quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

VITAMINA DE VULCÃO



Minha única riqueza
são essas vozes que me falam
os fantasmas que bebem chá comigo

Sou feita de ossos de cemitérios
estrelas mortas e flores ardidas
Sol febril e desértico 

magma vulcânico que me transporta
a lembranças hidratadas
de álcool, tabaco, haxixe e anfetaminas

ingenuidade acreditar em progresso

rock and roll melancólico
descostura meu coração
que desata do tórax
é esmagado por um ônibus no asfalto
– tal qual a cabeça do primo Johnny

Picadas de abelhas encaroçam minha pele
Onde está vó Maria com suas poções xamânicas?

Esse poema nasce espontaneamente
e desestimula abortos verborrágicos
Literatura é urina, gozo, saliva, sangue

Sorriso forçado diante das câmeras
elas captam meu obscurantismo
Já passei da idade de suicidar

Sou um Corvette estacionado na garagem
(por dentro)
acelero e explodo, nas estradas de Santos

O Astro Rei queima minha esperança
um fuzil refletido nas cicatrizes
bronzeio a pele como um frango de padaria
O Ermitão me pede calma; o Sol vai cooperar

Aos cinco anos soube o que era morrer
o sentido da dor: avante e doendo

Minhas fotografias herdadas dançam baile aos domingos

Almutem astrológico atualizado
– Saturno, Vênus, Lua, Júpiter –
Mutter, Rammstein

As matriarcas da família me desprezam
Estranhos tentam interferir em mim
Gastam suas goelas à toa
– ninguém dança tango no meu terreiro

Os animais de rua seguem-me como a uma andarilha

Prisca Merizzio


Nenhum comentário: