sábado, 13 de setembro de 2014

INFUSÃO

Elsa Oliveira


orquídeas mergulham no breu esverdeado do meu sonho. o verde líquido das suas folhas deambula névoas na pura respiração do segredo. esfumam-se as pétalas terríveis e ternas, diluem-se os doces dedos de leite, penetrando o sopro aquoso do lago. suspensos nadas negros de ternura nos escombros oníricos do ser mais puro.

oblíquos impossíveis, folhas lâmina rasgando suave e inequivocamente o ar do poema. escondem-se raras auroras guardadas na espera a que o papel obriga. querem voar, como os pássaros penumbrosos e soberbos no dorso da manhã. mas os sonhos são desenhos a tinta da china sobre uma folha de nevoeiro.

as folhas cortam a luz e o real, ladeiam com amores aguçados as gotas lânguidas do medo. os sonhos devem tocar-se com dedais. brumas cantam o silêncio de tempos imemoriais, lugares perdidos do etéreo e do assombro.

onde me posso perder? dá-me o teu ombro-esfera de brisa e de sombra, a pérola do teu sussuro. o repouso da lua é aqui, entre o mínimo e o imenso, ninho da onda suspensa, reino do deslumbre na tua constelação de inefáveis.


está tudo quieto. escuta. vê com os olhos nus e a alma aberta a nobreza do mundo. sente as suas mais subtis flutuações, o devir da quietude. o real absorve-te as pupilas no seu caudal de aguarela - todo o ser é infuso.

Elsa Oliveira....Portugal

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