segunda-feira, 25 de março de 2019


 Do Lago Poderia começar este texto com uma estrondosa gargalhada. Daquelas capazes de nos fazer chorar até o último pranto da alma. Entretanto minha gargalhada fica enjaulada na carcaça do caranguejo que procura eternamente seu alimento no mangue que sustenta os mares de vidas – ilhadas ou não – que não conhecem ou jamais ouviram falar dos equinócios, que de per se, já não são tão contumazes à rara plebe. Pois sim! O equinócio não é para todos; somente os numinosos seres são capazes de vê-lo após saírem da caverna onde amos-escravos sustentam almas que jamais viram o brilho do sol – seja do dia; seja da noite – de um tempo raro e único.
Sendo, pois, um desses iniciados, aprendi nessa longa maratona o cadinho de numinosidade que me cabe. E é exatamente por esta razão que gosto de passar ao largo. Não busco holofotes, venham donde virem, posto que aprendi durante as várias maratonas que a luz que ilumina é a do Sol equinocial – seja do dia; seja da noite -, que traz em si toda sabedoria que a dualidade da minha natureza reclama. O que me encanta mesmo nessa paideia maratonística é a possibilidade de encontrar-me com Areté. E com ela, ao longo de outras tantas maratonas, construir o épico supremo de toda a nossa eternidade.
Claro, estou pronto para seguir contigo, e disputar mais algumas maratonas equinociais. Contudo, faço-te um pedido: que a luz que iluminará nossas maratonas seja a do astro-rei que irá nos queimar, ao lado das filhas dele – como Sophia! -, que, prenhe de toda Poiésis, nos mostrará o portal de toda verdade, onde após a ultrapassagem possamos plantar durante a corrida sementes seminais nos corações áridos e ímpios… E, se porventura encontrarmos os famosos postos de hidratação, ao longo da corrida, que saibamos escolher a água mais pura, para assim, alcançarmos o colo de Perséfone plantando flores nos campos de nossas almas.
Com afeto e carinho o meu abraço, Mestre Olinto Simões.
Atenciosamente
João Batista do Lago  (Joao Batista Gomes)

Meu Preclaro Amigo João  Batista Gomes Do Lago; Confrade; Parceiro da Poesia Crítica, irmão Traça de Biblioteca e Abolçador de Conhecimento que se coloca no prato outro, da mesma balança que eu, criando para nós, um equilíbrio digno de Anúbis junto ao Nilo.
Como é difícil responder suas postagens e ainda pior, a seus comentários.
Quem dera fosse eu tão numinoso quanto você, mas, nos sabemos ao menos tocados pela influência e inspiração das qualidades transcendentais de quem nascido, se esmera ao máximo para alcançar a graça de um dia se banhar à luz da divindade.
Fomos, somos e seremos, amos e escravos a um só tempo. Sabemos e temos consciência disso. No entanto, sustentamos as almas aprendizes refratarias ao transmissível, com as nossas, que já de há muito se permitiram e se fizeram permeáveis ao que de melhor houvesse a ser colhido, sem que Perséphone, fossemos. Também sabemos que os refratários, verdadeiros Hades, teimosos habitantes das profundezas, jamais viram ou verão – sem equinócio o brilho do sol, e os que acidentalmente se exo-fizeram à caverna existencial, passaram a usar óculos escuros.
Sim, entendo suas colocações, mas, não podemos desistir, precisamos agir como o sol equinocial mesmo que ainda em quinta potência, entendendo que a tristeza tem o direito de chegar, e nós temos a obrigação e dever de com ela aprender e em seguida, libertá-la para que possa visitar os corações do que fazendo o mal e o mau, sintam um pouco da dor que causam.
Desde quando me fiz professor e me enganei entendendo que a tese paideiaca poderia sim mudar o mundo, a isso me dediquei, esquecendo que os não ditosos mestres minúsculos do mundo moderno, muito longe estavam do que um dia foi a Grécia, berço do belo. Então, e desde quando a isso percebi, me dediquei como Andragogo a tentar inverter a noção de educação paideia da sociedade grega antiga e clássica, que encimando a criança como ser em formação, buscava com isso alicerçar a perfeição.
Que dificuldade encontro para despertar no adulto insone vertical, a criança que adormecida está - entorpecida por tantos barbitúricos marketianos da contemporaneidade – deitada em posição fetal, no coração duro de quem não sente a própria iniquidade.
Essa humanidade da qual somos fractais, se distancia da Areté Grega, em excelência, se desligando de qualquer noção de cumprimento do propósito da vida própria ou da função a que se destinou como pessoa, e sem cumprir com o que o espírito evolucionista propunha, submerge no lodo da matéria orgânica que se decompõe, a partir da fecundação.
Da Areté indígena, fizeram-se parceiros, pensando que tudo, todo e qualquer problema se resolve ao apagar a luz clara, acender luzes escuras, a não ouvir as vozes das consciências evolutivas. A escutarem os estridentes sons de baladas tóxicas, transformando as horas da noite negra da alma, em tudo que pode ser vivido, num dia festivo.
Sophia..., parece que se despediu e ausentou-se, porque preferiu auto-valorizar-se, a num repente se transformar em legenda para camiseta de algum movimento populista, e com isso, a Poiesis, percebendo-se transformada em pior situação que a da legenda Sophiana, viu-se transformada na criação nem sempre rimática, em ação funkeira, confeccionando versos de apologia à desutilidade punga, criminando do puro, uma espúria fabricação da arte poética.
E segue assim, a pobre Perséfone plantando flores.
Somos teimosos filósofos de antão, numa atualidade retardada sistematicamente, tentando explicar os mistérios do Universo cósmico e humano, assim como Heráclito fazia noutra época.
O que se salva disso tudo, é sabermos que tudo muda em devir permanente, já que nada..., nada permanece. Mas, o tempo passa, as estações do ano se alteram, a idade grita presente, e nós que ouvimos, temos a sabedoria de entender que Heráclito tinha razão ao afirmar que não entramos duas vezes nas águas do mesmo rio.
Matenhamo-nos, pois, saciando nossa sede junto à fonte cálida vertente, retirando dela com nossas mãos limpas, água em pequenas porções, porque logo um pouco mais abaixo já dá para ver a poluição que contamina o mesmo rio. Nele se joga a escatológica e progressiva degradação humana, e quanto mais desce o rio entre obstáculos e curvas, mais corredeiras forma e quanto mais se deságua em cachoeiras, mais se aproxima do mar da podridão.
Curiosamente, nossos iguais adoram mergulhar de cabeça nas profundidades abissais.
Amigo João, permita-me nominar aqui, algumas pessoas que eu gostaria de ver comentários sobre o que você escreveu e também desta resposta.

Olinto Simões


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