domingo, 10 de março de 2013

Ou sobre sensibilidade



De Mara Paulina Arruda

Havia uma mulher que comia painço. As sementes de girassol também iam bem. E de quando em quando as asas atrapalhavam o vestir do casaco. Que era azul bem se via, no entanto o amarelo estava no avesso do olhar e da pele. Quando saía gostava de sobrevoar as marcas das calçadas, as poças d'água. Ao dormir nas caixas desmontadas entre uma loja e outra, na rua movimentada da cidade, enrolava-se num rasgado vermelho. Sentava-se de costas para a janela; ah os conceitos do vento! tomava café, ouvia música; as intempéries das mulheres; as pétalas e o miolo. Ser mulher é saber dessas coisas vermelhas retratadas nas bordas da boca. Com guarda-chuva ou guarda-sol seu nome é Era.

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