Pior do que romance xerocado
--- existe alguma coisa mais sem charme? ---
é o livro que se toma por empréstimo
a um amigo, ou à biblioteca,
depois do implacável "esgotado".
Habituado a sublinhar o texto,
o leitor, impedido de fazê-lo,
quer seja por pudor, ou obscura
certeza de que nada adiantaria,
percebe alguma coisa lhe escapando
--- e não são as idéias, anotadas
em fichas, mas o próprio livro, que
(diante dessa falta ele conclui)
por isso no limite se rabisca:
para se ter a ilusão de olhar
o livro na estante e, ao mirá-lo,
pensar bem satisfeito --- "já o li" ---
mantendo-o, entretanto, bem fechado,
pois um instante apenas bastaria
para na página se espelhar
um rosto totalmente deformado,
e o sonho da estante viraria
o pesadelo da biblioteca,
não fosse o fato de que o próprio sonho
seria um pesadelo, se verdade:
a casa cheia de espelhos planos
(pensa o leitor, e súbito deseja
vestir-se de mulher no carnaval).
De Francisco Bosco,
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