Passava eu em frente a escola no exato momento em que o
corpo veio buscar a criança. Não segurou as mãos dela, não olhou nos olhos
dela, não carregou a mochila. O corpo só enxergava o celular em suas mãos.
Caminhei atrás do corpo e da criança devagar. A criança tossiu uma, duas, três
vezes. Peito cheio. Reclamou que lhe doía a garganta, disse que a mochila
estava pesada, pediu ajuda ao corpo. Mas aquele corpo não tinha ouvido. Duvido
até que tivesse olhos, boca, nariz e todos os outros órgãos que possuímos. Era
um corpo oco. Um corpo seco, que a criança conhecia pelo nome mãe.
Lázara Papandrea
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