sábado, 10 de agosto de 2013

MÃOS DE PEÃO


Laçam bois, e tocam boiada, como ninguém
Mãos de peão
Não sabem o que é polimento
Não usam cremes nem hidratantes
São belas de nascimento
E são com elas que fazem o sinal da cruz
Antes de partirem para a lida
Das novas empreitadas
Roçam o mato, plantam as sementes, colhem os grãos
Ou não, se a seca mata
Mata a plantação
Mas não mata a sede do peão
De ver nascer de novo, a floração
O pé de milho, o pé de alface, o pé de feijão...
E por aí vão, cantando e gemendo
As dores, e as alegrias 
De quem vive no sertão 
Não se cansam nunca, segundo eles
Homem cansado é homem fracassado
Um pingado de pinga com mel
No final do dia
Faz a mão do peão, tirar o seu chapéu
Levar o copo à boca, de uma vez só
E olhar para o céu
Como se Deus lhe sorrisse
E Deus sorri, acredito, satisfeito
Com esse povo crente, apesar de sofrido
De onde vim.

(Adelaide N.)

Nenhum comentário: