sábado, 16 de março de 2013

MANHÃ





Deixar a casca do sono onde estive recolhida. Mundos internos, o escuro se desfaz num meteoro breve.

À direita, um sol dourado como um poema do Oriente, templo budista, toque de mestre, a conversão dos alquimistas. À esquerda, a estrela da manhã, aquela que finge que chega, mas desaparece.

Neste dia sob os auspícios de Vênus em oposição à Marte, há chances de guerra fria entre as mulheres e o deus que luta, até ferir de morte, o verbo rasgado em tiras retilíneas.

Eu, que sou desmedida como as coisas do absurdo, descumpro as regras da batalha dos planetas. Meus impulsos são irregulares, os humores disformes. Ainda me deslumbro com o lótus, a tranquilidade me toma por pura compaixão.

No Ocidente, Vênus fura o céu e se deita com Marte sem palavras. No horizonte, guerrilhas explodem como o sexo, cuja fúria é fluido.

Vivo sob o signo da paz e do escândalo.

Silêncio é sândalo.

(Célia Musilli)

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