Aquela noite seria fundamental para que pudesse resolver o
velho dilema.
Iria ou não para Ibitirama?
Gilberto era assim mesmo, um camarada muito indeciso,
medroso e mentiroso.
Não saberia dizer por que mas sempre tinha medo da noite,
mesmo que a lua cheia clareasse todos os caminhos...
Aquela noite então era pior que as outras, o tempo nublado
demonstrava que poderia encontrar alguns percalços no caminho e isso era
assustador...
Dona Rita, como sempre preocupada, tentava demover a idéia
fixa de João “Teimoso” Polino. Estava com pena do menino pois sabia que nada
iria impedir o velho de executar o plano.
Levar Gilberto pela estrada era uma questão de honra, afinal
o garoto já estava beirando os catorze anos e nunca tinha sequer saído dos
arredores.
Depois de muita insistência, e de piores ameaças, Gilberto
percebeu que não tinha outro jeito. O que não tem remédio, remediado está.
Dadinho, ria-se por dentro ao ver a aflição do irmão caçula.
Ritinha ajudando dona Rita nas preces e orações, estava
preocupadíssima com o pobre garoto.
Pobre garoto em termos, pois o marmanjão com um metro e
oitenta de medo e de mimo não parecia em nada com um garoto. Barba na cara e
músculos expostos, medroso como ele só.
A noite estava fresca e tinha um vento que, ao invés de
ajudar, servia para aumentar os temores do nosso herói.
Mas, o que fazer?
Embornal preparado, canivete para cortar o queijo e o pão
que serviriam de alimento no idílio...
Tudo bem que eram somente nove quilômetros, mas pareceria
uma eternidade...
Os barulhos e sustos noturnos são terríveis, uma simples
coruja toma aspectos atemorizantes e Gilberto sabia disto...
Ao passar pela porteira que delimitava o pequeno sítio, fez
o sinal da cruz e, cabeça escondida entre os ombros, partiu...
No primeiro barulho estranho, as calças pagaram o preço pela
insegurança do rapaz.
Todo borrado, ficou numa situação difícil, tentando andar
mas com o passar do tempo, o odor e a consistência do produto do medo foram
ficando insuportáveis.
O medo libera toda adrenalina até que, de repente, Gilberto
desmaiou.
Os raios do sol mal surgiam no horizonte quando, nosso amigo
despertou do terrível pesadelo...
Como chegar em casa e dizer que não tinha conseguido ir a
Ibitirama?
Mais que depressa, ardiloso como ele só, teve uma idéia.
Rasgou a blusa e o casaco com o canivete, riscando a pele
até sangrar um pouco, não muito, mas o bastante...
Ao chegar em casa, dona Rita extremamente preocupada com o
caçula, e ao ver o estado em que o pobre chegara não titubeou, veio correndo
abraçar o menino...
Ao perguntar o que tinha acontecido, Gilberto pôs a imaginação
para funcionar.
Uma onça, isso mesmo, uma onça havia chegado perto dele e
preparava o ataque, os dentes e as garras à mostra, numa cena terrível e
pavorosa...
Dadinho, macaco velho, ao sentir o cheiro que Gilberto
emanava, começou a olhar meio desconfiado para o irmão, e sentindo que o mesmo
estava mentindo, perguntou irônico:
- E aí o que você fez?
Gilberto, reparando que ia ser desmascarado, mais que
depressa respondeu:
- Eu? Quer saber de verdade?
- Claro.
- EU ME BORREI TODO!!!!!
Marcos Loures
21 de julho de 2011
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