terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Canto XVII


De Mara Paulina Arruda

Eu perdi um livro. Dentro de mim? Não sei. O livro perdido estava grifado com uma cor verde-limão de um marca-texto nas páginas que falavam do mundo contemporâneo. Intolerâncias e absurdos. Perdi a pauta e o violão esquecido no canto, dentro de uma capa a cobrir-se de pó.
O livro tinha uma dedicatória especial de alguém que foi importante em meu universo, uma r
elíquia escrita em espanhol “dibujar lembranza e saudades” de alguém que desejava que aprendesse essa língua, em retribuição às cartas esparsas.

Tinha perdido o sono, perdido um amor e um filho lá no início da mocidade. Tinha também perdido os fios que bordava uma toalha para servir o jantar para o amor perdido. Em cima da mesa, no seco da madeira os talheres, os copos e as travessas; uma garrafa de vinho, um brinde que não aconteceu.
Tudo perdido.
A mesa vazia. Fiquei olhando o vácuo na procura de um sinal inexistente.

Que inutilidade essa procura, ventura de um livro. E de juntar a esse livro os demais que estavam numa caixa no canto da casa.

Cansada de cavar sentimentos escritos.

No pulso as horas.
Passava da hora de ir.

Nenhum comentário: