sábado, 30 de junho de 2012

MONTANHAS ROCHOSAS


ou O SOVACO DO BRAÇO DE MAR



Fiz um risco branco de giz

no chão da sala de jantar.

Do lado de lá, as montanhas rochosas;

do lado de cá, um braço de mar.



No alto das montanhas rochosas

plantei um jardim no 100º andar.

Nasceram violetas, dálias e rosas,

que perfumaram o sovaco do braço de mar.



Nas águas do braço de mar,

as traíras saíram das tocas,

ondas puseram-se a cantar.



No fim, o giz, a montanha e o braço

abraçaram-se, debulhando-se em lágrimas,

indo dormir, desolados, no frio banco da praça.



- por JL Semeador.RJ,
 no Sujinho da UFRJ-Urca, em 02/09/2011 –

DAFNE

Branca

intensamente franca,

muda

... indecifrável;

janela aberta

a um nevoeiro lento

quase frio

em meio ao qual

movem-se fantasmas

formas feéricas,

diluídas...

qu’aos poucos

ganham vida,

transfogem da calma

para: o drama.



Fêmea,

de algum modo

fêmea,

ela reluta,

resiste

e súbito

cerra as cobiçadas

coxas,

antes mornas,

e agora frias

como o mármore

impenetrável

liso. Ai... Noite

que abraça as horas.



Ânsia.

Dedos que estalam;

caneta nervosa

intumescida

irmã da seta

de Apolo

que amou Dafne

e esta

em desespero

sem mais recurso,

para fugir-Lhe,

volveu a árvore

e celulose.



Cumpre então

insistir mas (com

cuidado...)

e horas se passarão

antes da vitória.



Sangue

do rubro, do anil

do vermeil

do âmbar

já borram sua face

enfim.

E ei-la:

maquiada,

noiva,

argenta

entre arrozes

luzes

e rosas loucas;

ei-la

desabrochada!

aberta e dada

ah, desvirginada...

enfim.



Mas o amor

fugaz sabe ser,

e toda cor se esvai

quando cessa

o olho

de fixá-la.



Madrugada queda,

o sono convoca

o poeta

exausto, exaurido;

e a folha,

toda riscada,

fica

fria







cheirando ao coito

e à tinta.



Igor Buys.SC

Ali

Há momentos em que

me sinto brutalmente

inspirado

... para algo dizer

mas não desvendo o que é...

Ali está, sob um véu tão fino,

aéreo,

― ali está ―

como coisa nua, como pêlo

ou pétala umectada

de luz

azul,

luz cor de mel:

ali está,

semi-aberto, semicerrado;

tão antigo, e calmo.

Ali está...

E fico à porta desse algo

(místico?)

mas não posso entrar,

transpor os umbrais,

respirar

ou me evadir;

ali

falena

sussurro

arrepio,

madrepérola.

(Ela

mulher

amante, infinita

repleta de todas as coisas

deus, deusa

arquétipo

princípio, palavra



silêncio

fim).



Igor Buys.SC

sábado, 23 de junho de 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

Heróis às avessas

Que dizer destes que dizem de si, o herói?

Fui cambaleante à pinguela da rua torta

Entendi o mundo daqueles que me cercam

Ao voar com minhas asas de cera, caí

Nasci com o defeito de tentar errando

Ao panteão do Amanhã, mirei o relógio lento

de todos os herois pretensos

Deserto o tempo é o de mim distante

Contei os passos rumo ao cadafalso

Tantas vezes desferi o berro ao espelho

Levantaram-me da lama mil vezes

Fugi do hospital para morrer quieto no quarto

Não reze alto enquanto preparo-me para à morte:

Renasci sempre de restos,

escrevi longas cartas aos fracos!

E na fraqueza de ser franco, reconheci:

Todos nós somos um pouco

Do pior do que criticamos nos outros!

Eles que caminham altivos e convictos

De nunca ouvirem o grito d’alma que vocifera:

Seja você o que erra! Seja você o que erra!

Apenas uma vez que seja, seja você humano!

Marcos Guimarães

Amor de Nuvem

Vou desenhar em teu rosto de nuvem

Duas estrelas que furem meus olhos

Moldar-te translúcida em raios de sol

Ser o vento simples que te faz forma

Deixar a lua emaranhar-se ao teu cabelo

Andar de mãos dadas em poentes

Sentindo teus dedos de algodão

E se de repente não mais a ver

Direi tão somente havê-la assim:

Em qualquer canto de céu

Construído um amor esparso

apesar de não ter sido ao fim

que tenha sido eterno

pelo menos para mim!

Marcos Guimarães

domingo, 17 de junho de 2012

pensando
na raiva que você me faz
na falta que você me trás
na fala que são apenas palavras
nas minhas e nas suas falhas
não sei se te quero tanto
faz bem até não fazer mais
transborda sem ter pra onde
nem pela frente nem pelas costas
nada satisfaz
o ouvido já não esconde
a boca só faz falar
as roupas que já não servem
os pratos principais
ainda quero
mas tristemente
desconheço sinceridade
nesses dias de sol escuro
falta claridade
lembro de como somos
fico pensando
acho que está ficando tarde
para brincar

Douglas Rosa

http://rollmopis.blogspot.com.br/

O Primo Beijo

Acolho-me à flagrância da fragrância
Se vejo a flor que beija o beija-flor
Seus lábios, frutos vescos, surtem cor
Parece que perecem de carícias...
Pois brilham providentes de delícias
Abertos, colibrisam a nave flor!

Altair de Oliveira - In- O Lento
*

PRÉ-TENDÊNCIA A BEM-OLHADO

Veja bem, se me olhares eu tomo forma
Pois teus olhos de luz, se me contornam,
(forma um lar o teu olhar que me contém...)
Me comportam, me alentam e me confortam
Ah, meu bem, vem me ver! Eu me conformo
E me contendo em ser o teu melhor bem!

Altair de Oliveira - In- O Lento Alento

***
Para ver mais:
http://www.poetaaltairdeoliveira.blogspot.com.br/




sábado, 16 de junho de 2012

Reflexão

para Claudia

Sob a suavidade do teu olhar perscrutador
transito pelo inconsciente,
e o peso do passado
rola queimando a face.

Arqueóloga cavando
memórias irreversíveis
fixadas na trajetória do tempo.
Itinerário não cronológico
anotado em parcelas
resgatado em rotas melancólicas
Reciclando névoas confusas e ramificadas.

Inadvertidamente
se teus olhos refletem a mim
também os meus a ti refletem.


Deisi Perin

Duas Velas

Ei, Deus...
ajude os pobres e os necessitados!

Ei, Satã...
mate os poderosos endinheirados!

Ei, Deus...
mostre-me o bom o certo o verdadeiro!

Ei, Satã...
dê-me todo o poder ou algum dinheiro!

Ei, Deus...
ouça o cântico amor amor amor!

Ei, Satã...
dance a litania o horror o horror!

Ei, Deus...
envie Satã já que você está demorando!

Ei, Satã...
traga Deus consigo de vez em quando!

Davi Araújo.SP

Verve

    Estou incógnito
por sob os pés sutis da sombra
cujos pés nessa clara servidão colam-se aos meus

    Estou insólito
em meio às fés em mil deuses
nos quais tem ainda outras fés meu próprio deus

   Estou finito
sobre rés do chão fora dos dias
aos quais sempre volto em rés que julgo jubileus

   Estou aflito
dentro das sés rezando em mim
que é nessas sés que confesso crer mais em ateus

   Estou escrito
entre o quem és tu e teu ler-me
que és lido diário e nos somando somos mais eus

Davi Araújo.SP

Curriculum Vitae

Eu sei ler e escrever (e nisso sou destro)
Bem como falar e ouvir com três sentidos diferentes
Os outros dois não quis aprimorar, mas os três valem por seis
Não toco nenhum instrumento, mas aprecio de ouvido
Assovio mal, mas com originalidade
Li uns cinco mil livros e escrevi uns dez
Embora desafinado, sou capaz de cantar
Não sei arrotar, mas faço outros ruídos estranhos com a boca
Posso peidar bem alto para forçar alguém a rir
Às vezes consigo não rir sob cócegas
Fico mais de um minuto sem respirar
Sei bater palmas e quando fazê-lo
Não sei dançar, menos rock & roll
Sei andar, para frente e para trás; para frente também sei correr
Cambalhota igualmente eu dou para frente e para trás
Sei virar estrela, para um e outro lado, brilhantemente
Andar também faço a cavalo ou burro
Nado na água e trepo em árvores, apenas respectivamente
Posso pular ou permanecer em pé em um só pé
Sei pular corda e andar de bicicleta com esmero
Sou bom motorista de carro, de moto tenho medo
Consigo atirar uma pedra beeeeem longe
Sei amarrar os cadarços dos tênis, mas um de cada vez
Não sei fazer aviãzinho, mas faço origami de passarinho
Sei tomar ônibus, metrô, trem e avião sozinho (pago passagem)
Sou bom em caça-palavras, palavras-cruzadas,
caça-cruzadas e cruza-caçadas
Jogo xadrez nível básico
e jogo da velha avançado (quando começo)
Sei jogar futebol, voleibol e basquetebol,
mas acho muito quadrado
Faço flexão de braços, abdominais e polichinelos,
mesmo sendo tão cansativo
Faço-me desfazer do cigarro
com apenas dois dos meus vinte dedos
Livro-me das piores sujeiras do nariz com indefectível discrição
Cruzo as pernas sem qualquer deselegância
e os braços com alguma empáfia
Sei combinar as cores das roupas, até com pressa,
se a luz estiver acesa
Educado, como com garfo e faca ou colher,
e com as mãos quando aqueles faltam
Sou bem humorado, menos de manhã
Consigo ficar 48 horas sem dormir sem café
Sei ver as horas no analógico e diferenciar AM de PM no digital
Demoro para dormir, mas luz e som não me incomodam,
embora causem insônia
Sei como plantar feijão e maconha e saber o que é legal
Conheço a técnica de ferver e congelar água,
além de derreter gelo
Tempero, refogo e frito, embora não saiba cozinhar
Aprendi a beber e fumar e até a achar isso gostoso
Como pouco, mas gosto muito; não como de tudo, mas consigo
Sei beijar na boca, a língua aí inclusa (com ou sem bala)
Pisco os dois olhos independentemente
ou até os dois ao mesmo tempo
Pego na mão com carinho e dou aperto de mão com força
Deixei precocemente de ter de deter a ejaculação precoce
Conheço o Kama Sutra, mas só domino meia dúzia de posições
Aprendi a colocar e tirar preservativo, mas feminino ainda não
Posso gemer bonitinho e ter um orgasmo sem gritar
Sei masturbar, eu e ela, e fazer sexo oral (só nela)
Estalo pulsos e tornozelos,
vinte lugares nos dedos das mãos e dez nos dos pés
Não possuo deficiência física, mental ou cognitiva perceptível
Posso conseguir um barbear perfeito e conter a hemorragia
Nunca tive alergias, doenças graves ou contraí hipocondria
Mijo antes de balançar, limpo a bunda sem ajuda
e depois dou descarga
Jamais tive prisão de ventre e,
em caso de diarréia, faço soro e saro
Tenho 28 dentes (de leite) que escovo a toda hora,
já que leite também é refeição
Limpo minhas (duas) orelhas sempre que falta terra no jardim
Suporto bem o nojo de engolir sapos ou cuspir cobras e lagartos
Não tenho medo de altura, mesmo que ela seja maior do que eu
Fiz três tatuagens indiscretas
em locais discretos (locais do meu corpo)
Em uma dezena de países, perdi-me para me achar e voltei
Mantenho as unhas de mãos e pés aparadas
e sem chulé (nas mãos é mais fácil)
Tenho dois jeitos falsos de sorrir,
com ou sem dentes amarelos aparecendo
Sei ler bula de remédio, mas confesso fazê-lo sem prazer
Não sou muito racista, xenófobo, sexista ou tampouco hipócrita
Até conheço por socorro de terceiros os primeiros socorros
Não sou violento nem insensível às feridas que causo a outrem
Aprendi a brigar na rua,
dou até cabeçada e voadora (mas não no mesmo golpe)
Tenho excelente cicatrização e diariamente sangro muito pouco
Escrevo com letra legível e bonita, eu acho
Tenho muito boa aparência, acha minha mãe
Converso bem em três idiomas (o meu incluso)
Não sei digitar, mas faço-o com extrema rpdz
Conheço as quatro operações matemáticas e a calculadora
Mas também decorei a tabuada, senão estava de castigo até hoje
Sei de cor a data de nascimento e RG (CPF estou treinando)
Não sei contar piada, mas conheço inúmeras ótimas
Conjugo verbos razoavelmente e uso os pronomes com correção
Domino as linguagens de caixas eletrônicos
e aparelho de microondas
Exerço um remoto controle sobre televisores e aparelhos de som
Faço uso exímio de escadas, saca-rolhas e abridores de latas
Apenas nunca aprendi a usar lapiseira e contar sílabas poéticas
Sou poeta
e não tenho disponibilidade para atuação em outras áreas.

Davi Araújo

Liberdade de expressão

cada palavra que digo é o que significo
não me contradiz
não me liquidifico
cada gole que entorno é o que beberico
cada problema que assinalo é o que xis
não me cicatriz
não me metrifico
cada linha que escrevo é o que versifico
cada máscara que encaro é o que nariz
não me perfis
não me namorico
cada beijo que abocanho é o que kiss.

Davi Araújo


DAVI ARAÚJO (São Paulo, 1979). Poeta, ficcionista e tradutor. Autor dos blogs “Não Fique São” e “Transatravés”, tem poemas publicados em TriploV, Pó&Teias, Diversos Afins e Mallarmagens. Traduziu os ensaios “Natureza”, de Emerson, e “Caminhada”, de Thoreau, pela editora Dracaena. Seu próximo livro será “Ficções paralelas & Visões para lê-las”, coletânea de prosa experimental. Atualmente, conclui dois livros de poemas, continuações da trilogia iniciada com “Livro Ruído” (Eucleia Editora, 2011), publicado em Portugal.


Psiconauta

Enteogênico trago o fumo
Navego e naufrago e me aprumo e apago
A natureza (marinha) da (minha) existência
Abro as comportas da percepção
Peresigo a sombra da minha relespiração
Boca-a-boca, com que me dito a ação
Mas turba a ação, desde um caos maravilhoso
Alterando outra alteridade sem piedade
E se falo com Deus sou piedoso
E se Deus me responde sou louco
Atinjo o fundo, ou ele me atinge
Uso o espiritual, o recreacional
Pouco a pouco há pouco
Uso muito mais do que podia
Ora jejuo, ora me alimento
Tento hipnose e glossolalia
Enjôo mais do que não experimento
Tento uma projeção austral
Ou de cinema autoral, e sonho lúcido
Com os Estados Alterados da América
Pois o enfadonho não desabou
Psicotópica era velha a nova era
Tudo meu eu, meu eu nada, pratica borboleta
Desde Bertyoga em ondas cerebrais
Do Oiapoque ao Feng Shui
Do homem almar, o Mar de Davis
Afogado em Antártica ou em Brahma
Qual zentropia que respiro sentado
Como uma flor de lótus apetitosa
Depravação sensorial de lírio, de rosa
Como cannabis como canibal
Tortura por cócegas, sessão de anedotas
E um ritual besta de culto ao capeta
Intersecção dos cus juntos com xoxotas
Intersucção de um mamilo ou caralho
Café velho com remédios tarja preta
Suspenso pelos piercings ou plus ultra
Lance de dados e mesas de baralho
Dances de lado que não me atrapalho
Realismo histérico e kharma sutra
Vaca atolada servida frita sem mugidos
Deficiência de vitaminas ou autoflagelação
Objetos geométricos brilhantes e coloridos
Sob as três vistas vesgas da observação
Árvores no céu da boca do inferno
Divorciados da queda do ar
Pau d’água que dá frutos do mar
O ser e o não-ser moderno
Bestiário místico por domar
Auto-indulgência por doar
Eu devo estar acordando, me belisca
Cogumelo mágico, peiote e mescalina
Para fisgar ao peixe que pesca a isca
Sob um feixe de farol que me alucina
Monóxido de carbono e luz que pisca
Preto e branco, entre ambos os halos, sina
Tenho visões de mensagens sublunares
Ouço vozes que gaguejam, que praguejam
Que dementes mencionam mais dimensões
Em doses cavalares, revoluções interdisciplinares
Novas possessões, novíssimos círculos
Expandindo a mente com as ficções mais belas
E viajarei pelos sete bares, pelas verdades paralelas
Tomando tombos tão ridículos que não acredito
Gozando o que fico sabendo, sendo maldito
No que me cago e vomito lagartos elásticos
Seres fantásticos, memórias que apago
Lembranças que recupero, assim espero
Nessa chama que chamo xamânica
Que me torra a casca, serafim de ayahuasca
No vago redemoinho dessa linguagem oceânica
Bem consciente de estar submerso
E eis que do meu diário de bordo, transbordo
Como o homem que bebeu o universo.

Davi Araújo. SP

Falível Inefabilidade

Vida, objeto virgem. Amor, palavra vertigem.
Aquele que ama tenta domar unicórnios e deflorar o momento.
Viver não requer qualquer lugar ou uma idade de consentimento.
Aquele que vive tenta construir zigurates e traduzir o limite.
Amar não prescinde de confundir as línguas que o abismo recite.
Vida, palavra indefinível. Amor, objeto impossível.

Davi Araújo. SP

terça-feira, 12 de junho de 2012

Sentimania


Já sei sorver de leve a tua fala
banhar-me nos resquícios do teu cheiro
eu posso ver teu rosto em quase tudo
imaginar vertigens nos teus pêlos...

Sou coisa de acender quando te vejo.
Só quero te encontrar quando procuro.
Só penso em te ouvir quando me calo.
Te quero no início do futuro
enfrutecida árvore de beijos.

Altair de Oliveira – In: O Embebedário Diverso
***

Vox Urbe - Fabio Weintraub 02

.o hábito escarlate.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Terezinha de Jesus

O primeiro foi seu pai.

Terezinha nasceu sem berço, sem abraços, sem festa.
Nasceu em casa, se é que se pode chamar de casa aquela construção engraçada que não tinha teto, não tinha nada.
Nasceu de parto natural, se é que se pode chamar de natural espremer-se até expelir um corpo estranho, uma cria indesejada, em berne.
E seu pai foi o primeiro porque naquela casa só tinha uma cama e Terezinha dormia com os pais, no meio dos pais, com os pés no saco dos pais, com a boca no seio da mãe.
Ela teve tantos pais quantos foram os homens que se deitaram naquela única cama.

O segundo seu irmão.
Terezinha teve tantos hermanos que no los puedo contar. Mas nem todos eram filhos da mãe. Cada um era filho de um pai e sua mãe chamava de filho qualquer filho da puta que aparecesse naquela casa, por isso todos se chamavam de irmãos e se amavam muito e dormiam todos juntos, porque naquela casa, só tinha uma cama.

O terceiro foi aquele a quem Tereza deu a mão.
Ela não deu só a mão. Ela deu o coração, o corpo e a cama. Mas antes de dar no pé, ele deu um tiro bem dentro da boca de Terezinha e outro no ouvido do irmão, que dormia em sua cama, porque Terezinha era uma boa moça e aprendeu com sua boa mãe, que aprendeu com um bom pastor, que aprendeu com Jesus, que devemos amar ao próximo como a nós mesmos.

Marilda Confortim
juntadas as regiões mais nobres e as paletas lavradas em oficinas, todas elas retas montá-la é desmontá-la pelo avesso:
onde faltar questão eu ponho gesso."
("montar a musa, 5, fragmento", romério rômulo)
Fiz um trato com o SOL
Quando ele aparece escrevo dobrado.Quando ele desaparece leio dobrado. Ler é da dimensão
Yin.Escrever é Yang.Ninguém me ensinou isto, somente suspeito. Oito dias sem sol em
Curitiba. Soletro devagar a palavra s o l  e logo escrevo.

Glória Kirinus

sábado, 9 de junho de 2012

Meu olhar
teu olhar
fascina

minha vontade
tua vontade
assassina

meu nome
teu nome
assina

meu ser
teu ser
combina

Márcio K
Nós somos feitos
de fé e pão
céu e chão
imagem e perfeição
miragem e desilusão
amor e traição
ódio e compreensão
certeza e contradição
nós somos feitos
não nos fazemos.

Márcio K

Arrepio

A pele
separa
o interno
do externo
a poesia
junta.

Paulo Madureira
Na ponta da evolução
apontam revoluções
transmutação sem trégua
visa água esgoto
oxigênio carbônico
ferida exposta na pele
fina do homem biônico
natureza trabalhando
matéria decomposta
e agora é perfumosa flor
o que antes era bosta.

Carlos Souza

O Muro

As horas não impedem o silêncio
quebrado apenas pelo pensamento
são fragmentos que ultrapassam
a barreira de sentimentos
um muro feito de palavras
ergue-se entre os sentidos
dando um colorido diferente
das coisas da gente.

Rory
Curto o tédio de morrer um pouco todos os dias
Quisera ser nuvem movendo pesadelos movediços
desses dias que são tão longos quanto curta é a vida.
Saio da couraça e me corto com uma pena
sangra o espírito.
O poeta é um fingidor
eu não fujo da dor é a dor
que de mim foge.
full time

Wilson Roberto Nogueira
A flor efêmera da juventude
breve flagrância diante do ataúde.
plenitude de um dia .
virtude?
onde rola na ribanceira
da ribalta.
Atitude sem freio.
Formosura
Formas de flor queimada
pela própria chama amada .

Wilson Roberto Nogueira
Cadafalso
cada qual
sua verdade
no verbo da sua face
sua a alma a porta
da liberdade
dói a dor que se despede
não há nada mais a perder
a vida faminta humilhando
a cada passo o poder semeando
nada alem do desespero
agora um passo em falso
sonha a liberdade voando alto
Morre o corpo fica o espírito
a Palavra :
Liberdade.

Wilson Roberto Nogueira

Caminhadas

CAMINHADAS
Escrever versos quando sonhos já não existem
Exigem na mensagem concreta dos fatos que persistem
na monotonia monocordica da intolerância
sinal patológico da nossa herança ,a beligerância
com que tomamos como nossos ,instintos saúricos
vestidos com a roupa da racionalidade instrumental
objetivando sugar do outro sua essência para derramar
nossa pútrida noção de civilização , nossa venérea
corrupção tão doce ,que não nos percebemos mais,
não nos vemos mais alem das nossas criticas superficiais,
A prosa já não sacia o verbo embolorado ,com gosto de rolha
vinho precioso venerando que virou vinagre como nossos horizontes.

Wilson Roberto Nogueira

O escritor-aranha

O ato da escrita tem – na minha opinião de editora – algumas semelhanças com o trabalho das aranhas tecedeiras, aquelas nossas amigas de oito patas e variado número de olhos que fazem teias.
Com certeza, elas não entendem nada de editoras, mas sua abordagem para armar teias pode ser muito instrutiva para quem deseja escrever. Não a toa, elas são símbolo da escrita, inventoras do alfabeto e musas da criatividade em mitologias de várias culturas. Veja só.

Lição aracnídea número 1

As aranhas fazem suas teias muito rapidamente.
Em meia hora ou quarenta minutos, mesmo aquelas teias grandes e lindamente geométricas ficam prontas. O recado para escritores é: trate de escrever o que você pretende rapidamente e chegar ao término de seu projeto. Escrever livros não é um trabalho para se estender por toda a vida, mas algo pontual e com um fim em vista.

Lição aracnídea número 2

As aranhas fazem teias apoiadas em algum lugar.
Repare que mesmo as teias mais intrincadas precisam ter várias linhas que as ancorem a pedras e árvores, de modo que não se rompam com o impacto do inseto. O equivalente na escrita é a ligação com a realidade. Mesmo a ficção mais delirante, a poesia mais fantasiosa, precisa ter linhas firmes e resistentes de conexão com o mundo real, para que o leitor não escape da leitura por achar o perfil psicológico do personagem impossível ou sua ação deslocada em relação aos acontecimentos apresentados.

Lição aracnídea número 3

As aranhas fazem teias para capturar insetos.
Esses animais não perdem tempo fazendo teias para outra coisa que não seja enriquecer sua dieta de proteínas. Na escrita, isso quer dizer uma preocupação em construir tramas para capturar a imaginação do leitor e nada mais. Charmes estilísticos, efeitos literários, citações profundas devem ser todas deixadas de lado se não contribuírem para enredar o leitor na história.

Lição aracnídea número 4

As aranhas constroem suas teias onde há insetos.
Nossas práticas professoras se empenham em armar suas redes onde muitas vítimas em potencial voejem, pulem ou passeiem. O que escritores devem aprender com isso é escrever suas histórias para públicos que existem, ou seja, grandes grupos de pessoas que possam se interessar por aquele tema e abordagem.

Lição aracnídea número 5

As aranhas fazem teias invisíveis.
É evidente que o inseto não pode enxergar a teia antes de bater de encontro a ela, ou simplesmente fará um desvio em seu plano de vôo. Do mesmo modo, se o leitor perceber como a trama foi construída – com excesso de lógica ou pouco suspense, por exemplo – certamente perderá o interesse e escapará da leitura.

Lição aracnídea número 6

As aranhas refazem suas teias sempre que necessário.
Se você jogar talco numa teia para enxergá-la, dali a pouquinho sua proprietária a desmanchará e fará uma nova teia, mais leve e menos visível. Se você romper um dos fios da teia, a aranha também se apressará em tecê-lo de novo. Ensina assim ao escritor que, quando sua obra deixa de funcionar por alguma razão, a abordagem eficiente é desmanchá-la e refazê-la, sem pena pelo que não cumpre mais sua função.

Lição aracnídea número 7

As aranhas não ficam presas em suas próprias teias.
Apesar de a maioria dos fios das teias serem pegajosos, as aranhas sabem onde colocar suas oito patas para não ficarem presas em suas construções. O escritor-aranha aprende com isso a não ficar fascinado com seu próprio trabalho, mas tratá-lo como uma ferramenta útil para atingir seu objetivo: capturar a imaginação do leitor.

Lição aracnídea número 8

As aranhas fazem muitas teias.
Uma vez que necessitam de bastante proteína, as aranhas precisam caçar uma quantidade respeitável de insetos por dia. Sendo assim, não perdem tempo em fazer nova teia assim que terminam uma refeição. O recado dado a você, escritor, é fazer muitos projetos, escrever bastante, incorporar a escrita às suas rotinas diárias para conseguir atingir o objetivo de criar bastante e ter muitos leitores.              Desejo-lhe boa sorte e um futuro cheio de teias eficientes

Priscila Prado

011207

Par de Tênis No Fio de Luz


Numa madrugada quente e bela...
No alto morro da favela...
Um alegre adolescente,
De um jeito fremente,

Jogou seu par de tênis idoso,
De um jeito levado e jocoso,
Num fio de energia elétrica...
Com alma frenética!

O par de tênis furado...
Ficou atordoado...
Pegou sol, tempestade...
E vento forte de verdade!

O par de tênis bebeu o vinho do luar...
E uma estrela, para ele, viu piscar!
Ele percebeu que num doce domingo...
Gostaria de aquecer os pés do mendigo!

Porém, quando apertou a saudade...
Surgiram dois canários com sinceridade,
Que fizeram ninho neste par de calçado...
De um jeito puro e abençoado!

Vovó dizia que para cada chinelo...
Há um par de pés carente e singelo!
Um poeta falou que para cada tênis em par...
Há um fio de luz que nasceu para amar!

Quando a energia me seduz...
Viro este par de tênis em um fio de luz!
Transformo-me em ninho de sentimentos,
Que não acabam com os ventos.

Luciana do Rocio Mallon

Um Boi Entrou na Loja

Um boi entrou na loja de roupa...
E uma vaca ficou presa no ponto...
A vaca saiu medrosa e louca...
E boi saiu assustado e tonto!

O boi transformou-se em cliente...
Pois dos peões queria escapar...
Mesmo com o seu jeito inocente...
O vendedor da loja foi atormentar!

A vaca assustada e solitária...
Fugiu da feira agropecuária...
E queria tomar um coletivo...
Com o seu coração ativo!

O boi exibido e carente...
Fugiu de um acidente...
E na vitrine virou manequim...
Desta loja sem fim.
Luciana do Rocio Mallon

Desaparecido: O Sol de Curitiba


Há quinze dias, Curitiba está no
breu...          
Porque o rico Sol desapareceu!
 As nuvens falaram que
foi uma conspiração em teoria,
Que sumiu com o rei Sol e
toda a sua harmonia!      

Acusaram a Lua de matar o
astro rei,
Para viajar só no universo
e fazer a sua própria lei!
Mas, ela nunca mataria o
seu amado...
Como já revelou um anjo
alado!

Porque a Lua apaixonada...
Gosta de ser iluminada!

Dizem que foi vingança da
Estrela Dalva...                                                                            
Porque o Sol não deixou a pobre
cantar...
Então, esta deusa Vênus ficou
alva...
E jurou se vingar congelando todo
o ar! 

As estrelas falaram que foi um
bandido vândalo,
Que fez um perigoso seqüestro
relâmpago...

E levou o Sol para um cativeiro...
Escuro, nublado e traiçoeiro!
O marginal apagou o fogo da lenha,
Porque descobriu a senha...

Dos raios dourados e solares...
Assim, mandou uma triste
tempestade...
Com granizos em muitos ares...
Pois roubou as luzes de
verdade!

Este marginal é da
quadrilha da geada,
Que veste um “baby-doll”
frio e transparente,
Ela,
realmente, deseja deixar o Sol sem nada...
Porém, ele é
precavido, cuidadoso e valente! 

Porém, o Sol não vai
entregar a riqueza
Para esta sedutora, linda
e vulgar bandida        !
O Sol precisa da liberdade para
mostrar a beleza,
Que num dia nublado de outono fica
escondida!

Porque para ter arco-íris com pote
de ouro...
É preciso ter o Sol depois da
tempestade...
Ainda bem que o segredo deste
tesouro...
Os marginais não conhecem de
verdade!

  
  
Há quinze dias, Curitiba está no
breu...          
Porque o rico Sol desapareceu!
 As nuvens falaram que
foi uma conspiração em teoria,
Que sumiu com o rei Sol e
toda a sua harmonia.

Luciana do Rocio Mallon

quinta-feira, 7 de junho de 2012

ACONCHEGO

Nestas noites de
pele fria
Quero a tua bacia
quente,
Maria...
junto da minha.

Altair de Oliveira
In: O Embebedário Diverso

domingo, 3 de junho de 2012

Caminhos

Caminhos idos
vindos
Estradas ralas
valas
Trilhas ilhas
incertas
Campos abertos
desertos
Sementes soltas
envoltas
nos grãos de terra
entre as pedras
germinam
e nascem as flores
pelos caminhos...

Adélia Eisensfeldt.RS
Tenho vontade
de ouvir uma
música mole
Que se estire por
dentro do sangue.

Raul Bopp. RS
Tenho vontade de hábitar todas as folhas em branco para gastar este extenso estoque de silêncio.

Miguel Sanches Neto.
Somente a Arte , esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
todo o fogo telúrico profundo
E reduz, sem que , entretanto, a desintegre,
à condição de uma planície alegre
a aspereza orográfica do mundo.

Mário Bortolotto
Meu lugar

é em lugar algum
Não caibo nos espaços
nem navego no fluxo
Visto tamanho único
Mimetiso
Aspiro fumaça
sem tragar
desisto sem respirar
Camadas de polimento
escondem minha cor
Sorvo ácido e veneno
cruzo as pernas delicadamente
Curvo-me
Ando sem vida
falo sem ser percebida
circulo pela cidade
alta - baixa
Meus pecados
contei-os todos
ao padre
ou à terapeuta
não lembro qual.
Rasgo as vestes
mas sempre sobra
um trapo de culpa.


Deisi Perin

sábado, 2 de junho de 2012

A televisão decidiu prestar uma homenagem ao silêncio.

Ouçamos seu pungente discurso na tela negra dos sonhos.
A greve da imagem é um tributo à dor de pensar.
Estiva no porto árido a espera de novos desembarques.
No horizonte da imagem a promessa irrealizada do arco-íris,
não haverá nenhum pote de ouro submerso. É só imagem
vertigem do delírio que entretem ao som das cores que velam
na miragem a morte iminente de um cérebro sedento a beira



da morte.

Wilson Roberto Nogueira
A insuportável capacidade alienável da cidade entorpece a mente esquecendo a semente
do húmus humano alimento das famintas bocas da noite nos sorrisos feéricos babando
nas cicatrizes as caixas de aço onde almas se desprendem em feras- apêndices de cascas
de aço e fumaça fumando vidas embriagadas de gasolina ou alcool.
Na memória do tempo a espera verde do vale perdido, invadido, sangrado e despejado das cicatrizes de asfalto onde caminha um guará desnutrido procurando um curumim.

A insuportável capacidade alienável da cidade entorpece a mente esquece o alimento do conhecimento
deste espírito contido despido da angústia do intelecto campônio migrante testando a palmilha de sua humildade no breu de sua ignorância bondosa à margem dos palácios das promessas e engodo de cores fugidias dos cristais espoucando na ribalta da cidade  procura uma caixa de madeira por morada , seu ataúde móvel, arca de sonhos onde corre o rio abençoado pelo sol . Corre a criança até o sol que se esconde no horizonte.Era um caminhão que chegara para curar-lhe da embriaguez.

Caminha um lobo guará desnutrido procurando um curumim.

Wilson Roberto Nogueira

Na cama de mármore repousa um nome apagado pela areia do tempo. Pranto sem voz que aguardo na luz a expressão da palavra consorte, que ora dança coberta de fumo sob a laje que testemunhou seus segredos sussurrados gota a gota .

Wilson Roberto Nogueira

ENCHAM-SE os forros da lembrança.

ENCHAM-SE os forros da lembrança.
existam!
traia-se à maturidade
a verdura da infância.

a menina é arrancada do chão,
antes da escola,
da igreja, do trabalho,

dos carros e contas
e casamentos,

dos tribunais, asilos

e cemitérios,

como flor guardada
dentro de um livro
– enquanto a outra cresce,
adultescendo
pouco a pouco.

nunca mais a vi.

segurei-a nas palavras o que pude,
com minhas mãos
(as mesmas quando
de manhã na lâmina)
estropiadas
de ternura
e espanto.

não é apenas saudade,
menina,

é infânsia

Rodrigo Madeira
as missas não mais em ucraniano. sou uma espécie de latin lover sem bigode na saída da Catedral, olhando passar meninas brancas embrulhadas em lã. tenho um cigarro nos dentes e nunca mais a preocupação de não levar uma bronca da vó. cachorros longe latem o sangue das veias. sábado amanhece o centro velho. os sinos abalam o vôo das pombas. girinos nos lagos do Passeio Público, lâmpadas fosforescentes dentro da neblina. a Ilha da Ilusão a abrigar uma barraquinha de cachorro-quente. um simbolismo impertinente, fora de época. o mesmo magro odor de encontrar o fantasma do Emiliano Pernetta acenando um bom dia feito dissesse uma reza positiva.
Luiz Fernando Leprevost
A televisão decidiu prestar uma homenagem ao silêncio.

Ouçamos seu pungente discurso na tela negra dos sonhos.
A greve da imagem é um tributo à dor de pensar.
Estiva no porto árido a espera de novos desembarques.
No horizonte da imagem a promessa irrealizada do arco-íris,
não haverá nenhum pote de ouro submerso. É só imagem
vertigem do delírio que entretem ao som das cores que velam
na miragem a morte iminente de um cérebro sedento a beira



da morte.

Wilson Roberto Nogueira