De Mara Paulina Arruda
Eu perdi um livro. Dentro de mim? Não sei. O livro perdido
estava grifado com uma cor verde-limão de um marca-texto nas páginas que
falavam do mundo contemporâneo. Intolerâncias e absurdos. Perdi a pauta e o
violão esquecido no canto, dentro de uma capa a cobrir-se de pó.
O livro tinha uma dedicatória especial de alguém que foi
importante em meu universo, uma r
elíquia escrita em espanhol “dibujar lembranza e saudades”
de alguém que desejava que aprendesse essa língua, em retribuição às cartas
esparsas.
Tinha perdido o sono, perdido um amor e um filho lá no
início da mocidade. Tinha também perdido os fios que bordava uma toalha para
servir o jantar para o amor perdido. Em cima da mesa, no seco da madeira os
talheres, os copos e as travessas; uma garrafa de vinho, um brinde que não
aconteceu.
Tudo perdido.
A mesa vazia. Fiquei olhando o vácuo na procura de um sinal
inexistente.
Que inutilidade essa procura, ventura de um livro. E de
juntar a esse livro os demais que estavam numa caixa no canto da casa.
Cansada de cavar sentimentos escritos.
No pulso as horas.
Passava da hora de ir.
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