(ter parafusos a menos é problema; o coração fica cheio de
buracos. não há pedreiros para consertá-los. não temos tempo para arrumar a
estrutura; nosso lar nos consome)
na sala de espera da terapia
a perna balança inquietamente
o relógio quebra o silêncio
entre a atendente do consultório
e os pacientes
impessoais
separados
lunáticos
- louco tem dessa
de querer viver a loucura a sete chaves
dançar em conjunto ao som da própria loucura
quando não namora com o mundo
e inventa um nome para cada amor
paixão
do cotidiano
espero por minha vez
e todos em mesma situação
(lugares certamente posicionados
distantes)
um outro entra correndo
não bate à porta do psicólogo
sem ensaios
chora
grita
esperneia
quebra a porta
interrompe a outra sessão
- cadê a minha cura, doutor? está doendo pra caralho!
ele passou por mim
roubou a minha vez
fechou a porta em minha cara
enquanto eu
sentada
também esperava pela cura
a minha cura
os outros
à espera
balbuciam
: que louco mal-educado!
- e existe louco educado?
eu gosto mesmo é da loucura exalada
aquela mesma
já dita
que nos faz sair no prejuízo ao final do mês
todos os loucos
na sala de espera
bravos
por um
mais louco
ter quebrado a porta primeiro
eles gritavam
em silêncio
- somos loucos!
- eu sou louco.
- eu sou mais louco do que você! a cura deve ser dada a mim
primeiro.
- louco egoísta
tem de monte
mas
quando
na camisa de força
chora
por não conseguir se soltar
sozinho
arrepende-se
e eu ainda estava lá
com a minha dor
esperando o outro louco voltar ao mundo real
para conseguir a minha cura
- não explodi
porque a liberdade estava me fazendo passar fome.
Thays Carolina ferreira
Um comentário:
Muito obrigada por partilhá-lo!
Beijo de luz.
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