sábado, 16 de junho de 2012

Psiconauta

Enteogênico trago o fumo
Navego e naufrago e me aprumo e apago
A natureza (marinha) da (minha) existência
Abro as comportas da percepção
Peresigo a sombra da minha relespiração
Boca-a-boca, com que me dito a ação
Mas turba a ação, desde um caos maravilhoso
Alterando outra alteridade sem piedade
E se falo com Deus sou piedoso
E se Deus me responde sou louco
Atinjo o fundo, ou ele me atinge
Uso o espiritual, o recreacional
Pouco a pouco há pouco
Uso muito mais do que podia
Ora jejuo, ora me alimento
Tento hipnose e glossolalia
Enjôo mais do que não experimento
Tento uma projeção austral
Ou de cinema autoral, e sonho lúcido
Com os Estados Alterados da América
Pois o enfadonho não desabou
Psicotópica era velha a nova era
Tudo meu eu, meu eu nada, pratica borboleta
Desde Bertyoga em ondas cerebrais
Do Oiapoque ao Feng Shui
Do homem almar, o Mar de Davis
Afogado em Antártica ou em Brahma
Qual zentropia que respiro sentado
Como uma flor de lótus apetitosa
Depravação sensorial de lírio, de rosa
Como cannabis como canibal
Tortura por cócegas, sessão de anedotas
E um ritual besta de culto ao capeta
Intersecção dos cus juntos com xoxotas
Intersucção de um mamilo ou caralho
Café velho com remédios tarja preta
Suspenso pelos piercings ou plus ultra
Lance de dados e mesas de baralho
Dances de lado que não me atrapalho
Realismo histérico e kharma sutra
Vaca atolada servida frita sem mugidos
Deficiência de vitaminas ou autoflagelação
Objetos geométricos brilhantes e coloridos
Sob as três vistas vesgas da observação
Árvores no céu da boca do inferno
Divorciados da queda do ar
Pau d’água que dá frutos do mar
O ser e o não-ser moderno
Bestiário místico por domar
Auto-indulgência por doar
Eu devo estar acordando, me belisca
Cogumelo mágico, peiote e mescalina
Para fisgar ao peixe que pesca a isca
Sob um feixe de farol que me alucina
Monóxido de carbono e luz que pisca
Preto e branco, entre ambos os halos, sina
Tenho visões de mensagens sublunares
Ouço vozes que gaguejam, que praguejam
Que dementes mencionam mais dimensões
Em doses cavalares, revoluções interdisciplinares
Novas possessões, novíssimos círculos
Expandindo a mente com as ficções mais belas
E viajarei pelos sete bares, pelas verdades paralelas
Tomando tombos tão ridículos que não acredito
Gozando o que fico sabendo, sendo maldito
No que me cago e vomito lagartos elásticos
Seres fantásticos, memórias que apago
Lembranças que recupero, assim espero
Nessa chama que chamo xamânica
Que me torra a casca, serafim de ayahuasca
No vago redemoinho dessa linguagem oceânica
Bem consciente de estar submerso
E eis que do meu diário de bordo, transbordo
Como o homem que bebeu o universo.

Davi Araújo. SP

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