sábado, 17 de junho de 2017

1933, francine


a neve já foi mais branca - pouco cinza,
é verdade, desde que te apregoaram uma
estrela. ainda tenho a pedra que carreguei
junto com um punhado de arroz e um laço
de nossa mãe. 1933 e já se dizia em erguer
os portões; em arrancar nossos dentes de
ouro e nossos pares de sapatos. depois era
só enterrar estrela por cima de estrela. desde
lá, os pianos temiam perder os dentes...
pensávamos nunca poder deitar uma pedra na
tampa de um querido túmulo - até eu, francine.
até eu.
mas em breve o trem irá esmagar a neve contra
os trilhos. e da janela deste vagão não entra
sequer uma magra réstia de luz: é possível que
tenham posto o sol dentro de um feio pijama.

Dom Jorge

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