sábado, 10 de junho de 2017

REFLEXÕES OCIOSAS SOBRE O OFÍCIO DE ESCREVER


Não gosto de fórmulas para a escrita. Elas nada mais são do que a condensação do consenso de determinada tendência que geralmente está no fim. Quando as fórmulas do (neo)classicismo estão consolidadas, surge o romantismo. Quando o romantismo se torna um novo parâmetro, caduca diante do realismo -- e assim por diante. Ainda mais no século XX em diante, quando clássicos convivem com românticos, realistas com surrealistas. Não dá pra exigir de Proust que siga as regras de Hemingway, nem de Hemingway que aprenda a escrever com Thomas Mann. Cada um têm seus jeito, ou melhor, seus jeitos -- pois um escritor não está condenado a ter somente uma voz, mas pode modular um coro de vozes (não raro dissonantes).
Dito isso, acrescento que 'genialidade' é uma invenção dos românticos e o escritor se faz menos pelo talento que pela determinação.
PS 1: Vá lá, se há algo parecido com inspiração (dessa vez não uma invenção dos românticos, mas que foi apropriada por eles como bandeira), ela é do domínio dos poetas, não dos romancistas. Não se escreve um 'Ulysses' ou 'Em busca do tempo perdido' com base em inspiração. No máximo um conto. E olhe lá.
PS 2: Foi um romântico, um ultrarromântico, que deu um tiro de misericórdia na inspiração: Edgar Allan Poe.
PS 3: Morta no século XIX, a inspiração ressurge sob novas formas no século XX, em especial no surrealismo.
PS 4: Resumindo: não há fórmulas.
PS 5: Cada escritor estipula suas próprias fórmulas, ou conjunto de fórmulas, como Fernando Pessoa, que inventou conjuntos distintos de fórmulas para cada um de seus heterônimos.
PS 6: Se quer se dedicar às letras, não perca tempo com tretas, embora tretas façam parte da vida literária.
PS 7: Feche o Facebook e vá ler um livro.

Otto Leopoldo Winck


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