De Mara Paulina Arruda
Um homem corajoso. Já tive casa, família, mulher, trabalho,
cama para dormir e um prato bom de comida. Meu pai me batizou com este nome por
que achava que este nome faria de mim um homem corajoso, um bom guerreiro.
Perdi a casa, a família, a mulher e o trabalho nas aventuras da vida, mas
contínuo corajoso e um bom guerreiro. Durmo nas ruas ou embaixo da ponte,
comendo restos encontrados no lixo, bebendo água dos rios poluídos, e cachaça,
para enganar a fome. Já peguei muitas doenças e curei por aqui mesmo, na marra.
Faz oito anos que moro nas ruas. No meu nomadismo já vi a decadência de muitas
cidades. Meus filhos? Sei lá. Estão por ai protegidos por Nosso Senhor Jesus
Cristo! Já nem conheço mais. Afrodite foi uma das companheiras que tive. Já
morreu; diz a nega Maria que foi por causa de uma ferida que não cicatrizou.
Não conquistei nada até agora, não fiz grandes expedições e nem escrevi nada
para ser pensado depois. Meus amigos são os que se perdem por aqui nas ruas.
Entre eles estão Cícero, Heitor e Sócrates e, quase ia me esquecendo, que tem
também o poeta Augusto. Quando a gente se junta é só risada. Meu guarda-roupa
se resume na roupa que visto e este chinelo que tenho em meus pés, roubado num
camelô. Minha santa mãezinha? Já se foi desta vida. Quando me lembro dela choro
a falta que ela me faz. Para ganhar alguns trocados faço artesanato e atuo no
comércio do pó. Tem gente que quer tapar minha boca com fita adesiva, mas eu
ainda estou bem vivo. Não sou um grande homem, mas não vou fechar a tramela da
minha boca. Foi isso que aprendi neste mundo da rua sem lei e também com minha
mãe. Eu sou Aquiles, aquele que reside lá nos bueiros das ruas sem nome e não é
qualquer coisa que me derruba. Só não posso mesmo é ser atingido nos calcanhares.
É defeito de fábrica! Sendo um grande guerreiro vivo na era tecnológica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário