segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
RESOLUÇÕES DE ANO-NOVO
(ou poema pra Ingrid, pra mim e também pros nossos amigos)
Começar a fumar
Com pessoas sem versos, só desconversar
Não trocar o piso da cozinha
Eu ficar na tua enquanto você estiver na minha
Não sonhar com viagens incríveis
Acreditar nas verdades mais inverossímeis
Planejar nunca mais sair de casa
Crescer na marra a tua terceira asa
Não pagar nenhuma conta antes do dia
Perder a data de validade das melancolias
Não receber mais visitas
Ultrapassar a morte com as nossas vidas
Não trocar todo o telhado
Esquecer de toda dor de cor e salteado
Não fazer mais compras do mês
Sacar o jogo de damas da tua camisa xadrez
Não consertar mais nada na casa
Conseguir voar com a terceira asa
Nunca mais pisar numa balança
Fazer a fé perder as esperanças
Nunca mais fazer exercícios
Não começar mais livros pelos inícios
Não fazer a alma perder tempo com este corpo
Se um sonho ferir, não dar o troco
Convidar a beleza pra se sentar à direita
e se a verdade for de esquerda, aceita
E se for pra ganhar dinheiro, só com poesia
E se for pra gastar dinheiro, só com poesia
E não fazer promessas de ano-novo
Não deixar ninguém monitorar meu sonho
Começar a beber toda segunda-feira
Nem tanto a terra, nem tanto o mar, mas estar à beira
Começar a beber já na segunda de manhã
Ver que sem amor, o que tem a ver a lã com a avelã?
Largar a mão de não fumar
E se for pra se foder: só por amar demais, amar de menos nunca mais
Não lembrar de feriados e datas comemorativas
Deixar a morte de porre com a minha vida
Lembrar de esquecer de todos os aniversários
Contar os dias pro fogo comer todos os calendários
Só dar presentes depois da data
Dizer a coisa certa na hora certa e na hora errada
Trocar o nome da pessoa amada
Esquecer o nome das ruas e das luas no caminho de casa
Não discutir com mais ninguém à exaustão
Se for pra discutir, só consigo mesmo, único jeito de não perder uma discussão...
E não me devotar mais à nenhuma musa
E ver escorrer pelos vãos dos versos a minha música
E começar e começar e começar de novo a todo custo
corte a corte do sonho no meu pulso
Sim, começar a nunca mais ser eu mesmo
E deixar este poema a sós consigo mesmo
E deixar a morte por sua conta e risco
Enquanto a vida com aquele brilho que eu nem pisco
E fazer este poema nos beijar demoradamente
E fazer este beijo nos amar na sua frente
E fazer este poema dar adeus
a teus erros e a meus eus
Até que o meu e o teu amor sejam um só deus
Fernando Koproski
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