terça-feira, 3 de setembro de 2019

JUNTANDO GRAVETOS



Para Antonio Calixto, com carinho e muita saudade

“Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais”
John Ulhoa

o silêncio de hoje
toca a quaresmeira lá fora
e, hóspede da perfeição,
torna-se igualmente lilás

é com esse silêncio
que leio suas palavras potáveis
recém chegadas de longe
– de onde? –

de algum lugar onde parecia pedra
e era queda

(a dor nos traz anseios
tolos – como fazer a Terra
voltar meses, anos atrás, como fez
aquele herói extraterrestre
do filme e do álbum de figurinhas
que juntos colávamos
em muitas manhãs de domingo –
ou olhar uma estrela
e imaginar que você
dorme em algum lugar
ali por perto –
e nos dá a medida do tempo
e continuamos sem entender
medida alguma, aguardando
o barco retornar de Delfos
para que possamos, também,
nos despedir definitivamente
desse nosso
bosque lilliputiano)

dizem que é a última canção
mas eles não nos conhecem

por dentro da tarde
as flautas tomam fôlego
para que canções flutuem
ao redor das árvores
que fazem sombra
para os que se despedem

Fabiano Calixto 14 de agosto de 2011 

# do livro “Sangüínea” (Editora 34, 2007)

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