S/A - I
o porco está além do real. suas tentativas de levitar nos matadouros dentro de uma ideia rosa-bebê, delicadíssima. vejam por vocês: existem bailarinas in natura crescendo no silêncio suíno. quando voam com suas sapatilhas frágeis, as fitas desamarradas e sujas de esterco,
quando voam até as nuvens como pirocópteros. pirulito que voa,
que bate-bate, que já bateu
170 vezes por minuto.
nervos à flor.
o peso faz os ganchos cederem:
plié, demi plié, grand plié.
*
teus meninos assistem ao show da janela
e dentro de segundos se transformam em tentáculos de uma única fome, uma falta subterrânea. às vezes é possível vê-los orando de joelhos diante do altar onde os anjos deixaram suas dentaduras e sua paisagem de desolações.
(todas as dívidas do mundo.)
*
um cofre em formato de porquinho sobre o criado-mudo. teus meninos economizam semanas, meses, para ter em mãos o último número da playboy — o da capa da bailarina. dias depois, no banheiro, conseguiriam abri-lo sem que ninguém visse
e ali mesmo imaginariam boquetes infinitos. diante de seus corpos negros, de joelhos, uma mulher chupando-os furiosamente
até que voassem.
***
S/A - II
não sei que horas eram.
o anão metafísico sentiu o estômago revirar e em questão de segundos vomitou tudo. alguém esperava do outro lado da porta, se não me falha a ideia. ou? você via um cachorro montar nos quadris
de sua própria sombra.
como a loucura, talvez: suas paredes,
sua antimatéria em 3d.
*
considere-se uma relação direta entre o anão, o alguém do outro lado da porta, o cachorro e a sombra. essa relação, em qualquer mundo possível, dá origem ao que chamamos "dízima periódica de órfãos". segundo os especialistas, evidentemente.
segundo minha vontade de ir embora.
*
que se conte alguma coisa
sobre os órfãos?
o mais novo assassinou um louco e pendurou partes de seu cadáver nos silêncios do inverno. o sangue escorreu aqui e ali, durante noites, até formar precisamente 666 poças. dizem que não há fundo em nenhuma delas.
cúmplice da brutalidade, você teve sede
e bebeu desse sangue.
*
o do meio cansou de esperar e bateu à porta outra vez, TOC-TOC-TOC
(obsessiva e compulsivamente).
*
o mais velho deixou um bilhete de despedida
dentro do livro em que consta
este poema.
***
S/A - III
meninos à base d'água. à noite, restos, no rio de suas antinomenclaturas. letras que se batem, línguas. (se um peixe sonhasse branco.) palíndromos da falha genital de silvia saint. enigmas free porn. cuida, não corrigem — minha ou tua: língua. apaga-te. meninos batendo boca / lata / punheta, à sombra,
em lugares que se fecham, olhos. seus espelhos: sonho
que reflete um outro
sonho, desta vez líquido, lácteo.
*
às vezes você imagina que está no banheiro da escola de sua infância. na porta, o desenho fálico, em líquido corretivo. (a palavra "puta" e o telefone de não se sabe quem.)
o porco está além do real. suas tentativas de levitar nos matadouros dentro de uma ideia rosa-bebê, delicadíssima. vejam por vocês: existem bailarinas in natura crescendo no silêncio suíno. quando voam com suas sapatilhas frágeis, as fitas desamarradas e sujas de esterco,
quando voam até as nuvens como pirocópteros. pirulito que voa,
que bate-bate, que já bateu
170 vezes por minuto.
nervos à flor.
o peso faz os ganchos cederem:
plié, demi plié, grand plié.
*
teus meninos assistem ao show da janela
e dentro de segundos se transformam em tentáculos de uma única fome, uma falta subterrânea. às vezes é possível vê-los orando de joelhos diante do altar onde os anjos deixaram suas dentaduras e sua paisagem de desolações.
(todas as dívidas do mundo.)
*
um cofre em formato de porquinho sobre o criado-mudo. teus meninos economizam semanas, meses, para ter em mãos o último número da playboy — o da capa da bailarina. dias depois, no banheiro, conseguiriam abri-lo sem que ninguém visse
e ali mesmo imaginariam boquetes infinitos. diante de seus corpos negros, de joelhos, uma mulher chupando-os furiosamente
até que voassem.
***
S/A - II
não sei que horas eram.
o anão metafísico sentiu o estômago revirar e em questão de segundos vomitou tudo. alguém esperava do outro lado da porta, se não me falha a ideia. ou? você via um cachorro montar nos quadris
de sua própria sombra.
como a loucura, talvez: suas paredes,
sua antimatéria em 3d.
*
considere-se uma relação direta entre o anão, o alguém do outro lado da porta, o cachorro e a sombra. essa relação, em qualquer mundo possível, dá origem ao que chamamos "dízima periódica de órfãos". segundo os especialistas, evidentemente.
segundo minha vontade de ir embora.
*
que se conte alguma coisa
sobre os órfãos?
o mais novo assassinou um louco e pendurou partes de seu cadáver nos silêncios do inverno. o sangue escorreu aqui e ali, durante noites, até formar precisamente 666 poças. dizem que não há fundo em nenhuma delas.
cúmplice da brutalidade, você teve sede
e bebeu desse sangue.
*
o do meio cansou de esperar e bateu à porta outra vez, TOC-TOC-TOC
(obsessiva e compulsivamente).
*
o mais velho deixou um bilhete de despedida
dentro do livro em que consta
este poema.
***
S/A - III
meninos à base d'água. à noite, restos, no rio de suas antinomenclaturas. letras que se batem, línguas. (se um peixe sonhasse branco.) palíndromos da falha genital de silvia saint. enigmas free porn. cuida, não corrigem — minha ou tua: língua. apaga-te. meninos batendo boca / lata / punheta, à sombra,
em lugares que se fecham, olhos. seus espelhos: sonho
que reflete um outro
sonho, desta vez líquido, lácteo.
*
às vezes você imagina que está no banheiro da escola de sua infância. na porta, o desenho fálico, em líquido corretivo. (a palavra "puta" e o telefone de não se sabe quem.)
Mar Becker
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