segunda-feira, 25 de março de 2019


 Meu amado Mestre e Amigo Olinto Simões cada dia colhemos os frutos que plantamos alguns defendem essa tese como outras tantas que existem por aí...
Meu pai o seu "Ernesto" sempre me perguntava nos domingos em que eu ia almoçar com ele e com o restante da família com o seu ar debochado e brincalhão quando de bom humor: "Quantos bichos tu levou pra casa essa semana minha filha?"
Dependia muito da sincronicidade entre eu e o cão ou o gato encontrado nas encruzilhadas e buracos à beira do meu caminho e eu resgatava muitos que ficavam, alguns fugiam, e outros por não se adequarem aos espaços e aos meus hábitos precisavam de um novo lar.
E muitas vezes Olinto nós fazemos isso com as pessoas que surgem nos nossos caminhos.
Algumas permanecerão em nossas vidas pela vida inteira... outras só ficam para um café... algumas ficam enquanto pudermos lhes dar tudo de nós mas com um pequeno detalhe... somente o que lhes apetecer ter de nós... e às vezes meu querido acreditamos inocentemente mesmo quanto já "passamos a ilha de Cabo Verde" há tempos e de repente nos deparamos diante de um espelho vendo nosso reflexo com um nariz vermelho e orelhas de burro e nem percebemos o momento em que os colocamos em nós.
Neste ponto volto ao princípio para refletir sobre o fato de colher o que se plantou por que colhemos bananas se passamos boa parte plantando uvas?
Há momentos que dá uma vontade danada de pegar a vassoura posta de cabeça para cima atrás da porta e fazer uma varredura sem piedade e por porta afora tudo o que está no meio do chão que andamos pisando sem nenhum espaço para os nossos próprios pés.
Mas nós mesmos somos culpados por dar à alguns "livre passe" e até mesmo "carta branca" para decidirem por nós.
É aquela história de entrar nos buracos por que decidimos entrar não porque nos forçaram a tal atitude e fatalmente acontece... quando percebemos Olinto do meu core estamos sós no maldito buraco e lá começamos a definhar até que o buraco silencie definitivamente e lá somos sepultados vivos.
Tenho pensado no seu afastamento e muitas vezes pensei com os meus botões "certo o Olinto pois finalmente está vivendo somente a sua vida e deixando de lado coisas que não lhe pertencem.
Não vou mais me alongar pois alguém irá reclamar de prolixidade.
Deixo pra ti um poema meu escrito há um tempo.

DECISÃO

Hoje foi um dia que quero
esquecer rapidamente...
Me vi em meio a confusão
de pensamentos...
Palavras...
Gestos que deveriam
ter ficado inertes
guardados e sem ação...
Fiquei vazia de mim mesma...
Na ânsia de acordar
desse sono maligno
que açoitou minh'alma...
Me vi perdida...
Sem minha fé...
Sem meu amor próprio...
Sem esperança no hoje
muito menos no amanhã...
Até mesmo o meu eu
perdeu-se no tempo...
Na madrugada fria
decidi não mais aceitar
o desdém e o pouco caso
dos meus sentimentos...
Estou indo embora
e decidi não mais
voltar ou
olhar para trás.

Cirlei Fajardo


 Do Lago Poderia começar este texto com uma estrondosa gargalhada. Daquelas capazes de nos fazer chorar até o último pranto da alma. Entretanto minha gargalhada fica enjaulada na carcaça do caranguejo que procura eternamente seu alimento no mangue que sustenta os mares de vidas – ilhadas ou não – que não conhecem ou jamais ouviram falar dos equinócios, que de per se, já não são tão contumazes à rara plebe. Pois sim! O equinócio não é para todos; somente os numinosos seres são capazes de vê-lo após saírem da caverna onde amos-escravos sustentam almas que jamais viram o brilho do sol – seja do dia; seja da noite – de um tempo raro e único.
Sendo, pois, um desses iniciados, aprendi nessa longa maratona o cadinho de numinosidade que me cabe. E é exatamente por esta razão que gosto de passar ao largo. Não busco holofotes, venham donde virem, posto que aprendi durante as várias maratonas que a luz que ilumina é a do Sol equinocial – seja do dia; seja da noite -, que traz em si toda sabedoria que a dualidade da minha natureza reclama. O que me encanta mesmo nessa paideia maratonística é a possibilidade de encontrar-me com Areté. E com ela, ao longo de outras tantas maratonas, construir o épico supremo de toda a nossa eternidade.
Claro, estou pronto para seguir contigo, e disputar mais algumas maratonas equinociais. Contudo, faço-te um pedido: que a luz que iluminará nossas maratonas seja a do astro-rei que irá nos queimar, ao lado das filhas dele – como Sophia! -, que, prenhe de toda Poiésis, nos mostrará o portal de toda verdade, onde após a ultrapassagem possamos plantar durante a corrida sementes seminais nos corações áridos e ímpios… E, se porventura encontrarmos os famosos postos de hidratação, ao longo da corrida, que saibamos escolher a água mais pura, para assim, alcançarmos o colo de Perséfone plantando flores nos campos de nossas almas.
Com afeto e carinho o meu abraço, Mestre Olinto Simões.
Atenciosamente
João Batista do Lago  (Joao Batista Gomes)

Meu Preclaro Amigo João  Batista Gomes Do Lago; Confrade; Parceiro da Poesia Crítica, irmão Traça de Biblioteca e Abolçador de Conhecimento que se coloca no prato outro, da mesma balança que eu, criando para nós, um equilíbrio digno de Anúbis junto ao Nilo.
Como é difícil responder suas postagens e ainda pior, a seus comentários.
Quem dera fosse eu tão numinoso quanto você, mas, nos sabemos ao menos tocados pela influência e inspiração das qualidades transcendentais de quem nascido, se esmera ao máximo para alcançar a graça de um dia se banhar à luz da divindade.
Fomos, somos e seremos, amos e escravos a um só tempo. Sabemos e temos consciência disso. No entanto, sustentamos as almas aprendizes refratarias ao transmissível, com as nossas, que já de há muito se permitiram e se fizeram permeáveis ao que de melhor houvesse a ser colhido, sem que Perséphone, fossemos. Também sabemos que os refratários, verdadeiros Hades, teimosos habitantes das profundezas, jamais viram ou verão – sem equinócio o brilho do sol, e os que acidentalmente se exo-fizeram à caverna existencial, passaram a usar óculos escuros.
Sim, entendo suas colocações, mas, não podemos desistir, precisamos agir como o sol equinocial mesmo que ainda em quinta potência, entendendo que a tristeza tem o direito de chegar, e nós temos a obrigação e dever de com ela aprender e em seguida, libertá-la para que possa visitar os corações do que fazendo o mal e o mau, sintam um pouco da dor que causam.
Desde quando me fiz professor e me enganei entendendo que a tese paideiaca poderia sim mudar o mundo, a isso me dediquei, esquecendo que os não ditosos mestres minúsculos do mundo moderno, muito longe estavam do que um dia foi a Grécia, berço do belo. Então, e desde quando a isso percebi, me dediquei como Andragogo a tentar inverter a noção de educação paideia da sociedade grega antiga e clássica, que encimando a criança como ser em formação, buscava com isso alicerçar a perfeição.
Que dificuldade encontro para despertar no adulto insone vertical, a criança que adormecida está - entorpecida por tantos barbitúricos marketianos da contemporaneidade – deitada em posição fetal, no coração duro de quem não sente a própria iniquidade.
Essa humanidade da qual somos fractais, se distancia da Areté Grega, em excelência, se desligando de qualquer noção de cumprimento do propósito da vida própria ou da função a que se destinou como pessoa, e sem cumprir com o que o espírito evolucionista propunha, submerge no lodo da matéria orgânica que se decompõe, a partir da fecundação.
Da Areté indígena, fizeram-se parceiros, pensando que tudo, todo e qualquer problema se resolve ao apagar a luz clara, acender luzes escuras, a não ouvir as vozes das consciências evolutivas. A escutarem os estridentes sons de baladas tóxicas, transformando as horas da noite negra da alma, em tudo que pode ser vivido, num dia festivo.
Sophia..., parece que se despediu e ausentou-se, porque preferiu auto-valorizar-se, a num repente se transformar em legenda para camiseta de algum movimento populista, e com isso, a Poiesis, percebendo-se transformada em pior situação que a da legenda Sophiana, viu-se transformada na criação nem sempre rimática, em ação funkeira, confeccionando versos de apologia à desutilidade punga, criminando do puro, uma espúria fabricação da arte poética.
E segue assim, a pobre Perséfone plantando flores.
Somos teimosos filósofos de antão, numa atualidade retardada sistematicamente, tentando explicar os mistérios do Universo cósmico e humano, assim como Heráclito fazia noutra época.
O que se salva disso tudo, é sabermos que tudo muda em devir permanente, já que nada..., nada permanece. Mas, o tempo passa, as estações do ano se alteram, a idade grita presente, e nós que ouvimos, temos a sabedoria de entender que Heráclito tinha razão ao afirmar que não entramos duas vezes nas águas do mesmo rio.
Matenhamo-nos, pois, saciando nossa sede junto à fonte cálida vertente, retirando dela com nossas mãos limpas, água em pequenas porções, porque logo um pouco mais abaixo já dá para ver a poluição que contamina o mesmo rio. Nele se joga a escatológica e progressiva degradação humana, e quanto mais desce o rio entre obstáculos e curvas, mais corredeiras forma e quanto mais se deságua em cachoeiras, mais se aproxima do mar da podridão.
Curiosamente, nossos iguais adoram mergulhar de cabeça nas profundidades abissais.
Amigo João, permita-me nominar aqui, algumas pessoas que eu gostaria de ver comentários sobre o que você escreveu e também desta resposta.

Olinto Simões


VENTUS



Se fosse dizer o que senti quando os ventos dos tempos
me empurraram para o abismo...
Se fosse falar da sensação de ser atraída para dentro
do vazio da existência,
da queda vertical e longa, vida inteira despencando,
certezas se precipitando, como pedaços de rochas,
desmanchando-se ao chão, na vala profunda;
as placas de segurança que se tinha, tornando-se em pó,
areias de um deserto de vida,
mente cansada rumo ao nada...
Tantos saberes, tantas imagens e símbolos,
pensamento alheio ao apelo da razão,
alma consciente da solidão, da inconsistência do afeto, vãos discursos, falsos risos, máscaras cansadas, borradas,
bitolas, camisolões da respeitabilidade...
O mundo, uma cela,
o quarto, pátio de recreio...
Ah, seu eu fosse falar,
poesia nomearia um Digita dor.
Mas, passo pela sala e leio Jó,
viro uma página, e ele lá está, espelho, refletindo-me.
Se eu fosse contar, seria só para isto:
dizer que tudo passa,
e que as almas amigas permanecem unidas,
mesmo à beira ou dentro do abismo,
nos corredores do labirinto,
Permanecem juntas enfrentando o dragão da solidão.
Se fosse dizer, era isto: que as almas se falam
e sua voz é dulcíssima, acalma, pacifica,
dissipa as feridas do poeta trova dor.
Alma.
Ainda que não se a veja, ela está.
Em sua companhia tudo se torna poesia.
Poesia e Alma unidas, para sempre.

Carmen Regina Dias 



De agora em diante
não vale só o verso.
Vale o reverso, o remorso, o remendo.
Vale o sorriso e o siso. Mas vale também
o choro, o corte, o sangue no branco do olho.
Sim, ainda valem as flores, e muito mais os amores.
Mas o que conta agora são outras cores:
o céu sem estrelas, o sol ardendo nos olhos
e um travo na boca.
Sim, eu sei, vale o verso, a lágrima, a água límpida do canto
mas vale mais a faca
nos dentes, o aperto no peito. Vale o gesto do abraço
mas vale também o braço erguido do adeus.
Vale o beijo e vale o escarro. O pejo, o escárnio, o asco.
Vale a mão que planta no chão, a mão que recolhe
o fruto maduro, mas vale também o punho fechado
contra o céu de chumbo.

São tempos diversos, estes.

Otto Leopoldo Winck

POEMA PARA RECITAR NO ESCURO




A chuva caiu de uma maneira despropositada
toda a noite. Do alto do promontório eu vi o dia chegar
como um colapso. Ignoro
os caminhos da vida para além da floresta.
Ignoro as feições do meu rosto
quando choro ou quando rio
de desespero. Me disseram que o tempo é um rio.
Mas o tempo é um mar
onde todos vamos ao fim naufragar.
A chuva caiu de uma maneira despropositada
como um castigo. Ou bálsamo. De manhã andei doze léguas
sobre a campina alagada,
até me sentir extenuado.
Depois me sentei sobre um rochedo
e cantei todas a canções que eu sabia.
Existir é às vezes tão estúpido
como uma noite de tormenta.
Ou magnífico como o sol
a me crestar a fronte altiva.
Ao voltar, eram vermelhos o salgueiros
da beira da estrada.

Otto Leopoldo Winck


(para Luiza Melo)

não sei se giddens estava certo
: modernidade é uma crença
: não sabemos como funciona
mas queremos muito que sim

a chuva daqui também molha
o frio me exige teu jeito
exílio é um nome imperfeito
que quer nos dizer que demora

a casa, a gata, os cheiros
- lento como cigarro aceso
calor de incenso e cobertor

se giddens estiver certo, voo amanhã
pro teu lado - não sei como funciona
mas o avião voa, amor.

 Marcelo Labes

25 de março de 2018 ·


agora é nossa vez




● q era uma vez ●
● 1 menina q a mãe dela mandou ●
● q ela levasse pão e leite pravodela ●
● a menina foi indo pela floresta ●
● quando 1 homem falando entre dentes ●
● interrogou ?pra onde vc vai olho no olho ●
● dela ●

● ela disse ●
● eu vou pra casa da minha vo ●
● q fica entre as arvores na volta do rio ●
● ele inquiriu ●
● ?por qual caminho vc vai ●
● porum ●
● ou pelo outro ●

● ela disse porq era de dizer sem pensar ●
● q so vivia e seguiu por ali no incerto ●
● como tinha dito enquanto isso o homem ●
● foi na frente pelo certo e chegou primeiro ●
● na casa davodela matou ela a avo dela ●
● da menina e despejou o sangue dela ●
● num garrafão pra não perder nada ●

● depois fatiou a carne dela bem fina ●
● pra depois vestir a roupa dela de dormir ●
● se deitou na cama dela esperando a menina ●
● q bateu na porta ●
● o homenhavo disse entre ●
● ela foi dizendo trago ●
● da casa da mãe pão e leite ●

● o homenhavo disse ●
● coma a carne fatiada e beba o sangue doce ●
● q ta em cima da mesa tudo preparado pra vc ●
● a menina comeu muita carne ●
● bebeu com muito gosto o muito sangue ●
● ficou alegre mais viva q a vida ●
● e quase bebeda desse vinho ela disse ●

● enquanto isso o homenhavo ●
● disse tire a roupa ●
● venha se deitar comigo ●
● ela a menina perguntou pro homenhavo ●
● onde coloco a roupa ●
● o homenhavo disse ●
● jogue no fogo q vc não vai precisar maisdela ●

● pra cada peça de roupa q ela tirava perguntava ●
● pro homenhavo ?e agora o homenhavo dizia ●
● no fogo meu amor os sapatos no fogo meu amor ●
● as meias no fogo meu amor a saia no fogo ●
● meu amor a blusa no fogo meu amor a calcinha ●
● no fogo meu amor ●
● tudo no fogo no fogo no fogo sempre no fogo ●

● venha logo q vc não precisa de mais nada ●
● e se deitando na cama a menina disse ●
● como vc é peluda o homenhavo disse ●
● é pra te aquecer então ela disse ●
● q ombros largos ●
● o homenhavo disse ●
● é pra te abraçar melhor ●

● a menina disse q pernas imensas ●
● o homenhavo disse ●
● é pra te envolver bem forte ●
● a menina disse ●
● q olhos grandes ●
● o homenhavo disse ●
● é pra te ver melhor nua e bela na cama ●

● porisso ela disse ●
● então vem me chupar ate o gozo infinito ●
● quero conhecer a loucura antes ●
● da tua loucura dos teus dentes ●
● da tua vontade de gozo e morte
● daquilo q te chama chama pra violencia ●
● abre a boca usa essa lingua ●

● q não foi feita pra falar ela disse ●
● so assim saberei como serei e sou ●
● preciso da tua fome colada a minha fome ●
● assim a menina gozou e gozou e gozou ●
● na boca na lingua do homenhavo ●
● q se levantou dizendo agora é tua vez ●
● assim a menina abriu os olhos ●

● dizendo ●
● q caralho gigantesco e delicioso ●
● o homenhavo disse é todo teu ●
● e ta duro demais ●
● é preciso q vc chupe até o fim ●
● ela sem perder tempo começou a chupar ●
● chupou tanto q o homenhavo gozou gozou ●

● tanto e tanto q não parava mais de gozar ●
● e de gritar e de gozar e de gritar e gozar ●
● depois dormiu enquanto a menina com a faca ●
● q não tava na historia abriu logo ●
● o pescoço do homenhavo q de tanto gozar ●
● e gritar nem viu a morte chegar ●
● q isso ninguem ve nem jamais vera ●

● o homenhavo ali agora repartido cabeça tronco ●
● e membros na cama a menina nua se levantou ●
● pra terminar de comer a carne e beber o sangue ●
● da avo q era doce demais e a carne q durante ●
● muitos dias comeu ate não se fartar comendo ●
● tambem a carne e bebendo como se fosse vinho ●
● o sangue do homenhavo ●

● o sangue de 1 a carne do outro ●
● o sangue do outro a carne de 1 ●
● q ela sabia q inda tinha muito mais ●
● aqui passam lenhadores ●
● caçadores mercadores ●
● lavradores namorados servos todos ●
● uns idiotas deliciosos ●

● onde eu moro tem carne demais ●
● tem sangue demais tudo de bom ●
● gordos magros altos baixos muita carne ●
● começando com minha mamãezinha ●
● com as roupas da avo olhando no espelho ●
● ela disse so rindo so rindo so ●
● q dentes grandes vc tem meu bem ●

*
ALC


COMPANHIA



Meu velho fusca:
me pisca,
me pega,
me leva
e me busca.
Nas curvas
da estrada
da vida
sem rumo,
saio da linha
à esquerda
(sem prumo).
Vida,
sonhos,
asas,
sustos,
caminhos,
retas,
curvas.
Sumo!
Angel Popovitz


A vida é uma arte, dentro dessa qualificação, classifico como tragicômica a cena que se desenrola dia a dia. Na parte da Comédia existe o protagonista que faz sucesso e um coadjuvante que normalmente é chamado de "Escada", ou seja, propicia as condições do protagonista aparecer. O chato, é que nem sempre o tal do "Astro" é tão bom, mas, o Escada age tão perfeitamente que desaparece em cena e faz o sucesso do outro. Assim, deixei faz tempo de ser um degrau apenas para ser a escada de muitos.
Sabe com que vontade estou atualmente?
- De inclinar meus degraus criando uma íngreme ladeira e ficar apreciando o que acontecerá.
Continuemos alando-nos.

Olinto Simões

QUASE PERMANENTE EQUINÓCIO




Muitas foram as águas de março que desceram de meus olhos fechando o verão. Eu, procurando não salgar demais meu paladar com o sabor lacrimal, tentei adoçar alguns momentos, indo à busca do que não havia perdido, mas, do que me sentia distante. Para fazer isso, precisei me afastar de quem tanto me aproximei ou de quem deixei que se aproximasse e não tinha notado com isso, o quanto eu tinha sido..., usado.

Não questiono aqui as intenções dos usos, contudo, inquiro-me no porque me permiti ser um objeto usável.

Entendo que fui para muitos um Uber Emocional, chamado quando de mim precisavam, e não tendo eu um taxímetro a marcar o tempo bem como os quilômetros rodados, pensavam essas pessoas passageiras de meu interior, que pudessem elas..., fazer o preço que achassem conveniente, (não justo), e ainda por cima, para muitas dessas pessoas, a quem frente à vida fui advogado vivencial, depois de verem transitarem em julgado o que fora pretendido, entendessem como não necessário pagar as corridas que eu fazia, e elas não. Se não fizeram pagamentos, valor algum deram ao que feito foi.

Com balinhas adocei o amargo de muitos, com água matei a sede de quem sedento estava, fosse no campo que fosse, sem que nunca os colocasse em condição de passageiros. Mal sabia eu, que eles desceriam como se nada tivesse acontecido e eu ali nem estivesse, quando entendessem como chegado..., ao destino pretendido.

O verão foi escaldante. Além das lágrimas, o suor que se fez presente – também salgado – respondia a meu esforço de resolver por "outrens", problemas que meus não eram. E os resolvi, porém, na hora de me refrescar com os resultados, eu que me bastasse sozinho porque os beneficiados..., ali, já não mais estavam.

É..., o verão para grande quantidade de gente foi prazeroso, eu, posso afirmar, que no caso do vivente aqui escritor, começo a me arrefecer e me preparo para deixar cair não mais lágrimas ou gotas de suor, mas, folhas tristes com as quais me vesti, pensando que fossem minhas roupas. Roupas as quais d'agora me dispo, colocando meu tronco nu à espera do rigoroso frio que se aproxima..., tão logo passado seja o equinócio, e esse período outonal se finde.

Para todos sempre fui um Quase Permanente Equinócio, iluminando em igualdade o dia e a noite de quem vivendo em muitos escuros..., me procurasse.

No tempo de verão, pensei que me alimentasse ao atender quem me procurava, e com o intuito de atendimento às necessidades, não percebi que ao invés de me garantir com energias satisfatórias para hibernar durante a noite invernal, fui sugado no que tinha de néctar a oferecer.

Num repente entendi que havia premência na minha autoproteção já que em muito me expus sem que retorno houvesse. Tive que agir como piloto de corrida em momento de evitar uma colisão. Pisei no freio, na embreagem, acelerei junto, puxei o freio de mão e fiz um "punta y taco", mudando rispidamente meu rumo e direção.

Ouvi os chamados dos que habituados estavam em me ver naquele caminho, quase que exigindo meu retorno à direção anterior, sem perceberem que eu..., já estava em outra rota, traçando nova órbita.

Sou um inquieto iniciante de caminhos, um inveterado reiniciante de nova jornadas, em que o reinício só aparece no ato/fato de fazer novamente, mas, sempre com um diferente azimute.

Enquanto ouvia os chamamentos, me afastava. Parei longe. Medi o ângulo do plano horizontal ao meridiano em que eu estava, e como bom observador fiz um plano vertical formando com a linha imaginariamente magnética, um novo norte traçado, que me levasse ao ponto ideal para um salto quântico.

Desmaterializei-me, transportei-me e me rematerializei num ponto desconhecido para os que antes, pensavam que me conheciam. A eles, não serei diferente no amor, entretanto, não mais terão as portas de meu coração escancaradas como sempre estiveram. Elucubrei algumas palavras de passe e poucos serão aqueles que conseguirão decifrar os enigmas condutivos para os umbrais dos códigos de acesso a minha sensorialidade, personalidade e eternidade.

Foi necessário, é necessário. Se a Maratona, considerado o mais longo esporte olímpico começa com o primeiro passo, já me fiz maratonista desta existência faz tempo.

Permitam-me continuar meu caminhar.

Quero ver é quem vem junto.

Olinto Simões - 22/03/2019 - às 02,34 h.


Ser poeta é abrir a janela
e sentir o impacto da vida
como um coice
no peito nu.

Ser poeta
é esquecer as palavras
na ponta da língua
e achá-las depois
no bolso
ou num velho banco
de um jardim de inverno
quando já não tem mais ninguém pra te ouvir
e só te restou
escrever
este poema.

Ser poeta
é não aceitar
que as coisas passem
e tentar reter
alguma imagem delas
(um eflúvio, um efeito, um afeto...)
com palavras
– que passarão, quem sabe,
mais rápido ainda.

Otto Leopoldo Winck

De 'Cosmogonias'.



imagino que vocês tenham sabido
que esse país inteiro foi falido sob
as circunstâncias de nem bem uma
semana atrás: já não são possíveis

poemas de amor ou de circunstância
- então escrevo sobre a distância
que agride mais do que imaginava
fosse capaz neste país feito de homens

e livros, mas feito de mortes, de tiros
a esmo contra quem que se ponha
na frente deste trem desgovernado

aqui faz frio e não há o que comemorar
nem o outono, nem a poesia ou a primavera
- que já começa em algum outro lugar.

Marcelo Labes

20 de março de 2018 ·


(para o Caio, pela deixa e pela distância; para o Matheus)


de todas
as estrelas do céu
a que eu queria te dar
é aquela que caiu ontem
e ninguém viu

de todas
as conchas do mar
a que eu queria te dar
é aquela que ontem à noite
recolheu minhas lágrimas
e ninguém soube

o poema
que eu queria de dar
é o que eu escrevi na areia
e o apagaram as ondas

(as melhores dádivas
são sempre aquelas
que
nunca
são dadas)

Otto Leopoldo Winck


terça-feira, 12 de março de 2019

Leiaute por nós




Sublimar não seria sem par
Ou planar o catálogo, se
Em diálogo, ou monólogo
Tritura paz. Elevo-o

Sonhando se vai
Ao cais, de onde se abortou

Em rumos, em prumos,
Em paiol, no rol do que fazer.

De idioma se assombra
A exatidão canhestra em
Muitos estilos clichê.

Se queres, não queira.
Se voa, aterrissará?

Leve lauda, leda acolá
E cá uma certeza

Que se dilui pelo ar
ACM



Etiologia da razão




A lágrima refizera-me
Som
Sou,

Por mais de séculos
Entoou, pares ares refrão
Entoaram vazios aos ventos
Seduziram agrestes seres,
Então.

Perfurar a jornada rumo à
Ignorância nivelada acima
Da margem da dúvida.
Alcunhar intelectualidade.

O que outros iluminam,
Messias.

O que outros dizem, roupas.
Cabelos, vaidades, sóis.

Um emaranhado de rotas
Casuísticas da dor, em conflito
Com o "self".

Ruas, becos, bares,
Besuntados por ódios seculares,
Efêmera letra, escrita,
- Pedagogia do cárcere -
A mensagem vã, a mensagem lã
A mensagem chã

Atravessa o porvir

No rol da psicogênese de si
ACM


terça-feira, 5 de março de 2019


De Mara Paulina Arruda

Depois de ver uma pechada João fazia com que o palito na boca rolasse um pouco, depois segurava o palito, analisava e espetava um dos dentes... Posição de socó. Voltava a rolar o palito pela boca. Puxava-a pela mão e juntos atravessaram a passarela. Maninha escutava-o.
-Cadê a nega? Ela foi campiá trabalho e não vorto inté agora...
A poeira na estrada.
Havia uma música sertaneja, o vento despenteando os cabelos deles, a barriga roncando. Pessoas conversando ao redor de uma fogueira no canto da estrada acompanhavam com o olhar o caminhar deles.
-É melhor continuar em posição de socó.
Enquanto procurava a nega, num vôo rasante ele, na aurora, mergulhava no poço que ela era.


"Carpo metacarpo falange unha uma radiografia expunha todos os ossos da sua mão e eu cogitava macacos não se masturbam entre seus dedos-cadáveres explodia um manancial e os peixes procriavam vermelhos na encosta rochosa do seu pulso eu desesperado imaginava os holofotes me cegando batia uma punheta e pensava na inabilidade dos gorilas me entristecia a ignorância do autoprazer e do riso"
 (O enterro do lobo branco)
Márcia Barbieri

O vento


De Mara Paulina Arruda.


O vento inventou de ler os jornais. Passa pela janela e vira as páginas ao seu modo. Gosta muito das variedades e se enaltece com as crônicas dos poetas. Ouve Resposta ao tempo. Não conta para mim sobre o que anda fazendo, suas viravoltas, seus problemas com os tufões e as tempestades. Ele é discreto e faz piadas refinadas. Acompanha o farfalhar das palavras caindo aos pés do meu amor. Eu imagino que ele, um admirador de John Constable e de Cecília Meirelles, esteja um pouco estressado com as artimanhas que o tempo vem fazendo. Não que ele seja uma daquelas pessoas intransigente. Não. O vento é um espírito de criança. E, no seu jeito luxuoso de ser abre uma barra de chocolate, passa a mão no gato e abarca o jornal lendo-o aqui, bem aqui, pertinho de mim, na minha sala, neste apartamento pequeno preparado para ele e seus piercings de prata.


"E de novo o povoado ficou quase deserto de homens. E outra vez as mulheres se puseram a esperar. E em certas noites, sentada junto do fogo ou à mesa, após o jantar, Ana Terra lembrava-se de coisas de sua vida passada. E quando um novo inverno chegou e o minuano começou a soprar, ela o recebeu como a um velho amigo resmungão que gemendo cruzava por seu rancho sem parar e seguia campo afora. Ana Terra estava de tal maneira habituada ao vento que até parecia entender o que ele dizia, nas noites de ventania ela pensava principalmente em sepulturas e naqueles que tinham ido para o outro mundo. Era como se eles chegassem um por um e ficassem ao redor dela, contando casos e perguntando pelos vivos. Era por isso que muito mais tarde, sendo já mulher feita, Bibiana ouvia a avó dizer quando ventava: "Noite de vento, noite dos mortos..."
Érico Veríssimo

à sombra do Carrinheiro



O carrinheiro carrega o fardo de seus sonhos desfeitos
feitos de papelão que queimam no dia a dia a ilusão
vivem pra ontem à correr pro hoje
a passos mortos no agora da ágora.
O carrinheiro com que ganha alimenta de sal a esperança
nas vísceras o sabor do café fraco e frio pro filho sua herança
nos seios secos de leite ainda verte da dor o amor
pedra que rasga o coração no arame do choro faminto da criança. 
O carrinheiro com o vento leva as cicatrizes de suas pegadas
o sangue seco na secura de seus olhos fantasmas
só ilumina a luz de sua sombra companheira
do fiél cão que dá a vida sem exigir o seco  pão
corpo de Cristo na fé que transcende a razão
cão que come a carne que resta quando encontra
lhe basta a carne do vento na sombra do carrinheiro.
O carrinheiro carrega sua sombra fantasma na sombra da selva
da cidade parte pedaços parte em pó nas partes da cidade
paisagem qual pedra um Pedro ou Zé nas sombras
Ao dia que se amontoa e soterra a noite que ilumina na escuridão
as trevas nada a gota humana carregando a si e o que de si resta
è o que presta presto cavalo homem da urbe trituradora
vapor trabalho desconstruindo na força motriz a mercadoria
Segue animal alienado lutando por sua humanidade diante do aço e do vidro.
È só o pó que resta da mercadoria a força de trabalho de valor tão escasso
tão sem cifrões e zeros só o valor reciclável de uma vida
Segue a poesia nas pegadas do cão ao caminhar
Parte da paisagem sombra sangue que escorre das cicatrizes da cidade
Tiro de verdade na ilusão
soco no estomago da Feliz Cidade.

Wilson Roberto Nogueira


Caldo espesso
Da espera -cozido
Em fogo brando.
Tão maturado quanto
Um vinho precioso.
Lisa Köe


não bebo da tua água
nem como na tua fome
a vida é antro sem nome
falta pão e sobra mágoa."
RR


andava meio torto comi a torta e fiquei direito.
Nakanune v smiért, jizn!na véspera da morte, vivi.
coitado, só deu valor pra vida quando a televisionaram na memória.
show do minuto.morreu rindo.chegou no céu e são Pedro o julgou louco
foi passear no purgatório e...fugiu.Está a solta por aí,em alguma aldeia como uma criança de Deus .
Nenhum czar ou salteador o molesta ,ele tropeça em si de alegria e chora pra lua querendo voltar.


Wilson Nogueira.2009

Os farsantes boiam em latrinas de águas turvas



Ontem, enquanto degustava morangos silvestres eu pensava em minha vida e naquilo que se transformou ao redor dela. Pensava na transitoriedade e em todos os seres vivos que de alguma forma fazem ou fizeram parte da minha caminhada. Concluí que eles e eu somos tão mutáveis quanto ao sol que queima lá fora, para depois, mal humorado feito criança birrenta desabar sobre nossos pobres e ineficientes guarda-chuvas. E isso inevitavelmente me remeteu às mulheres que freqüentaram a minha cama. Muitas das vezes tive a mais absoluta das certezas que aquela viera pra ficar. Pois é, ela não veio, as outras não vieram, e eu me pego aqui, mastigando meus morangos silvestres. Como a lembrança por vezes tem o poder de registro de uma câmera digital, relembro cada sorriso dos seus rostos, as curvas dos seus corpos e as frases soltas e apaixonadas que faziam-me supor que ali se encontrava a minha cara-metade. E quando achamos tê-la alcançado imaginamo-nos perfeitos e até surreais, como se pudéssemos vislumbrar o majestoso arco-íris despontando soberano sobre a densa neblina das manhas de setembro.

E o que falar dos meus amigos?
Por alguns teria colocado a cabeça a premio. Porém, hoje, nem sei onde andam, se estão vivos, se tiveram filhos pediatras, ou mesmo, abusando da mutabilidade mudaram suas opções sexuais. E quanto aos empregos que nunca sorriram pra mim? Ah, os meus empregos! Esses sim, em quantidade despropositada e tão variados que se transformaram no maior índice de transitoriedade nessa minha louca e cigana vida. .

E isso sem pormenorizar todas as minhas incertas certezas: O verde de hoje poderá assemelhar-se ao vermelho de amanhã. Talvez, a única convicção que me restou seja eu mesmo. E é essa certeza que me faz pressentir quando acerto, erro, ou me abstenho. E é por ela que sei quando sou verdadeiro, falso, ou se prejudico ou beneficio alguém. Mas, muitas vezes posso ser tão perverso que faço de tudo para que não remexam minhas entranhas e não descubram o meu outro desprezível “Eu”.
Véio China

segunda-feira, 4 de março de 2019


Eu me autoproclamo
Mandarina! Czarina!
Primeira Ministra!
Primeira Bailarina!

Às margens plásticas
Dos rios mortos pela lama
Eu me autoproclamo
Honrada Dama!
Perfeccionista! Equilibrista!
Poeta! Ambientalista!

Diante do assombro
Do cotidiano
Eu me autoproclamo
Rainha! Do polvo trabalhador!
Suado, pobre, carente, sofrido...,
Esquecido em sua dor.
Nobre de caráter.
Porém, frequentemente, injustamente
Confundido com bandido.

Por amor à minha gente:
Excluídos, indigentes...
Eu me autoproclamo
Presidente!

Para os excludentes
Pintados de amarelo desbostado,
Alienados.
Eu me autoproclamo
Alienígena!

E, por ser Indígena, Negra, Branca,
Cafuza, Mameluca,
Singular mistura brasileira:
Vermelha como Brasa!
Eu me autoproclamo
Sensível Humilde
Feliz Ser Humano!

Angela Gomes


PERSISTÊNCIA




Há um interstício
entre o que eu sou
e o que sonho, o que penso
e o que sinto. No meio,
bem no meio,
eu estou: pleno e vazio.

Não importa. Entre vales
e píncaros, êxtases e fastios,
eu insisto. E grafo, gravo, grito
no muro, na pele, na alma:
EU EXISTO.

Otto Leopoldo Winck, de 'Cosmogonias'

sábado, 2 de março de 2019


TRADUÇÃO DO BARRO




Traduzi
a forma primitiva do barro
e descobri-me homem
entre homens
que vagueiam cansados nas ruas
e desejam mulheres
e receiam mirarem-se nus ao espelho
e descobrirem-se sós.
Traduzi
a forma primitiva do barro
e desfolhei constelações, astrolábios, rosáceas,
em silêncio e angústia.
E passei noites e noites desperto,
encarando edifícios enormes, exaustos, calados,
e me flagrei chorando
sem saber por quê.
Traduzi
a forma primitiva do barro
e desvendei-me pó
surgido da rocha ancestral e rija
-- a qual retornarei um dia, quando todos os homens e mulheres e seres e coisas
forem dormir fatigadíssimos
de suas sucessivas vidas e formas.
Ah! eu tenho pudor de virar velhas páginas...
Traduzi
a forma primitiva do barro
e ora
te ofereço esta rosa
forjada em versos
numa noite igual a todas as outras.

Otto Leopoldo Winck


DEUS AMOR


Sou um pedaço do que fui ontem, a vida tira lascas no dia a dia. Peles que se vão, átomos que retornam às estrelas. Ainda bem, a alma vai se livrando da matéria pra voltar aos contornos do que era e do que será: luz na eterna gênese do universo. O amor é a lição, a vida aprende a suportar a saudade de si mesma. Ai dos que não sabem disso e insistem em reprisar o que já não tem lugar nem tempo para sonhar.

DEUS AMOR

o que sentes é teu, de mais ninguém,
por estar dentro, nada interfere
somente o pensamento que se insere
renova o sentimento e vai além
a lágrima que cai é tua também
vem de algum argumento que fere
mas podes trazer luz e a um só ampere
todos os anjos dizerem amém
é por amor que existem tantos deuses
que ciciam bendições e berceuses
em teus ouvidos surdos aos apelos
da razão e do mundo material
é que o amor só quer ser imortal
pelas peles e poros, pelos pelos

antonio thadeu wojciechowski


Apedrejada...



Durante minha tour
Eu fui muy delicada
Encontrei pelo caminho
... Um falso despudorado
Se finge de santo
Me chama de louca
De irresponsável
Não entende minhas maneiras
Joga pedras na minha cara
Uma doida varrida
Insana e desvairada
Que joguem as pedras
Eu as acolho
Mais que sejam preciosas
E enfeitem meu pescoço
Das brutas estou farta
Quero as lapidadas
E tudo porque
Vivi intensamente
Ousei colocar em palavras
Aquele momento
(No quarto e de quatro)
Cansei de ser quieta
Deixar a vida passar
Se queres jogar as pedras
Aceito rubi,esmeralda e pérolas
Um diamante por favor!
E uma rosa com amor
Anelo...

(Karol Bovary).
dia 05/09/2011


LUZ E SOMBRA...




De repente eu sinto
no que se faz seguir,
a constância do resistir...
Minha mente
solta-se do corpo antes absinto,
e alegremente mergulha
no clarejar...
Não importa
se a noite vai chegar.
Importa-me viver, bailar.
Ser parte de um sonho.
Nota de um suave canto.
Enfim, viver uma história de amor
para que eu mesmo possa ouvir,
quando quiser contar...

No exato instante
em que penetro
no que faz alumbrado,
modo completo
faço-me raio de luz,
faço-me estrela,
faço-me mar, faço-me onda.
Faço-me pássaro de livre voar.
Serei o que o amor determinar.

Algo que se esparge e se alonga.
Luz e sombra...
               
Josemir Tadeu Souza

josemir (ao longo...)



bem feito emblema no todo
poeta é achar-se
poema em curso
enquanto átimo e, ou esquemático
dilema de qualquer poema ser poeta em tudo
ótimo
quiçá a própria ótica em si problema

               
Ari Marinho Bueno

Poesia dos Fuzileiros Navais Dedicada À Grande Mulher




Mulher, eu hoje encontrei a poesia certa,
Ela estava bem mais perto que eu queria,
Era mais bela e expressiva do que pensei,
Não a encontrei como esperava numa flor ou pelas ruas desertas,
Nem foi na dor ou na saudade...
Mas prometo não declamar com palavras tristes.
Eu procurei como um bom poeta, a poesia num pedaço de luar,
Dentro de um bar, num rosto liso de uma mulher, num carnaval,
Nas fantasias de um palhaço, nas noites quentes de verão e no deserto fatigante,
E nem ao menos na solidão a encontrei...
A poesia eu encontrei num retrocesso,
Numa viagem através do passado, num rosto amigo, conhecido e enrugado.
No peito doce onde suguei parte da vida,
Num quarto antigo aonde você embalou meu sono,
Numa saudade que até já me acostumei...
Não, não vou falar de coisas tristes.
Eu encontrei a poesia no teu colo,
Nas velhas canções de ninar,
Nas noites mal dormidas quando
Eu chorava de dor,
No velho berço que embalou
Em madrugadas frias,
No seu olhar que umedeceu quando eu casei...
Mas, existe em matéria ou pensamento
E, no momento, é minha musa inspiradora.
Que outra mulher merecerá tal monumento?
E foi de noite, a meia luz, no alojamento,
Que eu percebi que não precisava de um dia.
A grande mulher resiste ao longo do tempo,
Aos meus dias de ausência, de batalha de um guerreiro...
Escrevi muito sem falar de coisas tristes
(nem de saudades, nem de dor, nem de agonia), porque aqui tristeza não caberia.
E eis-me aqui - semente, flor, fruto e principio.
Minha simples homenagem: escrever-la em poesia!


Ás mães dos Fuzileiros Navais.

Extraída da obra em andamento.

Bárbara Pérez


Indelicadeza




Garimpo pérolas perdidas da delicadeza
em flores perfumadas no jardim da realeza
encontro fragmentos de seres travestidos de odaliscas
em véus transparentes,adornados, em flores de almiscar

Escondem suas indelicadezas num bau cerrado...
cheio de intelectos destroçados e corações macerados
com suas almas decadentes, escurecidas
contraem dúvidas em virtudes distorcidas

Quebro todas as taças em desamores.
Fujo da indelicadeza como num circo de horrores
contemplo a delicadeza da nascente verdejante
me despeço dessas certezas mirabolantes

filhos de guetos escuros assombrados
com seus intelectos deteriorados
como remanescentes de pesticidas
fabricam emoções em sutilezas, amortecidas

descomunhados de afetos sutis, fecham alas
caminham em minorias disfarçadas, como bengalas
em solidariedades camufladas emperradas
cravam seu vigor, seus ímpetos, em afetos sem alma...

caminham na escuridão permanentemente
não conseguem ver a claridade reluzente
de seres sóbrios de almas aclareadas...
de vidas coloridas, cantantes, amadas....

vestidos de jagunços da força, da vaidade
forçam a barra, contaminam a garra
permancem escamoteados, vagueando no lixo
encontrando assim, seu habitat, seu nicho

Filhos da penuria e da aflição
se afugentam na garoa da escuridão
sem alma, sem aconchego,
voam como morcegos,

não suportam a claridade do dia,
se entregam ao torpor de suas vidas vazias...

fantasmas do desamor,
remanescentes do circo do horror,
irmãos da não cordialidade
remanescentes da rancorosidade

seres contaminados,
perdidos, afugentados........

The end
               
Luiza Silva Oliveira

O Iluminado Pozzo


ELO




Meu corpo cansado segue por caminho ermo
à deriva no espaço, que lhe consome inteiro,
espreitando pelos becos da noite o seu termo
no trajeto de um tempo que lhe é certeiro.

Segue à procura do elo que não se fecha nunca
e a buscar estrelas na escuridão da noite,
na imensidão que lhe reveste a alma
de culpas e dores que lhe servem de açoite.

Meu eu_indivisível elo entre a mente e o corpo
insistindo na fadiga das horas marcadas a ferro
que tangencia a pele,deixando rastros,
e fragmentos da prisão d'alma em que me encerro.

Esse corpo que se funde aos meus instintos
como palco de prazeres amenos e profanos
sobrevive na junção exata do todo inseparável
e ao universal dilema do existir humano.

MARCIA TIGANI_



A Poeta Gavita


CORPO




se minha boca
chama teu nome
sobram-me
a noite insone
e a ausência de teu corpo
que já não toco
já não beijo
e fica este desejo
de te amar
em vão

(Cristina Desouza)


É preciso falar alguma coisa


Ari Marinho Bueno        4 de setembro de 2011 


“O maior de todos os mutismos não é o de calar, mas sim o de falar”.
Kierkegaard

Eu odeio Carapicuíba.
Aqui tudo é sujo, as pessoas têm os sorrisos amarelos,
O novo nunca mascara o velho.
Cada quarteirão esconde o seu morto,
As pessoas tão cansadas disso, cada esquina têm uma sorte danada pra ser
notícia de jornal de condomínio.
Jamais se consegue sair de casa para onde quer que seja
Sem torcer o nariz: o Tietê faz a sua companhia.
Nada é tão grande aqui que não seja menor que a ignorância das pessoas.
Elas têm medo até da sombra, de um sorriso alheio, de uma carranca alheia,
De serem confundidas com as vítimas da polícia, da política.
É que as tragédias são maiores em Carapicuíba,
Nós sabemos de cada ratoeira escondida, mas falta coragem.

Eu odeio Carapicuíba.
Esta madeira podre parece um sacrifício inútil,
Tão ruim o lugar que eu deixei?
Aqui as cabeças estão sempre baixas, não há amor que possa erguê-las.
Esse sentimento de ódio é um parceiro suave, às vezes inseguro,
Que instaura no meio em que vive a impressão de que tudo caminha bem.
Os passos são lentos, a cidade é um canteiro de obras, mas eu insisto.
O novo nunca fará do velho a redenção.
Estão todos perdidos, eu estou perdido, minha mente está condenada
Como cúmplice pelas mortes, uma talvez mais.
As cabeças chatas de tão vazias, sonho que nunca acaba.
Vai para o túmulo junto com os prazeres, pois os dias são assim mesmo.

Eu odeio Carapicuíba.
Tudo aqui é sempre igual.
As vinte e quatro horas abafadas de cada vez, as fachadas sujas e os nomes,
E os preços, e os cálculos, e os calculismos e os pingados e o que tem gosto
de rua e sempre mais e mais é o que precisamos.
É disso que precisamos, recolhermos toda bagagem adquirida.
Os anos são poucos, mas é preciso, é preciso colhermos os dízimos.
A igreja que nos construiu tem um pastor faminto, a fome já foi um pecado.
Conduz-nos a um caminho de tortura e sagração, e nem suspeitamos.
Atravessar a rua é um gozo, tomar o trem é um gozo, todas as putas daqui
gozando juntas.
Todo o agônico à máxima potência insuflado num átimo,
Mil vezes as marcas, mil vezes o tombo e mil vezes vida pra mostrar do que se
é capaz.
Meu ódio tem um gosto sério, de fuligem.

Carapicuíba não é um amor?
Meu amor com este gosto amargo, e às vezes não consigo dormir.
Cansados os olhos, em fogo o estômago, um comprimido, preciso dormir.
É a comida sem digestão, a gula de fazer por onde não ser outro.
Ser intruso num lugar onde todos são estranhos.
Quero atender todos os telefones que tocam agora, ao mesmo tempo.
Se eu pudesse falar a verdade, o táctil das coisas é fugidio, o sono,
Absolutamente certo o ruído vem para dar fim à falsidade.
Amar é uma gíria como qualquer outra das que ouço por aí,
Mas Carapicuíba é testemunha de que não faço por mal, se eu conseguisse
falar a verdade ainda pode ser que desse.
Carapicuíba é uma tese de doutorado, e defendê-la é corrupção.
Amo Carapicuíba como se quisesse falar a verdade.

Carapicuíba,
Outubro de 2007.

Ari Marinho Bueno


musica




● quando é tarde ●
● da noite e todos dormem ●
● pego meu violino ●
● sem cordas e no estabulo toco ●
● como se fosse ●
● pra multidões embevecidas ●
● e risonhas ●

● sentindo o cheiro ●
● de esterco novo e mijo velho sim ●
● das nossas vacas ●
● e cavalos em silencio ●
● me ouvindo ●
● tocar o violino q foi do meu avo ●
● e meu pai destruiu ●

● hoje sem nenhuma corda ●
● mas é assim q a musica existe ●
● se não assim seriam apenas ●
● sons acordando vacas ●
● misturando a musica ●
● com o q destroi a musica ●
● nem mesmo o cheiro ●

● de esterco novo e mijo velho ●
● das nossas vacas ●
● e cavalos em silencio ●
● seria musica ●
● assim as noites fluem ●
● pegajosas ligeiras e plenas ●
● logo antes ●

● do sol aparecer ●
● vou me deitar e durmo ●
● o pouco tempo ●
● pra ir fazer ●
● o cafe ●
● o bolo ●
● da manhã ●

● sinto q o leite cresce ●
● se adensa no meu peito duro ●
● q a qualquer momento ●
● escorre pela barriga ●
● pelo pubis pelo grelo ●
● ate as pernas ●
● os pes ●

● como se a terra desejasse ●
● beber ●
● com uma boca ●
● cheia de dentes ●
● meu leite q cresce ●
● e se adensa ●
● com a violencia duma gula ●

● distante do violino ●
● do esterco e do mijo ●
● inda assim eu gozo quando ●
● o leite toca meu grelo duro ●
● quando o leite ●
● toca a musica do gozo eu sei ●
● q a musica da noite vira ●

● noite de moscas q voam ●
● ao redor como violinos ●
● acompanhando meu violino ●
● sem cordas ●
● ao redor do esterco ●
● do mijo q a treva segrega ●
● antes de mais um dia idiota ●

*
ALC


ELEGIA 2014




Entre cismas e sismos,
hesito: eu podia ter matado o déspota
e enforcado o último clérigo em suas tripas.

Em vez disso,
peregrino de bar em bar
e venho dar na sua porta com um poema novo:
este, em que digo uma coisa
e faço outra.

Entre a vodca e o tédio,
vacilo: eu devia tocar fogo no Congresso
ou na Associação Comercial
e pichar os muros da cidade com um relâmpago:
eu sou o deus do fogo e minha amada é uma cicuta.

Em vez disso,
encontro um amigo e lhe falo de meus planos,
um livro novo, uma viagem
e as pessoas que há tanto já não vemos.

Entre caracteres e confetes,
oscilo: conto a verdade e me dano
ou me dano e sonego a verdade?
Enquanto isso, engulo as pequenas mentiras
do cotidiano
com que adiamos para outro século
a felicidade coletiva
e individual.

Otto Leopoldo Winck

Do livro 'Cosmogonias'.