sábado, 2 de junho de 2012

ENCHAM-SE os forros da lembrança.

ENCHAM-SE os forros da lembrança.
existam!
traia-se à maturidade
a verdura da infância.

a menina é arrancada do chão,
antes da escola,
da igreja, do trabalho,

dos carros e contas
e casamentos,

dos tribunais, asilos

e cemitérios,

como flor guardada
dentro de um livro
– enquanto a outra cresce,
adultescendo
pouco a pouco.

nunca mais a vi.

segurei-a nas palavras o que pude,
com minhas mãos
(as mesmas quando
de manhã na lâmina)
estropiadas
de ternura
e espanto.

não é apenas saudade,
menina,

é infânsia

Rodrigo Madeira

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