segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Favela

não há rocio.
tudo é terra estéril.
as árvores são as
vértebras da chuva.
a lama é uma feira
de infecções.

esta tarde, velha,
mastiga e cospe
crack e alcatrão.

a noite- aqui-
pesa
como
coturnos
e no entanto

amanhece.

alguém
abre uma janela para
os destroços da guerra,

lenta
como a ferrugem,
franca como peixe
que apodrece.
entre

a estrada das lágrimas
e rio dos meninos,
cedinho,
três cadáveres
assistem a televisão.

Rodrigo Madeira.
In Sol sem pálpebras.Curitiba 2007

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