a cidade sempre se refundando
das formas que geram e abrigam a algumas estranhas
aves em fios elétricos-calçadas-parapeitos
garimpam entre postes-sapatos-pneus
migalhas-pepitas-farelos e sol nas regiões postais.
investem certeiramente
aberturas adentro embaixo das marquises
buracos com mesas engorduradas de plástico
onde se fartam de casquinhas de pastel-elemento-químico-tóxico
queimado de azeite e fumaça oriental.
olhar ligeiro e atento
em varredura detecta na multidão monstro ofegante
potenciais clientes predadores algozes concorrentes vítimas
rota de fuga e mais alimento.
certa da ausência de observadores arrulham celulares
contratos de licitação para abastecimento ilícito
bocas que moem pedras para argamassa de calçamento do opulento postal
orientando o tráfego
uniformes e civis armados e flexíveis até os dentes.
participação lucro e produto
vão as aves estruturar e obrar na permanente refundação da cidade
posicionando-se em vôos curtos no sistema nervoso central
em sinapses ligeiras de gatilho cerebral
Carlos Sousa
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