quarta-feira, 11 de setembro de 2019

DO TEMPO ESPERO




Do tempo, espero
a nudez de um corpo;
transformado em espaço,
um rosto.

Imagens que deponham dias,
a estudada geografia
de um torso
exausto,

sonhando tocar
a simultânea ausência,
região do mais etéreo encontro:
eu, o tempo; tu, o espaço.

Povoaríamos a casa
com a nudez das paisagens
sem paisagens,
coexistindo no absoluto

silêncio destas memórias:
as palavras, sem palavras
as mãos de colher mentiras
no dorso da história.

Puro movimento:
percorrer o desejo;
somos, teríamos sido
a casa, farol de doenças.

E o riso que déssemos,
rasgaria o tempo, recuperando
o que talvez tenhamos sido:
simples, como a morte.

Teu corpo ou tua casa
mediriam os caminhos.
Morrer, à sombra da origem,
no teu lugar, todas as horas.

Roberta Tostes Daniel, ainda ancora o infinito, ed. Moinhos

Nenhum comentário: