Se fosse dizer o que senti quando os ventos dos tempos
me empurraram para o abismo...
Se fosse falar da sensação de ser atraída para dentro
do vazio da existência,
da queda vertical e longa, vida inteira despencando,
certezas se precipitando, como pedaços de rochas,
desmanchando-se ao chão, na vala profunda;
as placas de segurança que se tinha, tornando-se em pó,
areias de um deserto de vida,
mente cansada rumo ao nada...
Tantos saberes, tantas imagens e símbolos,
pensamento alheio ao apelo da razão,
alma consciente da solidão, da inconsistência do afeto, vãos
discursos, falsos risos, máscaras cansadas, borradas,
bitolas, camisolões da respeitabilidade...
O mundo, uma cela,
o quarto, pátio de recreio...
Ah, seu eu fosse falar,
poesia nomearia um Digita dor.
Mas, passo pela sala e leio Jó,
viro uma página, e ele lá está, espelho, refletindo-me.
Se eu fosse contar, seria só para isto:
dizer que tudo passa,
e que as almas amigas permanecem unidas,
mesmo à beira ou dentro do abismo,
nos corredores do labirinto,
Permanecem juntas enfrentando o dragão da solidão.
Se fosse dizer, era isto: que as almas se falam
e sua voz é dulcíssima, acalma, pacifica,
dissipa as feridas do poeta trova dor.
Alma.
Ainda que não se a veja, ela está.
Em sua companhia tudo se torna poesia.
Poesia e Alma unidas, para sempre.
Carmen Regina Dias
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