sábado, 30 de junho de 2012

DAFNE

Branca

intensamente franca,

muda

... indecifrável;

janela aberta

a um nevoeiro lento

quase frio

em meio ao qual

movem-se fantasmas

formas feéricas,

diluídas...

qu’aos poucos

ganham vida,

transfogem da calma

para: o drama.



Fêmea,

de algum modo

fêmea,

ela reluta,

resiste

e súbito

cerra as cobiçadas

coxas,

antes mornas,

e agora frias

como o mármore

impenetrável

liso. Ai... Noite

que abraça as horas.



Ânsia.

Dedos que estalam;

caneta nervosa

intumescida

irmã da seta

de Apolo

que amou Dafne

e esta

em desespero

sem mais recurso,

para fugir-Lhe,

volveu a árvore

e celulose.



Cumpre então

insistir mas (com

cuidado...)

e horas se passarão

antes da vitória.



Sangue

do rubro, do anil

do vermeil

do âmbar

já borram sua face

enfim.

E ei-la:

maquiada,

noiva,

argenta

entre arrozes

luzes

e rosas loucas;

ei-la

desabrochada!

aberta e dada

ah, desvirginada...

enfim.



Mas o amor

fugaz sabe ser,

e toda cor se esvai

quando cessa

o olho

de fixá-la.



Madrugada queda,

o sono convoca

o poeta

exausto, exaurido;

e a folha,

toda riscada,

fica

fria







cheirando ao coito

e à tinta.



Igor Buys.SC

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