segunda-feira, 25 de março de 2019

QUASE PERMANENTE EQUINÓCIO




Muitas foram as águas de março que desceram de meus olhos fechando o verão. Eu, procurando não salgar demais meu paladar com o sabor lacrimal, tentei adoçar alguns momentos, indo à busca do que não havia perdido, mas, do que me sentia distante. Para fazer isso, precisei me afastar de quem tanto me aproximei ou de quem deixei que se aproximasse e não tinha notado com isso, o quanto eu tinha sido..., usado.

Não questiono aqui as intenções dos usos, contudo, inquiro-me no porque me permiti ser um objeto usável.

Entendo que fui para muitos um Uber Emocional, chamado quando de mim precisavam, e não tendo eu um taxímetro a marcar o tempo bem como os quilômetros rodados, pensavam essas pessoas passageiras de meu interior, que pudessem elas..., fazer o preço que achassem conveniente, (não justo), e ainda por cima, para muitas dessas pessoas, a quem frente à vida fui advogado vivencial, depois de verem transitarem em julgado o que fora pretendido, entendessem como não necessário pagar as corridas que eu fazia, e elas não. Se não fizeram pagamentos, valor algum deram ao que feito foi.

Com balinhas adocei o amargo de muitos, com água matei a sede de quem sedento estava, fosse no campo que fosse, sem que nunca os colocasse em condição de passageiros. Mal sabia eu, que eles desceriam como se nada tivesse acontecido e eu ali nem estivesse, quando entendessem como chegado..., ao destino pretendido.

O verão foi escaldante. Além das lágrimas, o suor que se fez presente – também salgado – respondia a meu esforço de resolver por "outrens", problemas que meus não eram. E os resolvi, porém, na hora de me refrescar com os resultados, eu que me bastasse sozinho porque os beneficiados..., ali, já não mais estavam.

É..., o verão para grande quantidade de gente foi prazeroso, eu, posso afirmar, que no caso do vivente aqui escritor, começo a me arrefecer e me preparo para deixar cair não mais lágrimas ou gotas de suor, mas, folhas tristes com as quais me vesti, pensando que fossem minhas roupas. Roupas as quais d'agora me dispo, colocando meu tronco nu à espera do rigoroso frio que se aproxima..., tão logo passado seja o equinócio, e esse período outonal se finde.

Para todos sempre fui um Quase Permanente Equinócio, iluminando em igualdade o dia e a noite de quem vivendo em muitos escuros..., me procurasse.

No tempo de verão, pensei que me alimentasse ao atender quem me procurava, e com o intuito de atendimento às necessidades, não percebi que ao invés de me garantir com energias satisfatórias para hibernar durante a noite invernal, fui sugado no que tinha de néctar a oferecer.

Num repente entendi que havia premência na minha autoproteção já que em muito me expus sem que retorno houvesse. Tive que agir como piloto de corrida em momento de evitar uma colisão. Pisei no freio, na embreagem, acelerei junto, puxei o freio de mão e fiz um "punta y taco", mudando rispidamente meu rumo e direção.

Ouvi os chamados dos que habituados estavam em me ver naquele caminho, quase que exigindo meu retorno à direção anterior, sem perceberem que eu..., já estava em outra rota, traçando nova órbita.

Sou um inquieto iniciante de caminhos, um inveterado reiniciante de nova jornadas, em que o reinício só aparece no ato/fato de fazer novamente, mas, sempre com um diferente azimute.

Enquanto ouvia os chamamentos, me afastava. Parei longe. Medi o ângulo do plano horizontal ao meridiano em que eu estava, e como bom observador fiz um plano vertical formando com a linha imaginariamente magnética, um novo norte traçado, que me levasse ao ponto ideal para um salto quântico.

Desmaterializei-me, transportei-me e me rematerializei num ponto desconhecido para os que antes, pensavam que me conheciam. A eles, não serei diferente no amor, entretanto, não mais terão as portas de meu coração escancaradas como sempre estiveram. Elucubrei algumas palavras de passe e poucos serão aqueles que conseguirão decifrar os enigmas condutivos para os umbrais dos códigos de acesso a minha sensorialidade, personalidade e eternidade.

Foi necessário, é necessário. Se a Maratona, considerado o mais longo esporte olímpico começa com o primeiro passo, já me fiz maratonista desta existência faz tempo.

Permitam-me continuar meu caminhar.

Quero ver é quem vem junto.

Olinto Simões - 22/03/2019 - às 02,34 h.

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