Parte I: A Caminhada
Pedro Penido
Esperou tanto tempo por lágrimas que nunca vieram. Caminhou
solitário pelas ruas, e tragou do tempo, bebeu do luar. Tornou-se resto do
tempo, à margem de suas visões. Inevitável como a morte, esquecido como a vida.
Envelheceu ali, solitário numa multidão, entre bons amigos do passado e
reflexos distorcidos de suas mais estranhas e monstruosas ambições.
Trovejou no temporal e silenciou-se ao amanhecer. Emudeceu
nas terras tocadas e marcadas pelo sol imperador. Ali, pouco a pouco,
misturou-se às ruas que trilhou. Deixou partes de sua alma no caminho e
absorveu do caminho o pouco que ele, por si só, poderia oferecer. Sempre alheio
à burocracia da vida e ávido por novas sedes e fomes. Sempre com os receios da
infância e os medos da velhice. Sempre obscurecido em suas lembranças, povoadas
de tantos vagos nomes.
Seguiu a trilha que lhe restara. Seguiu em frente, até não
poder andar mais. Chegou à costa e ali, ante o mar que se apresentava, saltou
na última nau que ainda existia. Olhou para trás... fitou a grande muralha
verde que se estendia ali. Não chorou ou sequer se comoveu. Ergueu uma taça com
sangue novo, brindou, gargalhou, virou-se para o mar e desapareceu.
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