segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
2012, até nunca mais, obrigado por tudo
a imagem mais bonita que vou guardar de 2012 é a da minha mãe no gargarejo do meu show da Virada, grudada na grade, em pé no meio das pessoas, sentindo a cidade por dentro, vibrando com o chão que junto com ela me pariu. eu não podia olhar muita pra ela, senão começaria a chorar. mas é uma das imagens mais fortes que vou levar certamente comigo até o fim, aquele mar de pessoas e a minha mãe a primeira delas, bem ali na minha frente. sempre que eu fizer um show, será ela ali a me proteger e abençoar. bom, é o última dia do ano e eu gostaria de escrever algo como uma retrospectiva. não serei capaz. numa retórica pra lá de torta posso dizer que 2012 foi um ótimo ano. e que trabalhei pra cachorro. posso dizer que foi um ótimo ano, com falta de amor no amor e sorte no jogo. comecei dizendo não a tudo, não aceitando convites, tinha decidido só escrever e pronto. o doce ingênuo de sempre. foi o ano em que mais trabalhei na vida, foi um ótimo ano. o que de mais importante aconteceu foi o resgate que fiz de mim mesmo. por muito tempo detonei minha saúde, mas no começo de 2012 resolvi fazer a coisa de outro jeito depois que voltei do Rio, em fevereiro, da ocasião do lançamento do Dragãozinho ferido (que ficou lindamente histórico no meu coração). quem diria que o Dragãozinho viria a ser em pouco tempo livro tão querido por aqueles que o leram, colecionando um bom número de críticas positivas, inclusive. posso sorrir, pois olhando daqui vejo o autor, ao longo do primeiro semestre, viajando pra lá em pra cá qual fosse de fato um escritor. bom, em fevereiro, do Rio vim pra casa e uns dias depois Ericson Pires estava internado. o resto da história tem muita dor para aqueles que foram e são seus amigos, seus irmãos. de amigos próximos, 2012 levou também o mestre Henrique Rodrigues (dia desses fui ao Ponto Final e pude enxergar o seu desenho ali sentando ao lado do Riad, a madeira do violão brilhando como uma estrela na noite escura). ainda Emer Antoniacomi, cujo exemplo nos fez a todos ver o quanto a saúde pública deste lugar vai lamentavelmente transformando as pessoas em estatística do descaso, da incompetência, da ganância, da falta de humanidade daqueles que administram a cidade. das perdas que reverberaram fundo em mim ainda está a da dramaturga e crítica teatral Christiane Riera. e há poucos dias a de Osmarcio, delicadeza de pessoa que trabalhava na porta do Bardocelar e nos recebia a todos sempre com sorrisos, abraços e beijos. posso compreender que Troy Rossilho esteja com o coração partido, pois o falecimento de Osmarcio coincidiu com sua despedida, após sete anos de trabalho e amizade, do Bardocelar. deu-nos adeus também minha tia-avô Dôro, complicações decorrentes do excesso de gordura, eis o espelho de um possível futuro que pretendo não admitir pra mim. no começo do ano, a partida do Ericson me fez ir ainda mais fundo na opção de me cuidar. e com a ajuda da Val, minha amiga e personal (muitos julgam frívolo alguém ter uma personal, cheguem aos 167 quilos, depois digam o mesmo). Com a Val vi crescer novamente meu desejo de sobriedade diante do mundo. a vida é delírio, sabemos, é com a qualidade desse delírio de se estar vivo que é a minha questão. Alexandre França me contou que leu em Deleuze que este afirma ser a água um aditivo poderosíssimo, capaz de nos fazer habitar estados extravagantemente alterados, etc. pra isso tenho interesse e apetite porque, no mínimo, é de se duvidar. e se duvido, estou numa das facetas da fé. delírio. e de delírio em delírio, em março, Eugênio Fim e eu, preparamos o show do meu aniversário. foi no Wonka. venho me apresentando lá há anos, numa profícua parceria. em 21 de março, o Wonka estava lotado. não só de público conhecido, não só de amigos e familiares, mas daqueles que foram realmente conferir a coisa, com os seus “viemos ver qualé”. e saíram dizendo naquela noite “isso é bom pra caralho, é bom pra caralho”. então tínhamos algo bom pra caralho nas mãos. por isso, seguimos e fizemos uma série de shows, que ao longo do tempo foram ficando mais bem acabados, mais profissionais, num certo sentido. dos lugares em que fomos, a apresentação do Rio nos colocou em um novo paradigma, cujas as exigências contavam com a gravação urgente do disco, mais a feitura de clipes, em resumo, a produção de material, era preciso desenvolver identidade visual, era preciso ter um projeto, orçamento, etc. as datas em que nos apresentaríamos no Clube Curitibano, contribuiu também pra tal organização. o convite veio do diretor de cultura Odilon Merlin. foi o louco que correu o risco de produzir lá dentro o show. deu certo. inacreditavelmente, deu certo. os sócios, considerados conservadores em sua generalização, adoraram. ainda o clube abriu as portas pra não-sócios, o que foi bastante especial e generoso. assim como por demais generosos Troy, Thaís Gulin, Leticia Sabatella e Fernando Alves Pinto. jamais terei como agradecer suas participações especiais, a entrega, o espírito tão dadivoso. é claro que neste lugar, considerado mais pra burguês, as pessoas que conviveram comigo no passado, ainda se espantam quando se dão conta que virei artista mesmo. noto isso em reações simples, quando fazem algum comentário sobre os meus óculos de aros brancos, por exemplo. por outro lado, há também a vibração, o festejamento daqueles que dizem sorrindo “sempre soubemos”. sabe, a platéia não é burra. nem no Clube Curitibano, nem numa do Rio, onde já me apresentei mais de uma vez, inclusive com dança contemporânea, na época da CAL. daí que na Virada Cultural, fui assistir ao show da Banda Mais Bonita. um jornalista me perguntou se eu preferia estar ali na platéia, onde eu estava, ou lá no palco. prefiro o palco, é o lugar que em que acho que dou o meu melhor, é onde me sinto mais feliz, é quando sinto que estou vivo. no palco faço o meu vivo com o meu morto, como escreveu Novarina. disse ainda ao jornalista que gostava de estar na platéia também porque tinha a oportunidade de participar de todos os trabalhos que me interessassem e aprender com eles. valorizo demais o lugar da platéia. sei que sou alguém que mesmo na platéia contribuo com a feitura daquilo, contribuo com a experiência humana que ali está sendo ofertada. faço isso porque sei que há valor em tudo e que é o meu olhar que ajuda a dar este valor. antes de ser artista eu fui por bastante tempo alguém da platéia. lembro que, há mais dez anos, quando comecei a estudar teatro, numa das primeiras oficinas das que participei, dei de cara com o espírito rebelde e inquieto de Nena Inoue. ela era a professora. não nos conhecíamos. ela tinha uma energia e tanto. me fascinou desde o início. é comum nessas oficinas a gente fazer uma roda e um a um ir se apresentando. de onde você vem? o que você faz na vida? alguma experiência com teatro? quando chegou a minha vez, eu disse “venho de um lugar bem perto, venho da platéia.” foi mesmo na platéia, vendo grupos de dança, que pensei “acho que eu sou capaz de fazer isso”. foi na platéia, vendo os atores, que de algum modo muito intuitivo senti que conseguiria dar conta de algo como aquilo. aprendi a cantar o pouco que sei vendo Alexandre Nero, na Aoca. vendo o Troy na sala da casa dele. vendo o Caetano Veloso de longe. escutando do Gerson Bientinez “se você tem que fazer força, você é um mau cantor, canto é sem esforço”. do mesmo modo adoro quando o Beto Bruel, referindo-se a um bom ator, diz assim “o compadre faz força”. todos estão certos ao seu modo. mas com o Nero eu vi como berrar sem ficar rouco. com o Troy eu vi como sussurrar lindamente. num livro com todas as letras do Gilberto Gil eu li que ele como artista de palco achou que era importante saber se utilizar de uma certa veadagem em cena. a ele parecia importante cultivar um certo espírito livre, ambíguo, desopilado, caso você fosse se inserir na música pop, o que pra mim cada vez faz mais sentido, ou eu nunca dançaria, eu nunca cantaria “eu quero ser a Cássia Eller”, eu não amaria o trabalho de Ney Matogrosso. sei que às vezes sou um pouco uma coisa aqui dinossauros do roque, aqui Lady Gaga. tem a ver com exuberância. tem a ver em como você ocupa o espaço e se mexe em cena. e com a roupa que você usa. e sob que tipo de luz você está. e com o que você diz ali naquele espaço. quer dizer, tem a ver com construção estética. pra mim tem a ver com o que se vê hoje lindamente em Karina Buhr ou em Ricard Nolascx. bem, o ano seguiu e em novembro veio a Virada Cultural. desta vez Chris Gomes completou o nosso time no palco. fizemos uma apresentação energizada. o público adorou e a imprensa local considerou que agora eu era um importante poeta pop (ao menos aqui nos pinheirais). e fiquei feliz demais pela matéria pra lá de generosa e arrebatada do Luis Claudio Oliveira, em que ele me elogiava e dizia que o show da Boca Maldita me consagrava, me colocando na galeria de Paulo Leminski, Thadeu Wojciechowski, Marcos Prado, Alice Ruiz. agradeço com todo meu coração, sabendo que falta muito ainda pra chegar no nível destes grandes artistas. do outro lado, alguns me continuam a me acusar de ser uma fraude. dizem que sou apenas marketing. e vêm os adjetivos como bizarro, maluco, engodo. não é de hoje que isso acontece. às vezes eu próprio chego a acreditar nisso. mas quando eu faço o que faço com a potência máxima, penso “é isso mesmo, não duvide mais”. além disso, aqueles que não gostam de mim, tem todo direito, e suas verdades a meu respeito são tão absolutas em suas cabeças sem rosto, que seria em vão tentar explicar o contrário. pra quem e por quê? o que fazer? continuar trabalhando. ficando com o melhor, driblando as maldades. meu lema tem sido algo que vi numa entrevista do Bob Dylan: sem medo, sem inveja e sem baixezas. acho que enquanto o espanto continuar, estarei realmente vivo. não é fácil, a vaidade sofre com isso, mas olhando racionalmente, tenho que saber que é bom, é importante que as pessoas continuem duvidando de mim, achando que não sou capaz, achando que a “massa” (como seu eu não fizesse parte dela) não tem condições de me compreender. isso é bom, porque seguirei querendo provar o contrário (e parece que estou conseguindo). desde o dia em que me tinha L, sobre meu primeiro livro, disse “não entendo uma única linha do que você escreve”, desde aquele dia, estou provando que sim, ela entende sim. ou você pode passar a vida não querendo entender, fazendo um elogio ao conforto, a facilidade daquilo que lhe chega mastigado. mas você pode também dizer, como eu o fiz tantas e tantas vezes, “de fato, há mais coisas relacionadas a esta obra do que eu fui capaz de alcançar, mas o que eu fui capaz de alcançar? ah, isso e isso e isso”. certo, aqui já um entendimento, aqui já um saber. o não sei e não quero saber, é também uma forma, embora ignorante, de saber, é covarde, preconceituosa, miserável, mas é alguma coisa. a minha política é sempre dizer pra pessoa que sim, ela sabe, ela entendeu, mas só não se conscientizou disso. não admito sejam usados a arte e o conhecimento como forma de humilhação. tenho fé no ser humano, sei que todos em algum lugar têm preservada a sua inteligência, por mais bitolado, por mais preconceituoso, por mais covarde, por mais hipócrita, por mais que minta pra si mesmo, está lá aquilo que Fernando Pessoa escreveu: a inteligência é um instinto. certo, o sucesso do show da Virada me obrigou a pensar mais uma vez na minha relação com a música. vivo dizendo há um tempão que não sou músico e que nem mesmo talento tenho pra sê-lo. e isso não adiantou nada. o amor que tenho pela música, ela me tem devolvido. a música me deu tantas alegrias, que prometo aqui e agora não mais dizer que não sou músico e que não tenho talento pra música e tal porque, embora seja verdade, já não tenho esse direito. prometo me dedicar ao que a vida me impõe. e o mesmo digo pra você, teatro. e também pra você, querida literatura. sabe, depois de anos me perguntando, cheguei a uma resposta simples sobre o teatro, quando decidi que o faço porque assim posso trabalhar descalço. com a música a resposta não é muito mais complexa não, faço música pra estar menos sozinho, estar com amigos, fazer um pouco de farra. o resto, a pretensão estética e profissional que vem com o resto, são elementos bem-vindos e eu os admito, mas falo aqui da intimidade do meu fazer, que está em receber ligação do Thiago Chaves ou do Carlito Birolli no meio da tarde mais desumana do mundo dizendo “tá de bobeira, vem pra cá.” só sou capaz de fazer música porque tenho meus parceiros, são eles que me dão o estado musical. então a tal mágica se dá quando as canções nascidas de momentos tão íntimos são cantadas por três mil pessoas num fôlego só, como aconteceu, incrivelmente, no show da Virada. e sei que algo assim não pode ser explicado. não há simplicidade nisso, mas também não é coisa tão de outro planeta assim. em relação a repercussão e o reconhecimento do meu trabalho, foi algo realmente supimpa. de todo modo, quando faço música não estou pensando em cantar para milhões de pessoas, nem conseguiria mensurar uma coisa assim. não o meu foco. embora eu saiba bem que canções são condutoras de manifestações coletivas de sentimentos intensos. e sei disso porque já estive na platéia tantas e tantas vezes. de todo modo, ali eu era o frontman diante da maior platéia da minha vida até então. eu era o autor daquelas canções. eu era o poeta que tinha escrito aquelas palavras. eu não tinha chegado ali sozinho. minha cultura comigo, os meus amigos criadores, todos eles. e a Curitiba autofágica de outrora marcada na alma de muitos dos caras que fizeram esta cidade ser artisticamente o que ele é. e a Curitiba que resistiu a tudo isso. e a Curitiba que não deixou por menos. Curitiba e sua índole experimental. a Curitiba literária. a Curitiba roquenrol. a Curitiba cafonamente burguesa de dentro dos clubes, do Colégio Positivo da minha época. a Curitiba que já vaiou a mim e ao Alexandre França mesmo nos botecos de quinta tantas e tantas vezes quando subíamos em seus palquinhos. e desde aquela época era isso, fazer porque é preciso fazer, fazer porque você quer fazer, fazer porque querem que você faça. não subiria no palco se não pudesse fazê-lo, se não soubesse que as pessoas que estão lá embaixo querem entretenimento mais do que querem um poeta e acontece que sou poeta. não sou poeta porque me disseram “você é”, sou poeta porque precisei, quis ser, lutei, luto pra ser poeta num mundo que não sabe, e se soubesse não admitiria, que precisa de poetas. sou um poeta por fatalidade de destino, como disse Paulo Leminski de si. por isso se alguém diz “foi um show de horrores”, isso me enobrece, porque sei que não estou vinculado a uma idéia da beleza banalizada, empobrecida, padronizada. sei que estou fazendo de outro jeito, do meu jeito, o meu melhor. prefiro o estranho, o diferente, o singular. prefiro ter que continuar lutando. minha crença é a poesia que há no humano, minha crença é de que as coisas podem ser melhores pra você depois que você atravessa, por exemplo, o Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond. muito bem, eu dizia que fui o frontman naquele sábado, e que escutei a entrega, a minha e a da platéia, numa só celebração. pode ser que nunca mais eu faça shows. pode ser que 2012 tenha sido apenas um sonho bom, daqueles que nos fazem mijar quentinho de prazer na cama. não descarto esta hipótese, de que nada mais aconteça, de que só tenha sido até aqui. tudo bem se for assim, volto ao Ponto Final pra declamar o Samba da Benção acompanhado pelo Riad, homenageando o Seu Henrique. embora alguns pensem o contrário, não sei me vender, por isso talvez tenha sido até aqui. pois até aqui, sinceramente, eu me dei, não me vendi. sei que nada é fácil e que preciso me vender. se você quer saber, vou gostar muito de sair por aí junto com o Eugênio Fim e com o Vina Lacerda fazendo barulho. se acontecer, será lindo, será fruto de algo a que venho me dedicando, embora bastante tortuosamente. ah, dei um salto e tanto e deixei de mencionar algo tão importante que me aconteceu em 2012, o processo de dança dirigido pela Carmen Jorge, do qual participei e participo até março do próximo ano. embora engendrássemos tal desejo há muito, foi durante o show do meu aniversário, em março passado, que Carmem, segundo ela me disse, teve a certeza que me queria dançando com ela. eu aceitei o convite como a realização de um sonho e disse a ela “Carmen em latim, é poesia”. há um mês mais ou menos voltei ao Rio, agora pra dançar na Faculdade Angel Vianna. como havia desenvolvido meu solo ao longo do ano, ensaiado pra valer, pude me entregar completamente dançando na Angel. foi, em mim, experiência impactante. fiquei radiante com as palavras, também impactadas, de Henrique Saidel. fiquei feliz com a presença de Cecília Lang, primeiro por ser uma querida amiga, depois por ter sido aluna da Faculdade Angel Vianna e também porque, há mais de oito anos, foi quem me disse haver no mundo uma artista chamada Pina Bausch. mas voltemos lá em abril. Por causa da dança e do trabalho físico com a Val, eu já estava me sentindo muito bem. mais magro, mais bonito, mais saudável. teve uma noite em que saí jantar com A. bebemos vinho. foi a minha primeira recaída com o álcool. sinal que o álcool não é tão inofensivo assim pra mim. não sei se sou um alcoólatra, acho que não. de qualquer modo, a bebida me conduz suavemente pra estados depressivos, após a euforia inicial. naquela noite, nós dois, matamos três garrafas. eu queria tanto A. fui deixá-la em casa. e ela teve uma espécie de ataque histérico no carro, com uma série de “não me procure mais, eu não quero nada com você, odeio todos os homens, voltei pro meu amor do passado, você só quer me comer e jogar fora, quando eu for uma velha você vai deixar de me amar”. entre uma frase e outra ela me beijava violentamente, depois me repelia e chorava. de fato, foi um ótimo ano, eu trabalhei pra cachorro, azar no amor, sorte no jogo. agora estamos em julho. e motivo de minha suprema alegria foi a estréia da minha peça Hieronymus nas masmorras, em São Paulo, com direção de Roberto Alvim. mais o lançamento da peça em livro, pela 7Letras. a respeito do Alvim, sempre confiei em sua ação de transformação no que se refere, tão amplamente, ao teatro. sou cúmplice e torço por ele. também, nunca pensei que uma das maiores atriz que já conheci, Juliana Galdino, falaria em cena a minha poesia. é o que mais importa, não é?, a poesia e a nossa fragilidade, efemeridade e a possível construção de alguma qualidade existencial, as questões insolúveis da beleza e do horror, já que tudo trai a vida na vida propriamente dita (a morte como parte dela). o que mais podemos querer, o milagre é já sermos assim sem limite e com os órgãos internos tão frágeis quanto uma uva na qual se pisa. é como Alvim me escreveu em resposta a um email "is all about poetry, my friend. and the face of god. love, sempre!". a montagem de Hieronymus foi no Club Noir. eles me convidaram e eu fui pra São Paulo, ver a estréia e participar de um debate, cujo brilhante mediador, Ruy Filho, ampliou ainda mais as possibilidades de compreensão da peça e da montagem que, por sua vez, já havia ido fundo nas questões ali paridas por mim. em Sampa vivi um amor de quatro dias com N. foi lindo e me fez feliz. não sei dizer a razão de eu ter fugido pra sempre, insensivelmente, sem arrependimentos, algo que não achei ser capaz. não queria que tivesse sido assim, pois certamente magoei alguém, não queria mesmo, mas aconteceu e eu aceitei. ah meu deus, isso aqui ta tão confuso. há tanto ainda o que lembrar. mas não serei capaz. foram algumas das coisas importantes que me aconteceram em 2012, mas nem de longe dão conta de fazer a tal retrospectiva. fui lembrando e anotando apressadamente. agora separar a roupa branca. fazer a barba. tomar um banho demorado pra água levar este restinho de ano e então vou me dirigir com parte da família pra festa que nos espera. meu ano foi maravilhoso, acho que sobrevivi aos últimos quatro, cinco que foram só desesperança e destruição de mim mesmo. nas mesas sobre literatura em que andei participando, seguidamente eu disse “se não fosse a literatura, eu já estaria morto”, quero dizer com isso que já teria me matada, quero dizer com isso que a literatura salvou a minha. acreditei mesmo nisso até este exato momento em que escrevo a tal frase. mas, ao iniciar esta nova oração com este “mas”, noto que já não é mais verdade, que já não preciso mais da literatura pra que ela salve minha vida. isso não quer dizer que minha vida esteja salva, não mesmo. acho que não há um único dia em que eu não pense em desistir, não digo propriamente me matar, mas desistir... de lutar, será esta a palavra? que seja. lutamos com nós mesmos, sabemos. espero ser melhor em 2013. espero que o mundo seja melhor. espero mais espetáculos e o cansaço e o ensaio e o borrão que foi tudo isso novamente. espero a música mais linda que já ouvi na vida. temos um século inteiro pela frente e sou apenas um poeta. como disse Vinicius de Moraes, este que vós fala “podia britar pedra alegremente, ser negociante cantando, fazer advocacia com o sorriso exato, se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor sabe ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia”.
Fernando Koproski
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