1.
Em dezembro de 1922, a senhora H.R. perde, numa estação
ferroviária de Paris, uma maleta com originais, inéditos, de seu marido, o
célebre escritor E.H.
Há um filme francês, o nome eu nunca soube, cujo enredo
trata da disputa por uma maleta. Após muita correria desenfreada, a dita cai no
Sena e vai embora. O espectador, frustrado, fica sem saber seu conteúdo:
MacGuffin clássico.
Um dos livros sagrados traz a seguinte admoestação: “Esteja
no mundo sem ser do mundo”.
A perda e/ou o sentimento de não pertencimento exacerba[m] a
sensação de solidão.
2.
A primeira mulher de Hemingway, Hadley, ao se descuidar
privou o mundo de algumas obras do então futuro Nobel de Literatura.
Um ponto passivo é a tendência do Cinema Francês em mostrar
peitinhos e bundas. Deus salve, pra sempre, Claude Chabrol.
Há algo na Bíblia que nos pega de verdade. Talvez seja o
peso, talvez a ousadia. O fato é que não se escapa ileso: no Antigo Testamento,
Deus matava por qualquer somenos.
Entocada, a morte, a inexorável [a menos que Jesus volte
antes, e, se voltar que volte armado], nos espera no elevador parado e sem
luzes.
3.
Hadley encontra uns amigos na Champs-Élysées, num bistrô, em
frente a um cinema. Ela os cumprimenta e fala à viva voz: “Perdi os textos.” –
e arremata: “Papa vai me matar!”.
4.
Não há nada mais caro a um escritor que sua papelada. Nem
mulher pelada. Hemingway poderia vender o[s] escrito[s] ao cinema, que ele
detestava, ao invés de empunhar sua Mannschaun e detonar a própria cara.
5.
Um trem chega à estação da Cidade Luz. Uma mulher desce
animada, nada nas mãos. CORTE. A mulher está nua diante de um abajur ligado,
numa sala muito bem decorada.
6.
Um mendigo caminha apressado com uma maleta debaixo do
braço.
Cesar Felipe Pereira
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