Ou sobre sensibilidade
De Mara Paulina Arruda
Havia uma mulher que comia painço. As sementes de
girassol também iam bem. E de quando em quando as asas atrapalhavam o vestir do
casaco. Que era azul bem se via, no entanto o amarelo estava no avesso do olhar
e da pele. Quando saía gostava de sobrevoar as marcas das calçadas, as poças
d'água. Ao dormir nas caixas desmontadas entre uma loja e outra, na rua
movimentada da cidade, enrolava-se num rasgado vermelho. Sentava-se de costas para
a janela; ah os conceitos do vento! tomava café, ouvia música; as intempéries
das mulheres; as pétalas e o miolo. Ser mulher é saber dessas coisas vermelhas
retratadas nas bordas da boca. Com guarda-chuva ou guarda-sol seu nome é Era.
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