Canto XXI.
De Mara Paulina Arruda
Todo chegando à conclusão que todo mundo tem o pé torto.
Deus bem sabe que sou chapa dele! Agorinha a pouco fiquei remoendo o tempo que
minha mãe me dava duas vezes ao dia uma colher de sopa de óleo de bacalhau.
Dizia ela que era pra ficar forte. Entro na van não converso com ninguém. Só o
silêncio me acompanha nas lembranças de um tempo que tomava sorvete sem a
preocupação de sujar a blusa ou as mãos. Mas deixa a saudade pra lá! Ta
enchendo o saco essa palavra que carrega um pouco de mim, fica parecendo o
rangido do isopor no banco da van; que coisa chata isso daí! Pego um papel e
meto no meio do banco; meu avô já dizia: um laço solto no ar rodando, rodando,
rodando... Por mais e melhor que se aponte o vento faz com que ele caia aonde
menos se espera! Só que os passarinhos pensam diferente. Contaram-me que a rota
do vento é cada um quem faz. E quem mira e acerta errado é porque não sabia da
direção desse vento. O que quê tem a ver pé torto, óleo de bacalhau, mãe, vento
e passarinho? Eu não sei. Você sabe?
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