quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Soneto para o grupo AC/DC


De Glauco Mattoso

Diz "rei morto, rei posto" o velho dito.
No rock, um vocalista jamais é
assim tão necessário, e, se o Mané
bateu as botas, seja o Benedito!

Se, antes de Cristo, estava bem escrito
que a música do Demo leva a fé
daqueles que duvidam de Javé,
depois tais escrituras já nem cito.

Se temos sete cães e um osso só,
sai briga, e se o cachorro o pêlo preto
tiver, pior ainda: é pau, sem dó!

Se salva quem prefere o inferno ao gueto:
melhor ser um buldogue que um totó
qualquer, melhor a emenda que o soneto!
De Paulo Henriques Britto, um seu poema, "II":

Tão limitado, estar aqui e agora,
dentro de si, sem poder ir embora,

dentro de um espaço mínimo que mal
se consegue explorar, esse minúsculo
império sem território, Macau

sempre à mercê do latejar de um músculo.
Ame-o ou deixe-o? Sim: porém amar
por falta de opção (a outra é o asco).
Que além das suas bordas há um mar

infenso a toda nau exploratória,
imune mesmo ao mais ousado Vasco.
Porque nenhum descobridor na história

(e algum tentou?) jamais se desprendeu
do cais úmido e ínfimo do eu.


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