares
PANCRÁCIO, meu primeiro livro.
revisando-o pela última vez me vejo de frente para este
capítulo. ele me dá mais medo hoje do que quando foi escrito.
---
33
grandes convenções escorrem pelos lábios. postulações frases
enigmas. pústulas. de onde estou parecem micróbios com pernas muito pequenas
que fazem cócegas ao caminharem pela minha orelha. vêm da superfície da
garganta. da parte mais rasa da alma. entre o nariz e o cérebro. e você ri. e
você ainda ri. são muitos. um exército desordenado capotando. reproduzem-se por
capotamento. movimento caótico o ar se ejacula das narinas em bufadas. faz-se a
mistura na frente dos olhos. vento oxidado nos pulmões retorcido na base da
cabeça e bichos com perninhas. esses são seus filhos. damos as boas vindas
todos juntos. somos todos felizes porque sim. as mãos se tocam. as veias
fervem. vemos os sangues esquentarem o clima. é o fim da tempestade. sim é o
fim da tempestade. pelo beiral do meu cativeiro meu muro minha morada sim amo
este lugar vejo escultores em massa regurgitando a seiva da origem em
recipientes de alumínio e o cheiro da morte que eu ainda não conheci e da vida
que se esvai todos os dias amém se descola da coisa que fermenta e somos todos
de volta muito gratos e muito felizes e alguns do exército pedem mais e vibram
e têm a certeza. a convenção é maior e tem mais poder. me afundo na minha
trincheira e começo a orar e a minha oração é fraca porque meu deus não existe
e peço perdão e do fundo do corredor os convencionistas me enviam mensagens de
amor e o cheiro chega até mim. é hora de se alimentar. não viro o rosto. abra
os olhos. eles me alimentam. não agradeça. não faço isso. respiro e a mistura
se faz na base da cabeça e a superfície da garganta se veda. volto novamente e
de novo mais várias vezes e não tenho mais fome. e não tenho mais medo. não
tenho mais nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário