As estações.

De Mara Paulina Arruda. 

É inacreditável, mas neste ano as estações foram, digamos... atípicas. A primavera nem parecia prima-vera; no verão deu até frio. E o frio? Esse foi gelado, agressivo com ventos vindos de todos os lados. O que sobrou? O outono. Ah, esse foi bonito de se ver! As folhas amareladas caídas embaixo das árvores; os galhos nus e toda gente sentindo uma profunda esper

ança na germinação das ideias. As estações passaram e, agora, aqui estou a reviver o inverno em que vi olhos ora secos ora molhados quando fomos nos despedir de Moisés. Este levava da casa ao carro duas malas. Antes de sair o tilintar das colheres na xícara vazia. Os olhos no teto. Recolhido às letras.
Vera usava um colar de pérolas no pescoço ao modo de uma pintura de Amedeo Modigliani terminando de compor aquele seu estilo clássico. Então ela dizia: vá com cuidado. Se cuide e não costure na estrada. Ponderou, caminhou até a porta. E concluiu: e na vida.
Moisés direcionou os olhos para Vera; quis sorrir... No entanto voltou os olhos para as estações. Dúvidas e medo que Vera conhecia bem.

Moisés colocou a colher na xícara vazia. O tilintar. Olhos no teto. Palavras secas. Poucas palavras. Um naco da imensidão de lá fora perpassava entre a fronteira da casa e o mundo. O que restava entre eles era somente o ruído de uma colher que caia no vazio.

Antes de partir direcionou o seu pensar para os dias vindouros.
Verão, Outono, Inverno e Primavera.
As estações estão sempre mudando.