sábado, 13 de setembro de 2014

NOSTALGIA DO CÉU


Ei-lo que sonha, triste e só. . . Que estranho augúrio
A alma te agita, Arcanjo Negro? Que magia,
Que sortilégio, à dura abóbada sombria,
No Orco, te prende o chamejante olhar sulfúreo?
Que encantamento cabalístico assedia
Tua cabeça? Em que palácio, em que tugúrio,
À evocação de Grande Mago, no perjúrio
Presa ficou tua infernal figura esguia?
Nada de mais. . . Lembra Satã a imensa Queda
No boqueirão da Eterna Sombra que lhe veda,
Eternamente, eternamente, ver os céus. ..
Punge-o a saudade, a nostalgia, a funda mágoa
De estar (Satã já tem os olhos rasos d'água!)
Longe da Luz, longe do Azul, longe de Deus!
(Rezas do Diabo, pág. 1-1.)

VENCESLAU DE QUEIRÓS

(1865-1921)

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