O carrinheiro carrega o fardo de seus sonhos desfeitos
feitos de papelão que queimam no dia a dia a ilusão
vivem pra ontem à correr pro hoje
a passos mortos no agora da ágora.
O carrinheiro com que ganha alimenta de sal a esperança
nas vísceras o sabor do café fraco e frio pro filho sua
herança
nos seios secos de leite ainda verte da dor o amor
pedra que rasga o coração no arame do choro faminto da
criança.
O carrinheiro com o vento leva as cicatrizes de suas pegadas
o sangue seco na secura de seus olhos fantasmas
só ilumina a luz de sua sombra companheira
do fiél cão que dá a vida sem exigir o seco pão
corpo de Cristo na fé que transcende a razão
cão que come a carne que resta quando encontra
lhe basta a carne do vento na sombra do carrinheiro.
O carrinheiro carrega sua sombra fantasma na sombra da selva
da cidade parte pedaços parte em pó nas partes da cidade
paisagem qual pedra um Pedro ou Zé nas sombras
Ao dia que se amontoa e soterra a noite que ilumina na
escuridão
as trevas nada a gota humana carregando a si e o que de si
resta
è o que presta presto cavalo homem da urbe trituradora
vapor trabalho desconstruindo na força motriz a mercadoria
Segue animal alienado lutando por sua humanidade diante do
aço e do vidro.
È só o pó que resta da mercadoria a força de trabalho de
valor tão escasso
tão sem cifrões e zeros só o valor reciclável de uma vida
Segue a poesia nas pegadas do cão ao caminhar
Parte da paisagem sombra sangue que escorre das cicatrizes
da cidade
Tiro de verdade na ilusão
soco no estomago da Feliz Cidade.
Wilson Roberto Nogueira
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