sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Das Cores da Minha Vida



Pedro Penido

Desde pequeno sempre atraiu-me a cor da escuridão. Mesmo, naquela época, morrendo de medo do escuro, atraía-me o mistério que a ausência traz. E cresci vestindo a cor do luto. Gargalhei e chorei em roupas negras como a noite. E vivi um mundo que somente a percepção longínqua e assustada das trevas poderia revelar.
Com o passar do tempo, na juventude forte, apaixonei-me perdidamente pelo ardor das chamas que o vermelho, escuro ou escarlate, trazia ao meu coração. Nesta época beijei com intensidade e volúpia, ardente e alucinado, num mar de sensações. Provei das dores do sentimento ferido e enganei-me, várias e várias vezes, sobre minhas mais convictas constatações.
E avancei cego e louco Tempo afora. Nas esquinas dos anos eu vendi minh'alma a troco de lampejos pueris dos mundos que tanto buscava em tantos outros olhares. Juntei as moedas que alguns jogavam e outros se esforçavam para arranjar. Construi um refúgio nas sombras que todo corpo sob o sol pudesse projetar.
Em preto e vermelho, como chamas rubras no manto da noite, tracei versos insanos, a ferro e fogo, sangue e lágrima, amor e paixão. Eram reflexos meus. E ainda são.
Mas passam-se os dias... envelhece-se na carne, nos versos reflexos e nos lamentos... Mas amadurece-se e prova-se daquele sabor que somente a fruta madura pode oferecer. Pode-se, agora, gargalhar da vida e tocá-la como o vento atiça a relva, como o sol urra ante as colinas e como a lua, silenciosa, encanta, atrai, seduz e beija o mar.
Sou instrumento e senhor da minha loucura, uma amante estranha que me acompanha onde quer que eu vá. E sobre tudo isso, o negro, o vermelho, os sabores e o mar só posso dizer: não pretendo parar de escrever... nem deixar de sonhar.


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