sábado, 13 de setembro de 2014

Matéria Lutuosa



(por Luiza Nilo Nunes )

Assopra sobre a memória destas mãos apenas um pássaro amanhecido de relâmpagos
Um veio de azulínea e etérea ave que encha a boca de pó e de fulgurante
Melancolia
Porque os dias desgastam-se circulares na oclusão prateada destes gritos luminosos
O luto corrói a pele límpida das rosas pela matéria celular dos claustros cálidos e
Negros
E uma lepra alastra ferozmente na curvatura dos teus bubónicos cabelos

Sobre o gótico e lustroso lixo desta casa as sombras recurvam na verticalidade das
Colunas
Os corredores fosforizam o mármore vítreo dos morcegos
As orquídeas mergulham no radioso inferno dos vasos, no sémen negro dos puros
Cálices metalúrgicos
Cheira a gladíolos a carne gélida dos anjos fossilizados palidamente pelos quadros
Os espelhos evocam sombras dóceis de gaivotas,
Pulsam nos vidros o rosto cerúleo dos espectros, silhuetas fibrosas, máscaras
Oxidadas de sonolência
E as abóbadas estalam em seus círculos planetários pela linguagem hemisférica das
Sanguinárias cassiopeias

Como cantar até que as aves ruborizem? Até que das pedras sofregamente
Trabalhadas um grito circule das narinas à memória?
Como congelar a gélida lágrima nas vasilhas?

Recordo
A casa recurvava-se em seu exílio de espadas plúmbeas de degraus rugosos de arcas
Incandescentes
A catedral inclinava-se no grito elástico dos pináculos
Nos quartos filamentosos de raízes os fósseis gesticulavam a pele sonâmbula dos
Insectos
E sobre a febre esverdeada das ruidosas melopeias as vozes fissuravam o luto
Crónico dos ossos
Havia uma harpa nocturnamente dedilhada no arquejar de um eléctrico
Pesadelo
Dédalos devozes que sibilavam o teu nome no quebrar-se das fosfóreas
Violetas


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